1964. Em Santiago do Chile, Adão Pereira Nunes, Fernando Gasparian. Fernando Henrique Cardoso, Tiago de Mello, entre outros exilados. Alguns já então condenados, outros quase. E, naquela reunião tensa, Darcy Ribeiro contou como, no fim do Governo Jango, se sentiu com “poderes imperiais”. É que o presidente da República voara para o sul do País, acompanhado pelo chefe da Casa Militar, o general Assis Brasil. O ministro da Marinha pediu demissão. O ministro da Guerra, Jair Dantas Ribeiro, gravemente enfermo, estava no hospital. O que fazia de Darcy, chefe adjunto da Casa Militar, o comandante supremo das Forças Armadas. Ao grupo, declarou
? Foi quando tive a agradável sensação do poder absoluto.
Após o que Celso Furtado concluiu
? Agora está explicado porque estamos aqui.
Penso no episódio ao perceber que são outros, hoje, os detentores desse “Poder Imperial”. Como o Supremo; que, segundo a Constituição (art. 102), pode “I. Processar e julgar ações de inconstitucionalidade; II. Julgar, em recurso ordinário, habeas corpus e crimes políticos; III. Julgar, em recurso extraordinário, causas em única e última instância”. Só julgar. O que não o impede de ir muito além, eis a questão.
Agora, por exemplo, temos um caso de corrupção na Fundação Getúlio Vargas. A Polícia Federal apurou desvio de 4,7 milhões, beneficiando seus gestores. E o ministro Gilmar Mendes, em decisão monocrática (única Corte do mundo em que isso corre), simplesmente proibiu qualquer investigação. Como pode? O Supremo apenas julga, segundo a Constituição. Nem pode investigar (como no ilegal inquérito de A. Moraes), nem pode impedir investigação de polícia ou MP. É um escândalo, senhores. Mais um. A sagração de impunidade. Isso não é Democracia. Saudades de Darcy.
Parábola
O REI ESTÁ NU
Meraldo Zisman
Médico Psicoterapeuta.
“Perdeu, mané, não amola!”
A Roupa Nova do Rei é um conto de fadas de autoria do dinamarquês Hans Cristian Anderson, publicado em 1837. Começa assim: Era uma vez um bandido, fazendo-se passar por um alfaiate de terras distantes, diz a um determinado rei que poderia fazer uma roupa muito bonita e cara, mas que apenas as pessoas mais inteligentes e astutas poderiam vê-la. O rei, muito vaidoso, gostou da proposta e pediu ao bandido que fizesse uma roupa dessas para ele. O bandido recebeu vários baús cheios de riquezas, rolos de linha de ouro, seda e outros materiais raros, exigidos por ele para a confecção das roupas. Ele guardou todos os tesouros e ficou em seu tear, fingindo tecer fios invisíveis, que todas as pessoas alegavam ver, para não parecerem estúpidas. Até que um dia, o rei se cansou de esperar, e ele e seus ministros quiseram ver o progresso do “alfaiate”. Quando o falso tecelão mostrou a mesa vazia, o rei exclamou: “Que lindas vestes! Você fez um trabalho magnífico!”, muito embora, não visse nada além de uma mesa, pois, dizer que nada via seria admitir que não tinha a capacidade necessária para ser o rei. Os nobres ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho do bandido, nenhum deles querendo que achassem que era incompetente ou incapaz. O bandido garantiu que as roupas logo estariam completas, e o rei resolveu marcar uma grande festa na capital para que ele exibisse as vestes especiais, quando descesse a rampa do seu palácio do Planalto. O leitor deve lembrar-se dessa história, da sua própria infância, sobre dois espertalhões que enganavam o rei, dizendo irem vesti-lo com um traje finíssimo? No final, o rei sai todo pomposo desfilando pela rua, e todo mundo nota que ele está nu, mas ninguém tem coragem de falar. Enquanto o protagonista desfila pela Rampa, um menino grita: “O rei está nu”, e todos concluem que, se uma criança, com toda sua pureza, constatava que o monarca estava mesmo exposto em suas vergonhas, é que tudo naquele reino não passava de uma farsa. E o nosso mito majestático, desmoralizado, recolheu-se ao castelo e jamais saiu de lá até a morte. Quando ao “costureiro vigarista”, deu o fora com o ouro pago e não se soube mais dele, pois foi viver em um paraíso fiscal. E por pior: todos os ministros e assessores que não ousaram admitir que não havia roupa nenhuma caíram em desgraça e demitidos. Até aí, nenhuma novidade. Mas, graças a louvável esforço de pesquisa, técnicos em Ciências Carochinhas decidiram dizer não às convenções e apresentar a versão não autorizada desse embuste, desenvolvida segundo os conceitos vigentes na sociedade e ambiente de longínquo país latino-americano. Toda desgraça teve início quando um bandido chamado Frajola gritou pelo celular: “O rei está nu! O rei está nu!” Esqueceu que, no Brasil, nós todos “estamos nus”. Agora em 2022 a moral desta história toda é esta: A frase do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Roberto Barroso dita a um manifestante em Nova York, nos Estados Unidos, ao ser questionado sobre o código-fonte das urnas eletrônicas virou música. “Perdeu, mané, não amola!”, disse Barroso na última 3ª feira (15.nov.2022) ao ser abordado…