Ao contrário do que imaginávamos, as eleições do dia 2 de outubro transcorreram de forma pacífica, com poucos incidentes isolados e nenhum, de grande relevância. Este não foi o único equívoco de avaliação do nosso editorial da semana passada, que identificava a existência de um movimento de voto útil na reta final que poderia levar à vitória de Lula no primeiro turno. A tendência das pesquisas nos últimos dias e o grande número de declarações de personalidades de peso apoiando Lula pareciam sinalizar para uma onda de migração de voto de Ciro Gomes e Simone Tebet para o ex-presidente. O resultado foi na direção contrária. Se houve voto útil, foi favorável a Bolsonaro e, provavelmente, recebendo parte dos votos dos eleitores de Ciro Gomes que, estranhamente, tinha mais afinidade ideológica com o PT e com Lula. As pesquisas acertaram na projeção de votos para Lula, cerca de 48% dos votos válidos, mas subestimaram em muito o desempenho de Bolsonaro.
O surpreendente resultado alcançado por Bolsonaro no primeiro turno, levando para o segundo sufrágio com uma diferença de apenas cinco pontos percentuais para Lula, teve um gosto de vitória no campo bolsonarista. Bolsonaro entende que está no jogo, quer virar a vantagem e ganhar as eleições. Provavelmente por isto, não houve nenhum incidente, nenhuma provocação de fanáticos bolsonaristas. Depois que articulou o apoio de importantes governadores, eleitos ou não, como os três do Sudeste, Bolsonaro vem com força para o segundo turno. Se vencer, provavelmente vai tentar seguir a cartilha de sufocamento da democracia: aumento do número de ministros do STF, para conseguir maioria folgada, e cooptação do Congresso, contando agora com o maior partido e uma forte bancada favorável, para realizar mudanças constitucionais que reforçam o poder presidencial e reformas comportamentais reacionárias. Mas, no caso de sua derrota, podemos viver o que temíamos no editorial anterior: Bolsonaro retoma as denúncias de fraude, na tentativa de desmoralizar o sistema eleitoral, e mobiliza seus fanáticos militantes, e nem precisa muito, para provocar um clima de violência e comoção social que possa levar à anulação das eleições. Diante destas alternativas, ambas de alto risco para a democracia brasileiras, as forças democráticas devem atuar, com serenidade e firmeza, para impedir as provocações do bolsonarismo e suas tentativas de desestabilização política do Brasil.
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