Uma guerra na Ucrânia, envolvendo a Rússia e a OTAN, seria um desastre mundial, um risco elevado de desestabilização do jogo de poder global e de rompimento dos limites da interdição de uso das armas nucleares, de consequências dramáticas. Algo parecido ocorreu na crise dos foguetes balísticos em Cuba, em 1962, em plena guerra fria, quando, na iminência de detonar a guerra atômica, o líder soviético Nikita Khrushchov e o presidente John Kennedy chegaram a um entendimento: a União Soviética retirou os foguetes de Cuba e os Estados Unidos concordaram em retirar uma rede de mísseis Júpiter de longo alcance localizada na Turquia, que ameaçava os soviéticos. A movimentação de tropas russas na fronteira com a Ucrânia pode ser um instrumento de barganha, para limitar a presença da OTAN nos países vizinhos. A principal exigência de Vladimir Putin, o compromisso da OTAN de não receber a Ucrânia como membro ativo da aliança militar, parecia até modesto, já que não significava alteração do status quo geopolítico. Mas, no seu último pronunciamento, Putin exigiu a retirada da OTAN de treze países do Leste Europeu próximos da Rússia, voltando ao padrão anterior a 1997, entre os quais se incluem Hungria, Polônia, Estônia, Letônia e Lituânia.
Mesmo sem entrar no mérito da reinvindicação geopolítica de Putin em relação à Ucrânia, existem motivos para desconfiar que os objetivos de Putin são bem mais ambiciosos, se forem considerados: 1º a invasão e anexação da Criméia, em 2014, que até então era parte da Ucrânia, com a intenção de “proteger os cidadãos russos da península”; 2º o apoio político e material da Rússia, incluindo suporte militar direito, às guerrilhas separatistas na parte oriental da Ucrânia, onde vive um grande contingente de russos e russófilos. Onde pode terminar a barganha de Putin? Para recorrer a um outro exemplo histórico, em 1938, Grã-Bretanha e França assinaram um acordo com Adolf Hitler, que o autorizava a invadir e anexar os Sudetos da Tchecoslováquia onde vivia um grande número de cidadãos de etnia alemã. Com a cessão dos Sudetos, os líderes europeus esperavam acalmar a fera, mas, como sabemos, a ocupação desta parte da Tchecoslováquia foi apenas o início da corrida desenfreada dos nazistas pelo Lebensraum (o espaço vital alemão). Que logo desencadeou a Segunda Guerra Mundial. Não se pode comparar Putin com o alucinado führer alemão, mas são evidentes as suas ambições na Ucrânia, talvez o seu principal objetivo neste conflito. O presidente Joe Biden se mostra inflexível, mas os países europeus da OTAN, com grande interdependência econômica com a Rússia, não parecem dispostos a medidas drásticas de ruptura. O mais provável é que os dois lados do conflito avancem em entendimentos diplomáticos, para evitar uma escalada de grandes proporções. Considerando o assustador potencial destrutivo dos adversários, uma guerra na Europa não terá vencedores. De qualquer modo, nunca se deve subestimar a insensatez humana.
Faço apenas duas ressalvas ao excelente artigo de Sérgio. 1) A principal concessão do acordo que encerrou a crise dos mísseis em Cuba foi o compromisso americano de não invadir a ilha, como parecia iminente para os cubanos. Os mísseis americanos na Turquia já estavam obsoletos, não mais constituíam ameaça (filme documentário americano sobre o caso revela isso). 2) A meu juízo, a principal preocupação de Putin é defensiva. Embora ele reclame mais, o pleito essencial é que a Ucrânia não entre na OTAN, como já fizeram todas as ex-repúblicas soviéticas ou aliadas russas do Leste Europeu, com exceção da Belarus. Abstraindo a personalidade de Putin, o fato é que a história da Rússia é a de um país invadido pelas potências ocidentais: pelo Sacro Império Romano-Germânico (vide Alexandre Nevski, de Eisenstein), por Napoleão, por Hitler, neste último caso, com o sacrifício de 20 milhões de pessoas. A humanidade deve à velha URSS a derrota do Nazismo. E à Europa convém manter boas relações com os russos, pelas razões de natureza econômica que todos conhecemos.
