Sou um admirador de obras de arte. Os clássicos, os modernos e os pós-modernos com suas diversas escolas -, se é possível organizar a criação dos artistas ao longo do tempo de forma tão estanque e segmentada -,são inspirações para que contemplando suas obras, nos posicionemos diante da vida.
Vejo na obra de arte uma expressão do inconsciente do autor diante de seus desejos e limites para dar conta da sua inserção na realidade. A arte é assim uma expressão criativa de um indivíduo, a qual realiza sua função (ou causa um efeito no outro) quando é levada ao público.
Assim como a literatura e a ciência, é algo do subjetivo que irrompe para o universal espraiando seus efeitos sobre a humanidade.
É possível identificar o caminhar tateante da humanidade, desde as pinturas rupestres das cavernas aos inquietantes trabalhos do MOMA em Nova Iorque. Todos buscando sentido e tentando dar expressão ao humano e ao seu mal estar fundante de um ser pleno de vida, porém incompleto e nascido para a morte.
As artes visuais, e aí se inclui um amplo espectro que vai da fotografia a escultura, é uma tentativa possível de capturar expressões do vivido para lidar com o tempo, que em seu inexorável caminhar a tudo destrói.
Estava entrando na padaria Engenho do Pão em Casa Forte, aonde vou, sempre aos Sábados, comprar o premiado pão Sete Cereais quando fui capturado por um Minotauro desenhado por Rinaldo Silva. O desenho é uma Ilustração de um cartaz de uma peça de teatro.
Algum significante carregava aquele desenho em grafite que me capturou. Quando menino lá em Caruaru, lá no Cinema Santino (o Nosso Cinema Paradiso) assisti aterrorizado o filme Teseu e o Minotauro. O labirinto era assustador e Teseu, orientado pela inteligente Ariadne (uma das virgens que seria sacrificada para manter o Minotauro quieto) a qual desenrola um fio do seu vestido de seda amarrado na entrada do labirinto. Teseu, com esta ajuda consegue matar a fera e sair do labirinto vitorioso.
A vida é um complexo e enorme labirinto que se apresenta a frente de cada um de nós. O fio que nos move diante dele é o desejo. O desejo é o que nos constitui como sujeito (desejo dos pais sobre nós) e que, a medida que crescemos, vamos identificando novos objetos de desejo, como a profissão, uma ideologia, o companheiro ou a companheira, e qual Teseu seguimos nossa caminhada pelas tessituras da vida que nos é permitido caminhar.
Os filhos, nossas realizações e as perdas relevantes são outros objetos balizadores importantes para essa caminhada. Somos esse Eu alienado aos desejos, que constituído dos restos decantados das identificações com estes Objetos forjarmos o nosso viver. Estamos, como sujeitos fundados na angústia de uma incompletude estrutural, imersos em um labirinto complexo e infinito na combinação dos desejos que nos impulsionam diante da vida.
O fio está solto no passado, nem as Ariadnes são verdadeiras – todas são falsas e temporárias –e o Minotauro na vida real sempre ganha. Não sabemos quando o labirinto irá acabar e nos projetar no vazio da morte. Esse é um enigma inalcançável para todos que a Religião e a Ciência tentam desvendar, com um sucesso relativo e imaginário para alguns. Ganham até dinheiro com isso.
Saí da Padaria com minhas bagetes embaixo do braço e o desejo de ter a obra de Rinaldo, do qual já sou colecionador, em minha casa. Ligo para Germana, sua esposa, falo com Rinaldo e, após uma rápida negociação, fechamos a compra. Como pretexto infantil – o que é mais poderoso, e prazeroso também – justifiquei o gasto como um presente para meu aniversário de 59 anos.
O Minotauro de Rinaldo está agora na parede junto a uma bela coruja de Francisco Brennand de 1970, desafiando-me, quais enigmas, a ter sabedoria para caminhar em meus labirintos com intensidade.
Palavra da Sombra fica em cartaz às sextas e sábados, às 20h, no Teatro Joaquim Cardozo, de 08 de novembro até 07 de dezembro de 2013, com classificação etária de 14 anos.
