Editorial

Como ocorre quase todas as manhãs, há duas semanas, o presidente da República apareceu na saída do Palácio do Planalto para cumprimentar as pessoas que se acumulavam no portão. Alguns jornalistas esperavam também pelo presidente com uma pergunta incômoda: o baixo crescimento da economia do ano passado. O presidente ignorou os jornalistas e se dirigiu aos seus admiradores, deixando passar um humorista que, saindo de um carro oficial e vestindo a faixa presidencial, se dirigiu aos jornalistas, cobrando perguntas e distribuindo bananas. Depois, rindo e fazendo ironias com os jornalistas, o presidente e o palhaço se abraçaram e se confundiram no palhaço-presidente. No final do encontro, o palhaço-presidente, imitando o presidente, fez uma saudação altamente machista: ”Deus acima de tudo, e eu acima de todas”. A cena de deboche com a imprensa que faz a cobertura do Palácio é um completo desrespeito à imprensa, à democracia e à sociedade brasileira. Agindo dessa forma, Bolsonaro demonstra que, no fundo, considera que o palhaço é o povo brasileiro. Depois dessa cena grotesca, o presidente-palhaço continuou agredindo o bom-senso e desrespeitando os brasileiros, em cada cena e cada pronunciamento. Enquanto o ministro da Saúde trabalhava, com muita competência e transparência, para preparar o Brasil para a propagação do Covid-19, Bolsonaro, com suspeita de contágio, afirmava que era tudo uma histeria, e se abraçava com um grupo de apoiadores numa manifestação de rua. Mais do que deboche, temos aí a patifaria, um crime sanitário. E com seus próprios simpatizantes. Os brasileiros começaram a perceber que o presidente-palhaço não pode governar um país complexo como o Brasil, menos ainda em uma grave crise sanitária e econômica. O panelaço desta semana pode ter sido o primeiro sinal.