Gandhi
“Tudo que vive é o teu próximo”.
Gandhi.
Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, disse que o brasileiro é cordial. Não no sentido afetivo. No senso da emotividade. Ou seja, o brasileiro é um apaixonado. Machado de Assis, nos seus contos e romances, acentuou o caráter cético do perfil dos brasileiros. Não desesperança. Mas baixa expectativa. Raimundo Faoro, em Os Donos do Poder, escreveu que o brasileiro é patrimonialista. Confunde patrimônio público com o particular. Inclusive joias?
Li, há pouco, livro sobre a cultura indiana. Focada na prática de Gandhi. As ideias de Gandhi articulam um tripé: coração (heart), cabeça (head) e mãos (hands). Significando que uma sociedade deve ser edificada na educação. E que a educação deve basear-se em dois pontos: valores humanos e esforço coletivo.
Segundo Gandhi, os valores humanos devem voltar-se para o respeito a sentimento do povo. No apelo mais profundo, de justiça. E esforço coletivo deve orientar-se na direção de valorizar o espaço público. De praticar a cidadania e de valorizar a democracia.
Estão, aí, alinhadas, emoção (heart), razão (head) e fazeres práticos (hands). No rumo de uma sociedade democrática, educada e solidária na visão coletiva.
O pensamento de Gandhi buscava situar a Índia em outro patamar civilizatório. No qual o homem não seria elemento externo à natureza. Mas será parte integrante do planeta, nos seus limites e possibilidades. Conforme o Global Footprint Network, os brasileiros consomem 2,9 hectares de recursos por pessoa\ano. Os norte-americanos, 7,2 hectares por pessoa\ano.
Em outubro de 2012, pesquisadores, reunidos em Estocolmo, na Semana Mundial da Água, discutiram a escassez do produto. Uma das conclusões foi a de que a humanidade teria que diminuir o consumo de carne em 25%. Porque, para produzir um quilo de carne, emprega-se quinze mil litros de água.
Essa discussão envolve segurança alimentar. E compreende também o conceito de felicidade. Para Gandhi, felicidade é “quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz estão em harmonia”. Somos felizes ?
A Organização Mundial para Agricultura e Comida – FAO distingue pobreza e desigualdade. Pobreza é situação de carência social: alimento, habitação, saúde. E desigualdade é a distância social no usufruto desses bens entre grupos sociais. O Brasil é o décimo país mais desigual do mundo.
Nesse contexto de imobilismo político pela mudança, a política, no Brasil, segundo a Transparência Internacional, alcançou grave nível de degradação na opinião pública. Para 81% dos brasileiros, Partidos políticos são corruptos ou muito corruptos. Por sua vez, o Congresso Nacional brasileiro é a segunda instituição mais desacreditada entre a população. Esses dados são de 2013, antes, portanto, do orçamento secreto.
Na verdade, o que se passa, no Brasil, é um largo descolamento entre a política institucional e a realidade da maioria do povo. Basta lembrar os aumento diferenciados de remuneração de parlamentares, de ministro do STF, enquanto o salário do funcionalismo público não recebe correção há mais de quatro anos.
Aparentemente, vivemos primórdios do final de um ciclo histórico. O presidente Lula deve encerrar sua longeva carreira política em 2026. E o ex-presidente Bolsonaro, enrolado nas joias sauditas, vai ter que responder à pergunta de comissão do Senado Federal: foi presente ou existe algo mais ? Algum chefe de Estado já recebeu presente sem cartão ?
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