Quem quiser entrar em contato com a equipe, ou obter mais informações, pode acessar a página no facebook.
DITOS & ESCRITOS
João Rego
joaorego.com
JOAO REGO , sabemos que, infelizmente a cultura da grande maioria dos brasileiros e pouca.
Sua cronica foi boa , mas poucos a entendera .
Confirmo que recebi esta material da Revista SERA ? pelo e-mail que solicitei.Agradeco.
Mais uma vez , pergunto : a Revista SERA ? E pernambucana ?
Parabens e sucessos sempre para a Revista SERA ?
Deus nos proteja e nos de saude ,paz. sucessos e sorte, sempre , amem.
Abraco sincero.
ITO CAVALCANTI
Rancho Cordova , California, U.S.A..
Caro Ito:
Lhe escrevo em consideração a sua leitura do meu texto.
Tenho uma formação múltipla, entre elas a de psicanalista.
Meu texto é uma abordagem psicanalítica sobre o enigma da vida e da morte, que nos vence a todos.
Inspirado por uma obra de arte.
Não me limitarei a escrever de forma simples para todos entenderem, pois falo e escrevo sobre fenômenos complexos da alma humana ( aqui no sentido filosófico e não espiritual, religioso) sem o apoio fácil da religião.
Todo texto carrega um ato de coragem do autor, pois você expõe ao público algo muito íntimo seu. São inquietações interiores que só se acabam quando escrevo, sempre no sentido de compartilhar com o outro esta complexa aventura do humano.
Um abraço
João, também carrego meu minotauro. No coração. Chama-se Trigal, de Van Gogh.
Caríssimo João Rego,
Lí sua crônica. Concordo com você. Há coisas que nos tocam de tal modo e terminam por nos obrigar a escrever. As obras de arte têm esse efeito! E, como você bem diz e exemplifica, essas obras nos abrem tantos caminhos que por vezes se nos parecem labirínticos. Gosto de brincar que uma página tem muito de labirinto; os espaços por entre as linhas, as palavras e mesmo por entre as letras, formam labirintos. A pontuação, por vezes, soa como um fio de Ariadne, ajudando nossa orientação, desorientados que sempre somos frente a pujança de nosso mundo interior. O Minotauro foi uma vítima de um trauma de nascimento, como o somos todos, eu diria, uma vez que o grande trauma é o fato de sermos desejados. E o desejo de sua mãe, Passifae, bem ilustra a desordem desse estado de coisas. – Parabéns pela crônica e feliz aniversário.
João, a baguete é maravilhosa! compartilho contigo esta preferência. Agora este texto é ímpar. E emocionante. Coletivo, individual e múltiplo ao mesmo tempo. Basta parar um pouco, ler e encontrar o próprio labirinto, o próprio fio, e, quiçá, encontrar seu minotauro particular. Fico feliz em ter feito parte dessa história. Se não for pedir demais, fotografa o minotauro (ser mítico) ao lado da coruja ( sabedoria). Os símbolos não estão juntos por acaso.
João Rego fala sobre os labirintos da gente como ninguém.
João Rêgo, nesta “Sera?” viajou por nossos labirintos, remetendo-nos para os nossos desejos, ocultos ou não, em um texto irado. Beleza, cara! Mas ali há uma frase que merece um enxerimento atrevido: “O fio está solto no passado, nem as Ariadnes são verdadeiras – todas são falsas e temporárias –e o Minotauro na vida real sempre ganha”. Não sabemos quando o labirinto irá acabar e nos projetar no vazio da morte”.
Louvemos as heroínas Ariadne e Tia Nastácia e tentemos com pique, gaudio e fruição do belo, bem como do máximo de desejos realizados, driblar o fio, este sim pavoroso, de Átropos, a terceira Parca que ao cortá-lo (nem Zeus a proíbe) faz que as pontas de nossas sandálias apontem para O Nada.
Ariadne, apaixonada por Teseu, evitou-lhe a morte no labirinto e propiciou a destruição do touro-homem, assassino de Androgeu (?!) seu irmão, além de uma porção de virgens e pior, eliminando a mácula de Pasifé, sua mãe zoofílica, que chifrou o seu régio pai com o Touro Branco. Eita confusão em Creta!
