João Rego

Editores e colaboradores da Revista Será? em confraternização.

Diferentemente de muitos grupos que insistem em se encontrar em dezembro, nosso encontro para marcar a passagem do ano foi em janeiro. Na verdade, a Revista Será? nasce como fruto de nossos encontros etílico-gastronômicos. E quem diria que entraríamos no sexto ano, publicando ininterruptamente, a cada semana, conteúdo de qualidade, gerando um rico debate em que se somam  6.548 comentários e 1.126 textos publicados, sem contar o impacto nas redes sociais, onde nossa fanpage, com 17.542 seguidores, provoca centenas de comentários a cada post.

A política, a economia, a literatura, a música clássica, raspando pela psicanálise, são temas que nos vem estimulando a uma produção escrita, reflexo das nossas incertezas e inquietações, sempre alinhada com a missão da Revista:

“…a utilização da dúvida como método de observação e análise da realidade, questionando as verdades cristalizadas e estabelecidas – verdades e preconceitos carregados de emoção, que inibem o pensamento crítico e paralisam a criação – duvidando do senso comum e das unanimidades, frequentemente carregadas de enganos e simplificações. ”

Mas, como a vida carrega em seu bojo a morte, neste período perdemos nosso grande amigo e colaborador Fernando da Mota Lima, que em nossos encontros pegava o violão e, junto comigo, tocava uma boa MPB para amadores. Morreu Fernando logo após concluir a Série Memórias de um leitor, belíssimo depoimento de como sua vida foi transformada pela literatura. Cito o texto de um dos seus artigos, pela importância e beleza:

“… O tédio das primeiras horas da tarde, quando o sol retinia sobre as fachadas e telhados das casas semiadormecidas, rendia os corpos áridos à lassidão que corroía o cotidiano da vila. Penso, no entanto, que me tornei o único habitante venturoso de Igarapeba quando descobri o mundo da imaginação humana comprimido na estante empoeirada do meu tio Edmundo. A chave da estante e a solidão fruída na cadeira de balanço da varanda à sombra do sol e da rotina sem alma fundaram o paraíso secreto que me converteu para sempre num explorador do mundo reinventado pela literatura. Nesse momento, a literatura era ainda provavelmente uma via de escape da realidade insípida, uma fuga do tédio indescritível nas fronteiras mesquinhas de uma vila. Mais tarde descobri que ela, no seu sentido mais pleno, é na verdade uma porta de retorno esclarecido à esfera irrecorrível e necessária da experiência. ”

Homenageando Fernando, homenageio todos os colaboradores que teceram, com os editores, esse valioso fluxo de conteúdo que vem fazendo efeito em corações e mentes dos leitores.

Para um empreendimento que, desde o início, recusa-se a ter anunciantes, garantindo nossa total isenção intelectual, podemos afirmar que é um resultado importante.

Sigamos juntos, com você, nosso leitor, atravessando este 2018 que promete “muitas emoções” no campo da política. Como otimista incurável que sou, afirmo sem medo de errar: de tédio não morreremos.