Art Oyster Gustave Caillebotte A Young Man at His Window – 16″ x 24″.

 

Uma quarta feira prosaica. Nublada. Nada recifense. Insisto em concluir os planos de aula do semestre. Estou no computer. São dez horas de uma manhã inodora.

De repente, a tela avisa que há mensagem. Paro. Abro a caixa de entrada. Vem de Rafaella, minha nora. Informando que acaba de tomar a vacina contra o covid. Dito assim, parece que o dia continuou o mesmo. Não. O dia se iluminou. Nuvens foram embora. Uma fresta azul surgiu no céu. E um facho de sol iluminou a monotonia do cinza.

Não se trata apenas do fato de Rafaella ter tomado a vacina. Acontece que ela é médica. Trabalha em duas instituições. Uma, hospitalar. Contato direto com ambiente de risco. A outra, uma indústria. Interagindo com dezenas de pessoas.

Rafaella é trabalhadeira. Não só como profissional. Mas, um dia, chegando a sua casa, encontrei-a pintando o quarto de Valentina, sua filha, minha neta. E se dedica com esforço continuado à ciência que abraçou. Outro dia, me disse que estava fazendo curso de especialização em uma das áreas da medicina.

Fiquei confortado. Por ela. Pela filha. Por meu filho, Tiago. Pelas famílias pernambucanas. Pelo Brasil. Tão estiolado. Tão afrontado. Tão pouco cuidado na pandemia. Não fora a experiência notável do SUS, não sei o que seria da população. À mercê da ignorância e da incompetência.

Mas, voltemos à minha manhã de quarta-feira. Agora, reinaugurada. Em outras bases. Revigoradas. Convidei Conceição para almoçar. Fomos à praça de Casa Forte. No carro, botei Piazzolla. Interpretado pelo violoncelista chinês, Yo Yo Ma. Comemos uma tilápia. E, para não perder o hábito, fiz uma escala na livraria.

Uma olhada aqui, outra ali. Descubro o Ensaio Autobiográfico, de Jorge Luís Borges. Pronto. O dia está completo. Compra feita, tenho a Argentina em corpo e alma. Nos olhos, nos ouvidos e na mente. Hoje, transportei-me a Buenos Aires. Só falta ver Francisco. Mas, este, presta serviço além do pampa.