Tia Nastácia, afro-brasileira, quituteira, sábia, parida por Lobato, acusado de racista, antimodernista e doido por achar que no Brasil havia petróleo, também foi capturada e encerrada no labirinto.Mas desmoralizou-o
Que não leu (leia)saiba que os do Pica-pau Amarelo, sobretudo Emília, através de sua ariandrice, ao tentar salvá-la das manoplas e dentes daquele filho do pecado, encontrou-o prostrado, gordo de não se mover por tanto comer os famosos bolinhos de polvilho de Nastácia. Levaram-na de volta numa boa.
Um dos meus desejos e das torcidas de Lobato, derna a infância, é provar dos tais bolinhos. Tentei fazê-los, inventando. Deu em nada. Será que Joca Souza Leão conseguiu? Seria tão famoso como o bolo.
Milhões de lobatianos, aqueles dos tempos em que não havia o politicamente correto,sublimariam desejos de evitar a tesoura de Átropos e se reconcialiriam com o ódio às mães castradoras e pecadoras.
P.S. Entendi que a Matriz que Rinaldo fez para o cartaz está dependurada na casa de Joãom Rêgo mais Elba. Haverá cópias poucas , numeradas à venda?
Um desenho nomeado por invocação mitológica, busca de alimento: o pão ou o monstro? Apaixonado das artes acaba retendo consigo uma imagem comprada que irá contemplar, a outra degustará…
Modos de desejos arcaicos, passíveis de incessantes permutações, mas sempre de conteúdo exclusivamente pessoal. Assim cada um retoma o mítico a seu modo próprio… Por exemplo “todas as Ariadnes são falsas”, na vida real do autor ou no real da Psicanálise?
Minos, Infiel contumaz e pai de Ariadne, sacrificava a Posídon, ocasião que pede ao deus que faça sair do mar um touro, prometendo devolve-lo posteriormente em novo sacrifício. Por cobiça, querendo incorporar ao seu rebanho aquele esplendoroso exemplar, tenta enganar ao deus que se vinga fazendo com que Pasifae desenvolva um desejo inexplicável pelo animal, e para que ela possa unir-se sexualmente a ele, levará o grande arquiteto Dédalo a construir um avatar de uma bela novilha para que Pasifae possa consumar o ato que resultará no nascimento do meio irmão de Ariadne, ou seja, o mítico Minotauro. Em seguida, inspirado provavelmente pelas quase sempre desconhecidas trilhas do desejo, o artista criará o Labirinto.
O fio dado a Teseu nunca se perderá no passado porquanto mítico, ele sempre é individualmente resgatado. E num desses resgates, no da Mitologia, o falso foi Teseu:
” – O que lês, Teseu, envio-te daquela praia,
donde, sem mim, as velas levaram teu barco;
onde o sono perverso me traiu,
de que perversamente tu te aproveitastes.”
Públio Ovídio Nasão
João, que texto lindo. Sua sensibilidade nos agracia. Que bom que o Minotauro e Rinaldo também lhe remexem. Esteja convidado a estar conosco no espetáculo Palavra da sombra, será um prazer recebê-lo e compartilhar inquietações. Entre em contato conosco. Agradeço em nome da equipe. Grande abraço.
Sera que alguma pessoa entendeu , compreendeu o desenho do Rinaldo Silva ?
EU vou da uma de ” entendido ” .
Eu entendi , palavra de politico brasileiro.
Acreditam na palavra de um politico brasileiro ?
Milhoes de ” eleitores ” acreditam , e a prova e muito logica e clara, muitos se reelegem e muitos sao perpetuados.
Meus politicos preferidos e que os perpetuo sao : o Deputado Justo Verissimo e o prefeito Odorico Paraguassu.
Dois bons exemplos para a politica brasileira.
Brasil , ame-o ou deixe-o .
Preferi deixa-lo.
Abracao .
ITO CAVALCANTI
Rancho Cordova , California , U.S.A..