Todo ano, pequena, mas merecida pausa para esquecer as crises e as violências de cada dia e suspender os conflitos e desentendimentos políticos e ideológicos. É carnaval! Rufam os tambores do maracatu, sopram os trombones num frevo rasgado, batucam os tamborins acompanhando o samba, risos e gritos de alegria substituindo as agressões verbais, sensualidade e afeto apagando as mágoas. Esta é uma preparação justa e necessária para o ano que virá com suas promessas e, principalmente, com riscos e ameaças. Não importa que, na quarta feira, depois do “Bacalhau do Batata”, volte tudo com renovado vigor, principalmente num tumultado ano eleitoral, e com tantas incertezas e ressentimentos acumulados (apenas sublimados nestes dias de loucura carnavalesca), e que voltem as crises e violências, que se reacendam os conflitos e agressões fanáticas. Agora é carnaval, e tudo vira fantasia e ilusão. Não a mentira deslavada e sem escrúpulos de alguns políticos, apenas brincadeira, ilusão e alegoria. Carnaval, como sempre, repleto de blocos de fantasiados e mascarados, a fugir do mundo real, muitos escondendo a cara e a vergonha. Palhaços, super-heróis, mortos carregando vivos. Este ano, poderemos ter uma disputa acirrada, num concurso de blocos entre o “Tornozeleira Eletrônica”, o “Prisioneiros da Papuda” e o “Corruptos da Carceragem de Curitiba”, todos financiados com generoso “auxílio-fantasia” e acompanhados por animados adeptos e seguidores. O bloco vencedor receberá como prêmio um final de semana no sítio de Atibaia sem a presença incômoda do seu proprietário (até porque parece que ninguém sabe quem é). Carnaval é piada com a própria desgraça, numa catarse de humor e alegria, para abafar o drama nacional. A bebida ajuda a fugir da realidade. Mas bebam com moderação! Porque este ano de 2018, quando a realidade voltar a se impor, a perspectiva é de uma longa e nauseante ressaca.
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