Demografia

Demografia

O bônus demográfico é um período na história de um país em que a população apta para o trabalho — entre 15 e 64 anos — é maior e cresce mais do que a população inativa (crianças e idosos). Trata-se de uma fase em que a força de trabalho (população ativa), ao produzir bens e serviços e pagar impostos, sustenta toda a sociedade. No Brasil, o bônus demográfico atingiu seu auge em 2025, a partir de quando a população ativa tende a crescer menos do que a inativa, iniciando um movimento de aumento da taxa de dependência(relação entre inativos e ativos).
De acordo com projeções do IBGE, nos próximos dez anos a PIA — População em Idade Ativa — deverá crescer cerca de 0,16% ao ano, enquanto os brasileiros inativos (crianças e idosos) aumentarão em torno de 0,22%.

Há um aspecto aparentemente positivo nessa relação, mas bastante enganador: o declínio do desemprego, mesmo com o baixo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), já que a oferta de mão de obra aumenta muito pouco. O Brasil apresenta hoje uma taxa de desemprego historicamente baixa, de 3,5%, o menor valor desde 2012 — embora a economia continue crescendo em ritmo reduzido, em torno de 1% ao ano (de 2012 a 2024, período marcado por crises como a do governo Dilma Rousseff e a pandemia de Covid-19).
Com quase pleno emprego, diversos setores da economia já reclamam da escassez de trabalhadores, resultado da lenta evolução da PIA e da estabilização da taxa de ocupação (percentual da PIA inserida no mercado de trabalho). De 2015 a 2025, a PIA cresceu, em média, 0,87% ao ano (IPEADATA), e a taxa de ocupação se manteve em torno de 62%, de modo que a PEA — População Economicamente Ativa — cresceu apenas 0,79% ao ano. Ou seja, o número de novos brasileiros ingressando anualmente no mercado de trabalho foi muito baixo e tende a ser insuficiente caso a economia volte a crescer em ritmo mais acelerado. Qualquer aumento expressivo do PIB poderá gerar estrangulamentos no mercado de trabalho — a menos que seja acompanhado por elevação da produtividade.

Dessa forma, um novo ciclo de crescimento econômico precisa combinar aumento dos investimentos com elevação da produtividade do trabalho — que se mantém praticamente estagnada nas últimas décadas, com exceção do setor agropecuário. A economia não poderá crescer impulsionada apenas pelo consumo, como aposta o governo Lula da Silva, se a taxa de investimentos permanecer em torno de modestos 17% do PIB (Formação Bruta de Capital Fixo), muito abaixo dos 30,9% da Coreia do Sul e até dos 22,2% do Chile — sem mencionar os 41,1% da China.
Contudo, considerando a lenta evolução da PIA, sem aumento de produtividade, qualquer expansão dos investimentos enfrentará escassez de mão de obra, comprometendo a viabilidade dos negócios. No futuro imediato, o quadro se agrava com o fim do bônus demográfico.
Nos próximos dez anos (2025–2035), segundo o IBGE, a PIA crescerá a taxas de apenas 0,16% ao ano, iniciando um movimento de declínio a partir de 2035. Isso significa que, mantida a relação PEA/PIA em torno de 62%, o problema do Brasil deixará de ser o desemprego e passará a ser a falta de trabalhadores, tanto mais grave quanto maior for a intenção de investir.

É verdade que, neste mesmo período, o país deverá assistir à aceleração tecnológica, com difusão de inovações capazes de elevar a produtividade e evitar o estrangulamento do mercado de trabalho. Entretanto, o Brasil enfrenta outro obstáculo: a deficiência estrutural na qualificação da força de trabalho.
O aumento da produtividade depende de trabalhadores qualificados para operar equipamentos e processos cada vez mais sofisticados. As novas tecnologias poderiam compensar o baixo crescimento da população em idade ativa, mas não se realizam plenamente porque a maioria dos trabalhadores apresenta baixo nível educacional e escassez de habilidades técnicas.

O Brasil pode, assim, viver um paradoxo preocupante: carência de mão de obra qualificada para atender à nova economia de média e alta produtividade e, simultaneamente, desemprego decorrente da inadequação do mercado às exigências tecnológicas. O cenário mais provável, porém, é o de que a falta de qualificação continue inibindo o aumento da produtividade, limitando o crescimento econômico e deixando o país para trás na competição internacional.

Dois fatores estruturais definem o futuro da economia brasileira e têm relação direta com o mercado de trabalho: a evolução demográfica — com o declínio da PIA — e o nível de qualificação profissional. Não há muito o que fazer para alterar o primeiro, a não ser estimular a imigração de jovens, medida difícil e pouco viável. Mas os governos podem e devem promover uma profunda transformação na formação profissional da população em idade ativa, preparando trabalhadores para os investimentos em novas tecnologias.
Assim, será possível elevar a produtividade, impulsionar o crescimento econômico e gerar empregos de melhor qualidade e salários mais altos.

O maior estrangulamento da economia brasileira reside, portanto, na baixa formação profissional, consequência direta da deficiente qualidade da educação básica.
Como preparar brasileiros para lidar com novas tecnologias se grande parte dos jovens que concluem (quando concluem) o ensino médio não tem proficiência em matemática e apresenta domínio limitado do português?
Para enfrentar esse passivo estrutural, o Brasil precisa de uma grande mobilização nacional — de recursos financeiros, humanos e institucionais —, envolvendo as três esferas de governo e a sociedade, a fim de promover um salto na educação e uma rápida qualificação da força de trabalho.
Essa é uma prioridade estratégica e urgente. A evolução demográfica e a revolução tecnológica não esperarão por melhorias graduais.