Lula e a esquerda no Brasil

Lula e a esquerda no Brasil

A esquerda está perplexa. E a extrema direita está mobilizada. Este é um quase consenso entre analistas. Mas, antes de entrar na questão, relembremos Norberto Bobbio (Direita e Esquerda, Editora UNESP, 1994, São Paulo).

Para o autor italiano, num universo político tão complexo, é insuficiente a visão dicotômica entre direita e esquerda. A história parece dar razão a ele. Porque, depois da revolução comunista de 1917 e da consolidação do capitalismo puro de Reagan e Tatcher, em 1980, a social-democracia brilhou no céu da Europa. Na Alemanha, Suécia, Áustria. Em vários tons de organização da economia, de presença do Estado. Sem perder o senso democrático. De soberania popular. E respeito à lei. Mas as luzes social-democratas se apagaram. No colapso da crise fiscal dos anos 60.

A dicotomia tem força. Porque, desde a Revolução Francesa (1789), a Assembleia Francesa dividia-se em jacobinos (revolucionários), à esquerda, e girondinos (republicanos), à direita. Entre os revolucionários, estavam Marat e Robespierre. Entre os girondinos, estavam Danton e Desmoulins. Conforme escreve Carlos Lagorio em Pensar la Modernidad (Editorial Biblos, Buenos Aires, 2012).

Em momentos agudos, como o que vivemos atualmente, acentua-se a bifurcação. No cenário mundial, é ampliada a presença de lideranças autoritárias de extrema direita: Trump, Netanyahu, Milei e Bolsonaro. E de esquerda (?), Putin. Além de Xi Jinping, assumindo o modelo de um regime (comunista) e dois sistemas (capitalista e estatista). 

E a social-democracia ocupa parcos espaços na Europa nórdica.

No Brasil, Lula é uma liderança que parece encontrar seu ocaso. E prepara Fernando Haddad para substituí-lo. De outro lado, Bolsonaro, em período de congelamento, treina o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para o jogo.

Na verdade, é importante prestar atenção à realidade por trás dos véus ideológicos: o que está em disputa, além de rótulos e nomes, é a luta um polo de centro democrático, social-democrata, e um polo de extrema direita, autoritário. Em 2022, venceu a esquerda com ajuda do centro. E, em 2026 ?

A esquerda.

Quem venceu a eleição de 2022 não foi o PT. Nem Lula. Foi um conjunto de forças políticas que se opunha a Bolsonaro. Com a promessa de Lula de fazer um governo de frente ampla. Não está fazendo. E pode pagar caro por isso. Em 2026. Este é o primeiro erro de Lula.

O segundo erro de Lula é uma sobreposição ideológica. Ele coloca Maduro e Putin acima do conceito de democracia. Isto é imperdoável.

O terceiro erro é a indefinição sobre a direção da economia. E o velho dilema, que sempre assaltou o PT: economia de mercado ou capitalismo de Estado ? Por que a Vale do Rio Doce tem que obedecer ao governo ?

O quarto erro de Lula é a falta de uma visão estratégica. Como compatibilizar a política de sustentabilidade e acertos decorrentes de objetivos internacionais, como os do BRICS ?

A direita.

A extrema direita continua mobilizada. O evento da avenida Paulista mostrou isto. Com fotos e fatos.

Segundo, a extrema direita prossegue atuando na pauta de costumes. Acentuando um mote arriscado: o fundamentalismo religioso. Como o discurso de Michele Bolsonaro, na Paulista. O Brasil não quer uma teocracia de aiatolás.

Terceiro, a extrema direita avança na coordenação do eixo Executivo / Legislativo. Influindo em decisões do governo. E obtendo ganhos de recursos e de espaço político.

Quarto, a extrema direita permanece articulada com núcleos de militares. Inconformados com a frustração de 8 de janeiro.

Não há receita. Há valores e graus de eficiência. Entre os valores, a democracia. Não dá para comparar Putin e Netanyahu com o presidente Macron. Quanto à eficiência, é urgente cobrar resultados. Para atender as necessidades das famílias que passam fome. E não tem onde dormir. O que anda fazendo o gestor do bolsa família?