Editorial

A incontinência verbal de Jair Bolsonaro, com suas repetidas agressões ao bom senso e à civilidade, cria um clima inquietante de discórdia e conflito na sociedade brasileira, e está maculando a imagem externa do Brasil, tudo ao contrário do que se esperaria de um Presidente da República. No mais recente dos seus pronunciamentos arrogantes e desrespeitosos, ele agrediu a memória do pai do presidente da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, militante morto pela repressão da ditadura militar, ultrapassando todos os limites da decência e do respeito humano, e provocando uma onda de indignação na sociedade. Quando, na defensiva, depois de duras e amplas críticas às suas afirmações absurdas, ele respondeu – “Eu sou assim” – demonstrou, mais uma vez, que ainda não se deu conta do cargo a que foi alçado, sabe-se lá por qual sarcasmo da História. Não entendeu ainda que não é mais apenas aquele insignificante e histriônico deputado do “baixo clero”. Em vez de propagar ódio e desprezo, como Bolsonaro tem feito reiteradamente, um chefe de Estado tem a responsabilidade de reduzir tensões e conflitos, negociar e construir consensos. Pior que seu descontrole verbal, contudo, são algumas graves iniciativas e sinalizações, como o desrespeito ambiental, a proposta de expansão do garimpo nas reservas indígenas, a desmoralização da política externa, com a grotesca indicação de seu filho Eduardo Bolsonaro para a embaixada brasileira em Washington. O mais recente tropeço de Bolsonaro foi o cancelamento de audiência agendada com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da França, numa clara demonstração de desinteresse pelo acordo MERCOSUL-União Européia, ao mesmo tempo em que mostrava a preferência por um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Se não é possível calar a boca de Jair, faz-se necessária uma reação da sociedade contra as absurdas iniciativas e decisões do Presidente.