No ano de 2023 o Brasil saiu da UTI e voltou a respirar sem aparelho. Ao longo do ano e, apesar dos escorregões do alinhamento ideológico do presidente Lula da Silva, o Brasil restaurou as instituições democráticas, reassumiu seus compromissos ambientais e recuperou a respeitabilidade internacional. Ao mesmo tempo, o Brasil conseguiu escapar do canto de sereia do populismo fiscal do presidente Lula e do seu partido, ávidos para expandir os gastos públicos num agrado imediato à sociedade às custas do futuro. O mérito é de Lula, que escolheu o seu Ministro da Fazenda e, mesmo incomodado, apoiou a política macroeconômica e as reformas propostas por Fernando Haddad. Mas, o Brasil deve, antes de tudo, a Haddad os grandes avanços deste ano na economia, com a construção de novos fundamentos macroeconômicos, desfazendo totalmente o ceticismo dos agentes econômicos quando da indicação do novo ministro da Fazenda. Havia um temor de que Haddad não fosse um bom negociador político, qualidade indispensável para conduzir a economia com o Congresso polarizado, e que seria marionete nas mãos de um presidente que resiste ao controle de gastos. Fala-se que Lula seria, de fato, o ministro da Fazenda. Felizmente, Haddad demonstrou que o ceticismo era totalmente infundado.
Ao longo deste ano, com a sua liderança, o governo conseguiu aprovar um novo arcabouço fiscal para substituir o já desmoralizado Teto de Gastos, recuperando a credibilidade da política macroeconômica e a confiança dos agentes econômicos na economia brasileira. O ministro negociou e conseguiu aprovar a reforma tributária, uma conquista fundamental para o futuro da economia brasileira, mesmo com as diversas exceções introduzidas. Embora, vez ou outra, Haddad criticasse o conservadorismo do Banco Central na definição da taxa de juros, ele sabia que o rigor monetário no controle da inflação completava as suas iniciativas na área fiscal, permitindo comemorar agora, quando completa um ano de governo, os resultados positivos da economia. O ano termina com um déficit primário elevado (R$ 170 bilhões), mas com a inflação próxima da meta, crescimento do PIB-Produto Interno Bruto acima das expectativas, redução da taxa de juros, declínio do desemprego e elevação da nota de crédito do Brasil pelas agências de classificação de risco, sinalização importante para aumento dos investimentos.
Os brasileiros devem comemorar os resultados econômicos de 2023 e podem ser otimistas em relação ao desempenho econômico de 2024. Mas, existem algumas incertezas (externas e internas, econômicas e políticas) e muitos desafios à gestão macroeconômica do Ministro Haddad.
O Editorial da “Será?” resolveu respirar um pouco de otimismo. Minha avaliação da situação fiscal e da badalada reforma tributária não é tão positiva. Mas é verdade que quase todos os indicadores resultaram melhor que as previsões e melhores do que estavam no fim de 2022: inflação, taxa de crescimento da economia, emprego, balança comercial, juros (taxa SELIC), taxa de câmbio. A ilustração é ruim, pois eu não vi Lula ajudando Fernando Haddad. É foto antiga, pois agora Haddad está magro e grisalho de tanto esforço para driblar fogo amigo e apagar fogo inimigo. O “mercado do fim de 2022” agora se revela agora como tendo sido pessimista. Pois o risco é que o mercado do fim de 2023 se revelará no fim de 2024 como tendo sido otimista .