Há alguns anos começou-se uma forte discussão sobre cidades inteligentes (smart cities) principalmente devido aos projetos de investimento em bairros planejados que pululavam em todo o Brasil. Segundo a definição da União Europeia, coletada no site da FGV, “Smart Cities são sistemas de pessoas interagindo e usando energia, materiais, serviços e financiamento para catalisar o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida. Esses fluxos de interação são considerados inteligentes por fazer uso estratégico de infraestrutura e serviços e de informação e comunicação com planejamento e gestão urbana para dar resposta às necessidades sociais e econômicas da sociedade.”

A escola espanhola IESE Business School criou o Cities in Motion Index em que analisa 09 dimensões de uma cidade de forma a classificá-la como mais ou menos inteligente. Capital humano (desenvolvimento, atração e formação de talentos), coesão social (harmonia entre os diversos grupos que formam a sociedade), economia (PIB corrente e potencial), governança (qualidade das intervenções estatais), meio-ambiente (níveis de poluição, qualidade da água e outros indicadores), mobilidade e transporte (facilidade de movimento e acessibilidade a serviços públicos), planejamento urbano (infraestrutura de saúde, serviço de saneamento, política habitacional), internacionalização (divulgação estratégica da marca e do turismo) e tecnologia (uso de tecnologias da informação e comunicação).   

No ranking do IESE Cities in Motion de 2022 apenas uma cidade nordestina aparece listada ou estudada, Salvador, no 24° lugar regional (América Latina) e apenas no 169° lugar de 183 cidades classificadas. A cidade brasileira melhor classificada foi São Paulo que aparece no 6° lugar regional e 130° no ranking mundial. As cinco primeiras cidades latino-americanas do índice são Santiago, Buenos Aires, Cidade do México, Cidade do Panamá e Montevideu. Vale salientar que nenhuma das cidades latino-americanas pesquisadas atingiu notas superiores à média. 

A importância da cidade do Recife parece que vem reduzindo ano a ano. Percebe-se que é fundamental a internacionalização das cidades em um mundo, que apesar dos percalços como pandemia e guerras regionais, vem se tornando cada vez mais globalizado. O caminho da geopolítica mundial segue na direção dos investimentos em democracias estáveis, principalmente dos países desenvolvidos, que procurarão não mais ficar nas mãos de sistemas autocráticos como a China. Como exemplo, assistimos o capital europeu buscando o equilíbrio da democracia americana para seus investimentos em tecnologias de energia alternativa. 

É fundamental observar quais são as grandezas analisadas pela pesquisa do IESE. Sobram empregos no Porto Digital e não somos capazes de atrair mão-de-obra de fora, já que não conseguimos formar o volume necessário para ocupar as vagas disponíveis. O sistema de mobilidade e transporte de nossa região metropolitana é péssimo. Apesar dos investimentos no sistema de saúde pública nos últimos anos, a manutenção é insuficiente para dizer o mínimo. Recentemente o teto da unidade de trauma desabou no Hospital da Restauração devido a uma tubulação estourada. Poucos dias depois foi o teto do refeitório no mesmo prédio. 

A política habitacional inexiste. A prefeitura não possui prática mínima de política de dados. O site da ARIES (Agência Recife para Inovação e Estratégia) não diz nada, o da Secretaria de Habitação muito menos e o Portal de Dados Abertos da Prefeitura do Recife é uma piada.   O saneamento não evolui adequadamente. O turismo da cidade é da pior qualidade. Monumento maltratados e sujos, falta de segurança para o cidadão e para quem visita à cidade. Nos últimos dias um turista alemão foi vítima de latrocínio próximo à Basílica do Carmo. O centro do Recife, ponto máximo dos equipamentos turísticos da cidade, hoje faz vergonha a qualquer cidadão. Inúmeros prédios fechados, não há política efetiva de reabilitação do centro, não se vê segurança ostensiva que permita o cidadão voltar a utilizar o centro da cidade com tranquilidade. No Bairro do Recife, os investimentos privados realizados vêm da coragem de empreendedores que confiam na reabilitação da região. Parece que a cidade é administrada por um inoperante. 

Imagine uma corrida de automóveis, em que seu veículo é mais rápido a cada volta quando comparado a ele mesmo. Porém, está muito mais lento do que os concorrentes e levando voltas de vantagem a cada ano que passa. Essa é a sensação de quem mora na cidade do Recife e retorna de visita a cidades vizinhas, como Salvador, por exemplo. Temos uma região metropolitana imensa, com uma massa de mais de quatro milhões de habitantes, sedentos por emprego e investimentos. Recife é a capital e deveria ser a líder desse movimento de integração. Hoje o sol do futuro está em outros lugares. O do Recife está no passado.