“Pois se não se acredita em nada, se nada faz sentido e não se pode afirmar nenhum valor, então tudo é permitido e nada tem importância”.
Albert Camus.
Há que se buscar uma lógica. Humana. Um mínimo de racionalidade. Mudar o vocabulário feroz. E adotar uma perspectiva moral.
A situação atual indica três aspectos da realidade:
1 Fragmentação do poder de aglutinação dos Estados Unidos, da União Europeia e da ONU;
2 Mobilização do poder de retaliação de Israel;
3 Contexto de inépcia / inércia. Inépcia política e inércia em favor da paz. Como disse o embaixador Marcos Azambuja, não há projetos, nem astúcia.
Nesse contexto, o déficit de qualidade política é visível. O presidente Biden está na tibieza entre reeleição e paz. A União Europeia sente falta de Ângela Merkel. E, mais além, de Winston Churchill. Nos concílios diplomáticos, fica evidente a ausência de ânimo das lideranças maiores. E de imaginação criadora. Onde anda o espírito de Camp David? E do acordo de Oslo?
O que enxergamos é a prevalência do curto prazo sobre o longo prazo. De vingança sobre perdão. Ou seja, regredimos a Talião. O curto prazo está contaminado. Precisa ser redimensionado na lógica do tempo. E de mínimo consenso. O que une israelenses e palestinos? Dois Estados nacionais? Por que não convergir esforços para fixar objetivos políticos de longo prazo?
Ninguém viabiliza entendimento dispensando parcelas de espaço próprias de negociação. O que temos, hoje? Além de destruição e tensão? E o que teremos, amanhã, se não for mudado o curso do conflito? Uma guerra a cada década? O dirigente israelense pode ter ganho um argumento para sair da crise interna em que está metido. Daí sua fortuna bélica. Mas, o custo social é muito alto. Também para Israel.
Ninguém constrói nada olhando para trás. O mundo precisa escapar desse equívoco estratégico. Por duas razões: porque retaliação inocula o ódio que vem do passado. Nas gerações seguintes. E porque elimina a chance de construir o novo no futuro. Simples assim. O mais é enfeitar interesses localizados. Sem sintonia com a aragem branda e esperançosa que cerca os apertos de mão.
O que é próprio do humano não é valor irrisório. Não pode ser exposto a ações terroristas. Que devem ser enfrentadas por ação coordenada da comunidade internacional. Nem pode relegado a reles mercadoria. Submetida a sede, fome e desassistência médica. Fale o poeta, quando os senhores do mundo calaram.
“De limpeza e claridade
É a paisagem defronte.
Tão limpa que se dissolve
A linha do horizonte.
As paisagens muito claras
Não são paisagens, são lentes.
São íris, sol, aguaverde
Ou claridade somente”.
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