É evidente que a invasão destrutiva das instalações dos Três Poderes – Palácio do Planalto, Congresso Nacional e STF-Supremo Tribunal Federal – faz parte de uma conspiração para derrubar o governo legitimamente eleito. Vinte horas antes do ataque ao Palácio do Planalto, o Batalhão da Guarda Presidencial foi desmobilizado, tendo o GSI-Gabinete de Segurança Institucional dispensado o reforço da guarda, e os militares que estavam nas instalações teriam facilitado a entrada e a fuga dos delinquentes (segundo alguns depoimentos). Alguns dias antes, o recém-nomeado Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, o ex-ministro bolsonarista Anderson Torres, mudou todo o comando da Polícia Militar e viajou de férias para a Flórida, abandonando o posto. Os seus comandados esvaziaram a defesa da Esplanada quando milhares de bolsonaristas marchavam para a Praça dos Três Poderes e, seguramente, contando com informações sobre as suas intenções violentas e golpistas. Não se sabe exatamente o que pretendiam com a invasão e a destruição em larga escala das instalações, mas tudo indica que os delinquentes, movidos por ódio e ressentimento (além de financiamento), foram mesmo uma massa de manobra de uma rede de bolsonaristas infiltrada nas instituições militares.
A violência da invasão provocou, de imediato, o completo isolamento político dos extremistas, e abriu caminho para a intensificação das investigações sobre o movimento golpista que vinha amadurecendo nas portas dos quartéis. E a condenação dos eventos de 8 de janeiro por todas as forças sociais e políticas do Brasil, e pela comunidade de nações, principalmente Estados Unidos e Europa, esvazia as intenções golpistas do bolsonarismo e fortalece a democracia, o que foi demonstrado, de forma emblemática, com o presidente da República descendo a rampa do Palácio do Planalto ao lado dos governadores de todos os Estados brasileiros, e dos presidentes do Senado, da Câmara de Deputados e do STF. Entretanto, a democracia brasileira não estará consolidada, e a governabilidade continuará ameaçada, se não forem implementadas medidas, firmes mas cautelosas, para o desmonte da malha de conspiradores bolsonaristas que atua dentro das Forças Armadas, das Polícias Militares e do sistema de inteligência, e para a completa despolitização destas instituições de Estado.
Que situação complexa! Como enfrentar o fanatismo e a violência justamente dos que têm a força das armas? Espero que as instituições democráticas e a sociedade estejam estrategicamente no caminho certo do enfrentamento. abs