No balanço do primeiro ano do Governo Lula da Silva, o Ministro da Fazenda reclamou que o PT-Partido dos Trabalhadores elege Lula pelo sucesso da economia e o acusa de austericida, conceito semanticamente errado para caracterizar a sua gestão focada na austeridade da política macroeconômica. “A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula. E eu sou austericida”, falou Haddad. O ministro quis dizer que os seus críticos tentam separar o desempenho do governo na economia – crescimento superando as expectativas, desemprego caindo, inflação dentro da meta, recuperação no ranking internacional de risco – da política macroeconômica que ele conduziu, incluindo a responsabilidade fiscal. Gleisi Hoffmann, presidente do PT e maior crítica de Haddad, comemora o bom desempenho econômico, ao mesmo tempo em que rejeita o controle de gastos, critica até mesmo o arcabouço fiscal que permite o aumento real dos gastos desde que haja elevação da receita. Gleisi e o PT tratam os resultados econômicos positivos como se fossem um milagre do presidente Lula, independente da política macroeconômica e da confiança que o rigor fiscal passou aos agentes econômicos.
A rigor, austericida é aquele que mata a austeridade e não a pessoa que tem uma postura austera, como Haddad tem demonstrado na política macroeconômica. Portanto, austericidas são Gleisi Hoffmann e o PT, que tentam, por todos os meios, eliminar a austeridade da política do governo Lula. A última Resolução do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, publicada no final do ano passado, afirmava que o “Brasil precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC ‘independente’ e do austericídio fiscal”. E Gleisi Hoffmann insiste na tese de que o governo deve apostar num déficit público porque, segundo ela, é um instrumento de promoção do crescimento da economia.
As divergências públicas entre Gleisi Hoffmann e Fernando Haddad ao longo de todo o ano tem se intensificado na medida em que o ministro da Fazenda ganha prestígio e reconhecimento público. Neste primeiro ano, o ministro Haddad foi o grande destaque do governo, ganhando prestígio, passando confiança na gestão macroeconômica e entregando resultados substantivos. Alguns analistas consideram que esta controvérsia entre os dois – Haddad e Gleisi – antecipa a disputa eleitoral para a sucessão de Lula, pelo menos para depois do ciclo lulista, em 2030. Está muito longe ainda, mas o jogo já teria começado. O ministro da Fazenda considera que a reeleição do presidente em 2026 é ponto pacífico, mas defende que o partido deve começar a se organizar desde agora para as eleições que vão eleger o presidente da República para o período posterior ao ciclo lulista. No caminho até lá, teremos muitas eleições, inclusive a de 2026, alguns obstáculos adicionais na política econômica e novos embates políticos no interior do governo e do Partido dos Trabalhadores.
Por outro lado, vale lembrar a eles que os brasileiros não estão nem um pouco interessados no jogo de poder dentro do PT, esperam resultados e o desenvolvimento do Brasil. E que a oposição não vai se limitar à observação da troca de ataques entre petistas, para definição do seu candidato à Presidência da República.
Tudo precisa mudar para evoluir, porque a dinâmica da vida assim o requer. Na política, este princípio está mais presente e é crucial. Assim, a reeleição de Lula, antes de sedimentar o que vem dando certo, poderá implicar o risco de um retrocesso. Principalmente, pelo discurso da Gleise, que lembra muito o malfadado governo Dilma Rousseff.