Editorial

Parece que o carnaval chegou bem mais cedo na Praça dos Três Poderes em Brasília, liderado pela figura folclórica do “Morto carregando o vivo” ou, neste caso, o moribundo carregando o agonizante (ou vice-versa). A Presidente da República e o Presidente da Câmara dos Deputados (representantes das duas mais importantes instituições da democracia), ambos cambaleando politicamente, cada um com sua carga e sua culpa, se odeiam tanto quanto se sustentam mutuamente neste momento de deterioração do quadro político brasileiro. Eduardo Cunha está sob a ameaça de perda do cargo e mesmo de cassação do mandato enquanto Dilma Rousseff vive um risco imediato de abertura de um processo de impeachment, que depende da decisão do primeiro. O jogo é esse: o governo, com um restinho de força (em grande parte fisiológica) que lhe sobra na Câmara, esvazia as iniciativas de cassação de Cunha que, em troca, usa o seu poder, viciado também pelo fisiologismo, para não autorizar a abertura do processo contra a Presidente. A agonizante presidente, cambaleando, carrega nos braços o moribundo deputado que a sustenta nos ombros corrompidos. Mas, no carnaval não podem faltar os palhaços. Alguns deles na oposição circulam na Praça dos Três Poderes, embriagados e alienados da situação dramática que vive o Brasil sem governo e com uma economia deteriorada. Grande parte dos palhaços segue o cortejo liderado pela figura do “Moribundo carregando o agonizante”.