Concordo com a analise de Sergio para o momento, analisando uma foto. Mas a realidade é muito mais complexa. Ucrania e Russia eram um só pais por seculos. A Russia e o idioma russo nasceeam la. A URSS subatituiu a unidade imperial e criou a navao ucraniana, com milhoes se russo morando la. Nos anos 50, Kruxhev que era ucraniano mas “presidente” da URSS deu a Crimeira para a Ucrania, apesar de que quase toda populacao da peninsula fosse de russos. Tanto que depois da invasao russa para recuperar a Crimeia houve um plebiscito e a imensa maioria votou paea maneter a arbitraria gesto se força da Russia. Depois da guerra fria, nao ha razao para o ocidente cercar a Russia com armas em paises soberanos mas inimigos, por razoes corretas, da Ruasia. Da mesma forma que nao faria sentido a Russia colocar armas em Cuba ou Venezuela. O certo seria a Russia deixar claro que respeita a soberania dos paiaes vizinhos e o ocidente reconhecwr que nao hà razoes. Para armar os paises vizinhos da Russia. Mas a estupidez sempre surpreende e ha uma economia baseada no clima de guerra, o primeieo miniatro ingles precisa desviar a atencao das bebedeiras durante o periodo de isolamento pelo cobid e luto pela morte do marido da rainha, e o todo presidenre dos EUA precisa de uma guerra para se fortalecer internamente. O Putin também precisa desviar as arencoes da corrupcao e da falta de democracia. Tudo conspira para que todos precisem do clima de guerra, sem disparar tiro. Mas a realidade nao é controlavel. Basta um assassinato passional na fronteira para que o tiroteuo comece.
Muito sensato o artigo de Sergio Buarque, e sensatos também, e convincentes, os comentários de Clemente Rosas e Critóvam Buarque. Vendo o título do artigo lembrei de um trechinho de “Memórias do Subsolo” que reli recentemente: “Numa palavra, pode-se dizer tudo da história universal – tudo quanto possa ocorrer à imaginação mais exaltada. Só não se pode dizer o seguinte: que é sensata.” (Dostoiévski, 1864) E não é que quase dois séculos depois continuamos na mesma?! A frase e sua argumentação está na página 43 da novela de Fiódor Dostoiévski, Memórias do Subsolo (Ed.34, 2000).
Post scriptum só para dizer que acho exagero a frase de Clemente Rosas de que “a humanidade deve à velha URSS a derrota do nazismo”. Segundo um velho chavão que não está longe da realidade, a II Guerra Mundial foi ganha com homens russos e armas americanas.
Putin vai completar seus 70 anos e pensa na sua contribuição para a história da Rússia. Ele é o cabeça de uma clique de oligarcas que têm o interêsse comum de conservar o status quo. Esse status quo reside no fato de que a presença da Otan se tornou mais próxima nos últimos anos, e de fato, existe um temor inato contra uma invasão, assim como existe a cobiça territorial de uma nação imperialista. Da mesma forma como a presença maciça de tropas na fronteira já caracteriza uma agressão por parte da Rússia, a Ucrânia está longe de ser o pobre coitado. Houve vários acordos para resolver e pacificar o Donbass, e nenhum deles foi cumprido pela Ucrânia. Penso que se juntarmos todos os aspectos, Putin e seus comparsas querem resolver o problema da contenção da Otan e cimentar da melhor forma possível o status quo. Um ataque a Ucrânia, um país com 44 milhões de habitantes, com apenas 130.000 homens seria de uma infantilidade militar que os russos definitivamente não têm. Mas uma Ucränia finlandizada me parece um objetivo bastante palpável. E além disso, compromissos com Biden definitivamente serão melhores que com Trump, que paira como sombra sobre a política americana.
ha um belo filme na Netflix , Munich: no limiar da guerra que trata desse episódio em que Chamberlain , doente e ja bastante enfraquecido politicamente, faz uma ultima tentativa de acreditar em Hitler e manter a paz.