As crianças vão pagar no futuro o enorme custo social da pandemia no Brasil. Esta é a conclusão do competente estudo do economista Ricardo Paes de Barros sobre o impacto intergeracional da pandemia do Covid-19. Em palestra promovida no Instituto de Estudos e Pesquisas para o Fortalecimento da Democracia – IEPfD, Paes de Barros analisou a relação entre os custos do isolamento social, com redução das atividades econômicas e o fechamento das escolas, e o impacto do vírus na população idosa. 

Mesmo com as medidas de isolamento social, a taxa de mortalidade por Covid foi alta e fortemente concentrada na população acima de 60 anos, provocando uma redução significativa na expectativa de vida dos idosos. Entretanto, se os idosos foram as maiores vítimas, o isolamento social, que ajudou a moderar a dimensão da mortalidade, teve um custo social na redução do emprego e da renda da população em idade ativa e na perda de aprendizado de jovens e crianças em idade escolar. Com dados do IBGE, Paes de Barros mostra que 12 milhões de trabalhadores perderam o emprego e a renda durante 2020 por conta do isolamento social, o que representaria um custo social agregado de R$ 223 bilhões. Embora ele critique duramente a falta de foco do Auxílio Emergencial, Paes e Barros mostra que a distribuição de R$ 230 bilhões pelo auxílio, ao longo do ano (analisando o ano 2020) teria mais do que compensado as perdas dos trabalhadores. 

Os idosos foram as grandes vítimas pela mortalidade e perda de tempo médio de vida. Os trabalhadores não tiveram perdas líquidas, mas a população em idade escolar teve o maior prejuízo durante a pandemia, pela redução da aprendizagem e seu efeito na vida futura das crianças e jovens. De acordo com Paes de Barros, em 2020, a ausência às aulas provocou uma queda média de 9 pontos na nota do SAEB, que mede o aprendizado dos estudantes brasileiros, atrasando a formação das crianças e jovens e, portanto, sua renda futura. Mais grave que isto, segundo o estudo, foi a enorme desigualdade de desempenho escolar entre os estudantes que puderam acompanhar as aulas remotas e aqueles que não tiveram acesso à internet e a ferramentas digitais, aprofundando a desigualdade entre pobres e ricos, entre estudantes de escolas públicas e de escolas particulares.