O ensino médio no Brasil é um desastre completo, com alta taxa de abandono e evasão escolar e baixíssimo nível de aprendizado. Mais da metade da população brasileira de 25 anos ou mais (exatamente 51,2% ou 69,5 milhões de pessoas) não concluiu o ensino médio (PNAD 2019). Pior que isso, os que concluem o ensino médio não adquirem conhecimentos básicos nas matérias fundamentais. Apenas 5% dos concluintes nas escolas públicas alcançaram aprendizado adequado em matemática, e somente, 31% tiveram resultados satisfatórios em português (QEdu), evidenciando um completo despreparo dos jovens para a continuidade dos estudos, a entrada na universidade, ou para acesso ao mercado de trabalho. O mais grave é a enorme desproporção do aprendizado das escolas públicas em relação às privadas; nestas, 34% dos concluintes têm aprendizado adequado em matemática, percentual que sobe para 70% quando se trata de português. Esta diferença é determinante estrutural das desigualdades sociais do Brasil. Com este desempenho escolar, principalmente nas escolas públicas, os jovens brasileiros estão condenados ao fracasso, e o Brasil está perdendo talentos e pessoas qualificadas para a ajudar no desenvolvimento nacional. 

A reforma do ensino médio, aprovada há cerca de cinco anos, procurou reverter esta lamentável situação do ensino médio brasileiro, apostando na redução do abandono e da evasão escolar e na melhora da qualidade, de modo a elevar o aprendizado. Para isso, o novo modelo introduziu um sistema de ensino mais flexível e diversificado, elevando a carga horária e o associando à formação técnica, que prepara os jovens para o mercado de trabalho. Os principais especialistas em educação do Brasil, com destaque para Mozart Neves e Cristovam Buarque, apoiaram com entusiasmo a reforma, e rejeitam agora qualquer tentativa de revogação, embora reconheçam a necessidade de alguns ajustes. Vale lembrar que o novo modelo já está sendo implantado, embora de forma lenta e desigual, evidenciando eventuais imperfeições, embora o governo Bolsonaro não tenha feito nada para estimular e coordenar o processo. O Ministro Camilo Santana defendeu a reforma quando era governador do Ceará, mas está sofrendo agora forte pressão das corporações para revogá-la, utilizando-se, como argumento, o despreparo do sistema público de educação para a incorporação das mudanças. Parece um absurdo que, em vez de cobrar que os governos implementem as medidas que podem transformar o ensino médio no Brasil, as corporações pressionem para voltar ao modelo anacrônico e comprovadamente desastroso.