Dois jornalistas, dois amigos, dois companheiros de trabalho pelas Redações da vida acabam de tomar posse como membros da Academia Pernambucana de Letras: Ângelo Castelo Branco e Fábio Lucas. A escolha dos dois nomes para integrar o colegiado foi merecida e justa – ambos certamente agregarão valores à “Casa de Carneiro Vilela”. E ambos têm “espírito acadêmico” – o que não é meu caso.

Vai longe o tempo em que, almoçando no restaurante “Galo de Ouro”, com o escritor e jornalista Amílcar Dória Matos, a quem eu tentava “recrutar” para o quadro de editorialistas do Jornal do Commercio, então sob minha direção, ele me provocou: “Por que você não concorre a uma vaga na Academia Pernambucana de Letras? Há duas vagas a serem preenchidas…”

Minha resposta:

-Obrigado, amigo, mas não me interessa…

Não tenho o que se denomina de “espírito acadêmico”. Sou sertanejo e inibido, não tenho cara para pedir votos, especialmente se for para mim. E para lembrar Groucho Marx, “não frequento clube que me aceita como sócio”.

Ambos rimos, nossa amizade continuou, Amilcar não aceitou o convite que lhe fiz porque outros afazeres tomavam seu tempo. A Academia preencheu as duas vagas e continuou preenchendo outras, porque os “imortais” continuaram morrendo. Foram para lá nomes de diversos feitios e perfis – como acontece em todas as Academias, daqui e de fora, respeitadas ou não. E fiquei feliz quando acompanhei a eleição de outros amigos para os quadros da APL: Fátima Quintas, Amaury Medeiros, Abdias Moura e Rostand Paraíso, entre eles. Todos talentosos articulistas do Jornal do Commercio, a convite meu, a quem serei sempre grato pela inestimável colaboração, numa época em que lutávamos para reinserir no mercado um jornal que esteve ameaçado de desaparecer. Na verdade, sempre olhei para as academias com um “certo ar de desconfiança”, embora não houvesse nenhuma razão que justificasse isso. Verdade que sou da geração do “Pasquim”, um jornal de humor que foi crítico feroz dos Governos militares e, por extensão, de quem os apoiava. Críticas que se avolumaram quando os acadêmicos de então elegeram para a “imortalidade” o General Aurelio de Lira Tavares, vice-presidente do Sistema e “linha dura” do Regime, que na juventude cometeu alguns sonetos com o pseudônimo de “ADELITA”. O Pasquim não perdoou os acadêmicos e começou uma esculhambação na instituição como um todo. Dizia que alguns acadêmicos também faziam parte da “Academia Brasileira de Letras Protestadas”, pois haviam tomado empréstimos na rede bancária e esquecido de pagar. Falava que o próximo imortal seria o colunista Ibrahym Sued, notável pelas gafes que cometia e por algumas agressões ao vernáculo. Tudo galhofa, mas era filosofia do Pasquim criticar tudo que se ligasse, apoiasse ou demonstrasse simpatia por qualquer coisa ligada ao Sistema.

Os tempos eram outros. Na revista onde eu trabalhava, um dos nomes mais queridos e mais respeitados era o de Raymundo Magalhães Junior, membro da ABL e querido de todos nós, especialmente dos mais novos. (Anos depois, quando eu já não trabalhava na empresa, foram eleitos para a Academia Brasileira de Letras os jornalistas Cícero Sandroni, Carlos Heitor Cony, Murilo Melo Filho, Ledo Ivo e Arnaldo Niskier – todos, como eu, trabalhadores da Editora Bloch e de suas publicações. Todos merecedores das cadeiras que ocupam ou ocuparam. Minhas preces por um bom lugar para os que já se foram; meus respeitos e minha admiração para os que estão ativos e produtivos, nessa luta cansativa contra o tempo, já que um dia todos eles também serão “VAGA”.

Angelo Castelo Branco foi repórter do Jornal do Brasil na época em que aquele matutino, dirigido por Alberto Dines, era considerado o melhor do País, reunindo nomes como Carlos Castelo Branco (nenhum parentesco com o nosso Angelo), Fernando Gabeira, Carlos Lemos, José Carlos Oliveira, Carlos Drummond de Andrade, Armando Nogueira, Marcos de Castro, Nilson Laje e uma infinidade de grandes talentos. Angelo Castelo Branco foi também Secretário de Imprensa de dois governadores – Marco Maciel e Roberto Magalhães – o que demonstra sua capacidade de conviver com temperamentos tão opostos, e que certamente o ajudará na relação com seus pares na  APL.

De Fábio Lucas, estivemos mais próximos. No Jornal do Commercio quando Abdias Moura, um dos nossos editorialistas, pediu desligamento para cuidar de outros afazeres, inclusive de sua saúde, foi a Fábio que convidei para ocupar a vaga. Eu já conhecia seu texto, sua formação, seu talento e competência. Fabio Lucas aceitou meu convite, passou a escrever editoriais – tarefa que ele continua exercendo com talento, equilíbrio e maturidade, como compete a qualquer editorialista de qualquer Jornal.

Mas, por mais que eu me mantivesse afastado de qualquer possibilidade de disputar uma cadeira na APL, alguns amigos tentavam fazer isso por mim. Um deles foi Marcus Aciolly, grande poeta e grande caráter, que me convidou para um almoço e para me dizer que já “tinha 16 votos confirmados para o meu nome”, restando a mim falar com alguns acadêmicos com o quais não tinha maior afinidade, mas que sabia serem meus amigos. Mais uma vez agradeci o gesto, mais uma vez repeti a frase de Groucho Marx, mais uma vez a APL ficou no canto dela, assim como fiquei no meu. Chorei a morte de Marcus e a injustiça da Academia Brasileira de Letras de não tê-lo nos seus quadros.

Na sua única tentativa, incentivado por Domingos Proença, teve poucos votos, um deles do acadêmico Murilo Melo Filho, que honrou uma promessa antiga. A última tentativa de me fazer membro da APL,  foi de minha querida amiga Fátima Quintas, – que felizmente não prosperou. Mas, isso é uma história tão pequena que nem vale a pena contar. Meus votos de todo sucesso e de feliz convivência na APL para Angelo Castelo Branco e Fábio Lucas. Eles honrarão a história e o legado de seus antecessores.

Ivanildo Sampaio é jornalista