O que identifica um país no imaginário popular? Sua cultura. Seu jeito de ser. Seus produtos. Seu estilo. Seus fazeres.
Por exemplo: a gastronomia dos franceses, o designe dos italianos, o sushi dos japoneses, a filosofia dos alemães, o pragmatismo dos norte-americanos, a melancolia dos russos, o senso percussivo dos africanos. E o espírito lúdico dos brasileiros
Na ida, a impressão digital de um povo. Na volta, sua percepção valorativa pelos outros povos. Isto, portanto, tem valor de mercado. No turismo, nas galerias de arte, nos eventos datados de rua, nas salas de concerto. Ou seja, há uma fatia do PIB de cada país que corresponde ao conjunto de sua produção cultural.
Na prática, quanto mais forte for o talento musical, a criatividade gastronômica, a vocação artística da população nacional, maior sua capacidade para gerar beleza. E, por baixo dela, mais emprego, renda, comércio, tecnologia. Mais PIB.
No final do século 20, as atividades culturais foram se tornando mais extensas. Mais articuladas tecnologicamente. Mais adensadas no mercado. Mais enlaçadas entre si. Por exemplo, num grande espetáculo, como o Rock in Rio, estão presentes os músicos, os intérpretes, a iluminação, a gravação, o som, a gestão comercial, o marketing, especialistas em Direito, suporte médico, engenharia de tráfego.
Pois bem. O conjunto dessas atividades passou a compor o que se chama Economia Criativa. O Observatório Itaú Cultural acaba de divulgar resultado de pesquisa sobre o PIB cultural brasileiro. Compreendendo salários de funcionários, lucros de empresas, rendimentos e operações com base na lei Rouanet, para o ano de 2020. A produção artística da cultura brasileira, no conceito de economia criativa, alcançou R$ 230 bilhões. Correspondendo a 3,11% do PIB brasileiro.
Para se ter ideia da relevância do número, anote-se a participação da indústria automotiva nacional no PIB, naquele ano: 2,06%. Ou seja, arte gera mais riqueza do que automóvel. Confirmando o que a estatística vem mostrando: o setor terciário moderno tem maior participação no PIB (70%) do que o setor industrial (25%).
E há mais três valores intangíveis, qualitativos, que se agregam à cultura. São eles:
1 Conhecimento, cognitivo e não cognitivo, e no seu âmbito, tecnologia;
2 Sustentabilidade, pelo retorno que dá nas dimensões econômica, social e ambiental, não poluentes;
3 Papel estratégico, no domínio do soft power, acentuando a inserção de valores influentes sobre a formação da imagem do país.
Recorde-se, aqui, a importância do cinema americano, no pós-guerra, na criação de imagem soft do país. A energia do povo russo na literatura de Dostoievski, no cello de Rostropovich, no balé de Nureiev, nas partituras de Rachmaninoff. O reconhecimento mundial da mais afinada orquestra, a Filarmônica de Berlim.
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