Na medida em que se vai desenhando uma possível vitória de Lula nas eleições de outubro, aumentam as expectativas em relação ao seu programa de governo. Quando Lula faz a defesa dos governos ditatoriais de esquerda, como o da Nicarágua, e cada vez que fala em controle da imprensa, os democratas de todas as tendências tremem com a perspectiva da possível volta dele à presidência da República. Mas a maior ansiedade dos eleitores ainda decorre da incerteza em relação à política econômica. 

Nesta semana, a Folha de São Paulo publicou artigos dos economistas de quatro pré-candidatos à presidência, cabendo ao ex-ministro Guido Mantega apresentar a visão de Lula. O artigo de Mantega expõe o sucesso do primeiro governo Lula, apaga do calendário o período de Dilma, como se o Brasil tivesse congelado por criogenia, até que o demônio do neoliberalismo despertasse o país com Michel Temer e afundasse na desgraça de Bolsonaro. Ele analisa o aumento da pobreza e a retração da economia nos anos recentes, comparando com os governos petistas, como se não tivesse havido uma pandemia e uma crise econômica global.  

Na louvação do primeiro governo Lula, o ex-ministro lembra que foi realizado o maior superávit primário da história do Brasil, esquecendo que a medida foi duramente criticada pelos petistas como uma recaída neoliberal da dupla Palloci-Meireles que, felizmente, conduzia a política econômica. 

Nas propostas para um futuro governo, Mantega não diz se Lula vai apostar num superávit primário, menos ainda como poderia fazê-lo nas condições fiscais atuais, sufocadas por despesas primárias que cresceram ao longo dos governos petistas. Ignorando as restrições fiscais, Mantega defende um ousado plano de investimentos públicos e privados, e defende uma política monetária com a platitude de “manter a inflação sob controle, sem exagerar na dose de juros”. No artigo, ele ainda critica a reforma trabalhista e o teto de gastos, maldades neoliberais que seriam culpadas da crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19. O artigo termina defendendo a volta ao “social-desenvolvimentismo”, nome de fantasia da desastrosa “nova matriz econômica” que ele inventou quando era ministro de Dilma Rousseff. Os petistas dizem que Mantega não fala pelo candidato do PT, e só Lula define a política econômica. Então, por favor, fala, Lula!