Nos sete meses de governo, o presidente Lula da Silva vem gastando energia e prestígio com uma política externa de alinhamento com a China e com a Rússia, disfarçado de neutralidade, não escondendo sua antipatia e desconfiança em relação aos Estados Unidos e à Europa. Misto de antiamericanismo primário e saudosismo do socialismo real e autoritário, que o tem levado a defender as ditaduras de esquerda da América Latina, Lula vinha assumindo bandeiras anacrônicas e desproporcionais ao real poder econômico e político do Brasil, e deixando de explorar o principal patrimônio político brasileiro: a Amazônia e o grande potencial de energia limpa que lhe permite liderar o debate sobre as mudanças climáticas. Nesta semana, finalmente, o presidente empalmou a bandeira do meio ambiente e da proteção das florestas tropicais, com a organização da Cúpula da Amazônia, apresentando-se, agora sim, como líder internacional no esforço para a redução da emissão de gases de efeito estufa. 

Os resultados concretos da Cúpula foram modestos e limitados a intenções e promessas de atuar para evitar o chamado “ponto de não retorno” no processo de desmatamento da floresta amazônica (tendo-se ainda rejeitado, com a participação do Brasil, a proposta do governo da Colômbia de suspensão da exploração de petróleo na região amazônica). Mesmo sem definir metas, a Declaração de Belém, assinada pelos participantes (países amazônicos e países da África e Ásia com grandes florestas tropicais), anunciou compromissos de cooperação no aproveitamento sustentável da biodiversidade, de defesa dos direitos humanos, combate ao crime organizado e inovação tecnológica, e de criação de um órgão equivalente ao IPCC- Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU. Além disso, a declaração cobrou dos países desenvolvidos a destinação de 300 bilhões de dólares anuais para apoiar o esforço das nações na proteção das florestas e na conservação da biodiversidade. 

Ainda é muito pouco, diante da urgência da degradação ambiental na Amazônia e das mudanças climáticas globais. Mas a Cúpula da Amazônia é um evento político e diplomático que mostra o Brasil assumindo a liderança na defesa das florestais tropicais e, desta forma, contribuindo para a descarbonização da economia mundial. O governo brasileiro anunciou a meta de desmatamento zero até 2030, o que terá um grande impacto, mesmo que não tenha sido acompanhado pelos outros países, na medida em que o Brasil detém cerca de 60% da floresta amazônica. Para confirmar esta liderança, contudo, o governo brasileiro precisa ainda resolver as divergências internas na política ambiental, particularmente no que diz respeito à exploração de petróleo na Foz do Amazonas.