Há poucos dias, Ruy Castro, na sua coluna da “Folha de S.Paulo”, tratou da explosão de violência que atravessa o Brasil. Enumerou, o bom Ruy, mais de uma dúzia de exemplos recentes da agressividade que havia, em curto período, pipocado pelo nosso continental país. Simplesmente estarrecedor.

Se cá embaixo, em solo, em terra, os brasileiros não estão se entendendo e partindo para as vias de fato, nos céus cor de anil a coisa também anda feia. Apertem os cintos, estamos atravessando uma zona de turbulência ou, melhor, uma turbulência de zona. Para quem tem medo de voar, esse acréscimo de estresse ainda é pior. Já se foi o tempo de voos em céu de brigadeiro, com as máscaras só caindo em caso de despressurização da cabine. Agora, as máscaras da civilidade logo caem, e começa o pandemônio. O diabo, todos sabemos, é que não tem saída. Nada mais ilusório (embora repousante) do que as ditas saídas de um avião. Talvez se trancar no banheiro seja uma solução, mas o espaço ali nada tem de aéreo e é tão reduzido quanto o de algumas casas populares.

Matéria de “O Globo” no último dia 06 assegura-nos, numa manchete pesada como um jumbo: “Barracos entre passageiros crescem 92% no Brasil”. Só nos três primeiros meses de 2023 foram registrados 114 casos. “Ou seja, mais de um episódio por dia.” Mas esse brutal crescimento vem desde o ano passado: 585 casos. Estamos na rota da incivilidade.

Os nervos, assim na terra como nos céus, estão à flor da pele. Que flor que nada! Por um nada, grita-se, xinga-se, parte-se pra cima, e o barraco está armado. Aí ninguém segura a mãe de ninguém, e lá se vão, mal embarcadas, as ofendidas mães… Enfim, não chamem para a mesma viagem dois bicudos estressados: nem se beijam nem se bicam e, uma vez catapultados aos ares, ativam seus cérebros reptilianos…

Nem vou falar que a essas notícias celestes vem se juntar uma outra de igual e negativo teor: a fadiga dos pilotos brasileiros. Os céus estão infernais como nunca! Com medo ou sem medo, antes de viajar, será talvez recomendável o uso de um eficaz tranquilizante. Fica a sugestão para as companhias aéreas: em vez daqueles biscoitinhos insuportáveis, elas bem que podiam oferecer, logo à entrada da aeronave, um bom tranquilizante; sim, justamente naquela hora em que certas pessoas, por conta do medo, já acham que estão dando um passo para a eternidade e que, como no poema de Drummond, serão transformadas em notícia.

Passemos a palavra a psicólogos, psiquiatras, gestores, sociólogos e especialistas em geral. O Brasil está surtado. Como dizia o Barão de Itararé, “Há algo no ar além dos aviões de carreira”. Ódios, ressentimentos e recalques sobem aos céus. Oxalá os voos populares que o Governo Federal quer incentivar não piorem a situação, pois não será difícil antevermos uma luta de classes em pleno ar se a educação e a paciência ficarem em terra…