Mais um ano se foi. Lembro, aqui, poema eterno (Feliz Ano Novo) de Antônio Carlos Secchin: “Finalmente comprará sua mansão/ Será engolida pela fome de um tufão./ Viverá uma intensa fantasia/ Desfeita a meia hora do meio-dia./ Encontrará o amor de sua vida/ Inerte, num esquife de partida./ Ganhará muito dinheiro/ Para a doença desgastá-lo por inteiro./Chegará sorrindo ao Céu sonhado/ Mas é domingo. O portão está fechado”. Para suavizar o Destino, esse Deus sem nome, segue Drummond, no seu belo Passagem do Ano, que resumo: “O último dia do ano/ Não é o último dia do tempo/ Outros dias virão…/ O último dia do tempo/ Não é o último dia de tudo/ Fica sempre uma franja de vida”. Uma vida que devemos celebrar por ser a que vivemos. Com tudo nela que seja permanente. Mas também, salve Carlos Pena (A Solidão e sua Porta), o “insolvente e provisório”. Por isso, nas alvíssaras de um novo ano, cumprimento respeitosamente o amigo leitor. E escrevo, sem maiores preocupações, pobres versos de cantoria de pé-de-parede:
Pra viver um pouco mais/ Basta só mudar de nome/ Atenção nos exageros/ Cuidado com o que se come/ A gordura é um anti-parto/ Em vez de morrer de enfarto/ É melhor morrer de fome.
Se essa vida nos consome/ Vai charuto na fogueira/ Coca-cola nunca mais/ Caminhada na esteira/ Exercício nem me fale/ Problema é que isso vale/ Só até segunda feira.
Não está pra brincadeira/ Dinheiro é bom segurar/ Se um amigo lhe pedir/ Sugiro não emprestar/ O dinheiro sobe e desce/ Quem deve desaparece/ Ou se esquece de pagar.
Torcedor deve avisar/ Que time é coisa complexa/ O filho sofre no campo/ A filha fica perplexa/ Seleção outra não tem/ E se for escolher bem/ Só pode ser mesmo HEXA.
A caminhada é inflexa/ Prefiro mar, sol e sal./ O verão é coisa séria/ Preferência nacional/ E é bom aproveitar/ Ler mais tarde seu jornal/ Ao leitor deixo esse aviso/ Por favor não leve a mal/ Digo logo até mais ver/ Pois voltar a escrever/ Só depois do Carnaval.
P.S. Bons anos a todos. Com o coração. E agora, com licença que o mar me espera. O Mar Tenebroso, dos navegadores antigos. Mar Salgado, em palavras de Pessoa. Demônio de Mar, segundo Baudelaire. O mar quente de nosso Nordeste. De Pernambuco. E volto a essas páginas só depois do Carnaval. Até lá, pois. Se Deus permitir, é claro.
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