Noite de domingo. A paisagem que vejo nada tem a ver com as imagens da televisão. Lá fora, reina a escuridão tenebrosa de Sandton, bairro de Johannesburg, África do Sul. A noite africana é densa, quase opressiva, nesse país cheio de cicatrizes. Mas pela CNN, vejo o centro de Atenas. Fiéis ao estilo efusivo, os gregos soltam fogos e, por significativa margem, acabaram de cravar a opção do blefe. Mas talvez haja outra razão: não querem renegar os valores que lhes balizaram a vida. Então pagam para ver no que vai dar. Pois bem, da mesma forma que se instaura no Brasil um debate sobre o preço da farra, aos pés da Acrópole o dilema ganha um tom abrasivo. Como crianças criadas pela avó, não lhes parece claro que, no fundo, estão pedindo o melhor dos mundos: permanecer na zona do euro e rasgar as faturas passadas. Nesse contexto, a tecnocracia leva um banho da antropologia. Senão, vejamos um paradigma tão mundano quanto confiável.
O ponto de intersecção mais efetivo que houve nos tempos modernos entre os países do norte da Europa e a Grécia atende por um nome bastante sugestivo: kamakia. Do que se trata? Ora, a partir dos anos 60, quando a Grécia foi descoberta por turistas escandinavas e alemães como um destino de sol e desvario, os jovens rapazes das ilhas perceberam que podiam viver bons momentos sem botar a mão no bolso enquanto o sol ardesse. Para tanto, bastava levá-las para passear na garupa da moto, coreografar a dança de Zorba, preparar um cardápio caseiro, se embriagar de ouzo e mergulhar despidos nas águas cálidas do Mediterrâneo. Elas adoravam a experiência e eles se sentiam no melhor de seu elemento físico e humano. Um estado de espírito, de resto, que a moeda única jamais conseguiu reproduzir com consistência.
Os kamakia – uma versão helênica de gigolôs – eram pessoas simples, mas divertidas. Eram liberais com as nórdicas e conservadores em casa, onde as esposas tinham filho ano após ano, e para onde eles voltavam no fim do verão. Com o inverno, retomavam a costura das redes de pesca; beijavam a mão do arcebispo aos domingos; criavam burricos; abatiam uma ovelha num batizado e se entregavam ao bucolismo da vida campesina – o jogo de gamão, horas de conversa animada, identificar os ventos pelo nome e dormir cedo. As mulheres – que não precisavam ser de Atenas, como as da música – efetivamente não tinham “gosto nem vaidade”. Mas eram o esteio de um lar ortodoxo, feito para durar. Por que não fechar os olhos para as transgressões de verão dos maridos kamakia? Afinal, eles voltavam com um presentinho e desculpas conjugais insinuadas que jamais integraram o cotidiano oriental.
Não eram raras as histórias de alguns casos de amor. Episódios que retratavam holandesas de olhos verdes com meridionais parrudos e pândegos. Alguns deles foram morar no Benelux e até no Canadá. Vê-los hoje, septuagenários, narrar o que foi essa experiência é uma aula de psicologia intercultural – cadeira que, infelizmente, não consta da grade de economia. Difícil foi o caso em que ficaram mais de um par de meses no idílio branco. Logo estranhavam o frio, a comida, o jeito de ser dos estrangeiros e se torturavam de saudades das igrejinhas alvas, das mulheres de preto e do azul da água. Pois bem, enquanto as relações da Grécia com os países do norte se assentaram sobre bases honestas de complementação natural, tudo correu de maravilha. Mas como o que não falta é gente para atrapalhar o que está funcionando, alguém jogou areia na engrenagem.
A Grécia de hoje – pronta talvez para retomar a vocação levantina em detrimento da maquiagem europeia – estampa o desastre da tecnocracia vesga e onipotente. A tentação sempiterna de fazer caridade com o chapéu alheio que acomete gente de todas as latitudes. Agora que o verão chegou, os gregos estão à beira da falésia. Para complicar, se a Europa contemporizar, o naufrágio desencadeará efeitos sistêmicos que abalarão as próprias fundações do euro – do Báltico aos Bálcãs. Pena que Frau Merkel só conheceu essa versão ácida de gregos enfezados. Teria adorado os kamakia da velha guarda e saberia desde então que eles têm seu próprio código de ética. Se chamado para uma festa, o convidado grego será o que mais vai dançar, o que mais vai beber e até a louça da casa pode ser dizimada num acesso de euforia e amor ao hoje, o aqui e o agora. Mas todo kamakia tem seu preço e nenhum deles admitirá que está cobrando pelo que não deu. Em Atenas como em Brasília, chegou a conta da festa.
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Prezado Dourado,
Mesmo que Frau Merkel tivesse tomado, na sua adolescência, banhos nus nas águas mornas do mediterrâneo e muitos porres de retsina ( típico vinho milenar grego, da região de Aleppo ), chegou a hora de pagar a conta.
E ela vai cobrar, pois afinal de contas, aqui se faz e aqui se paga.
Aquele abraço.
Fernando Dourado escreve lindo. Sou meio S. Tomé, podia até achar que esses gigolôs são ficção: eu só consigo acreditar que existem mulheres de férias com esses gigolôs porque eu vi europeias (e os comentários dos locais) passeando com algo desse “estilo” em uma praia do Quênia. Mas … esse assunto do euro é uma complicação dos diabos, não cabe nessa imagem. Fato é que a construção foi precária desde o início, sua racionalidade foi política, e economistas entendidos em “zona de moeda única” já advertiam há pelo menos uma década que havia o perigo de algum membro ficar “terminalmente doente” ao se atrelar à moeda única sem outras condições para cumprir os critérios de participação.
Mas Fernando Dourado tem razão ao dizer que houve uma festa. Foi uma verdadeira farra: entre 2000 e 2009 o aumento do gasto público e da dívida na Grecia foi impressionante! E maior ainda do que está nas estatísticas, porque a União Europeia descobriu que os gregos estavam maquiando o déficit. Mas desde 2010 já estão apenas “gerenciando” dívidas, a festa não acabou este mês, a festa já virou ressaca desde 2010.
Helga,
Obrigado pelo elogio. Fosse eu um grego – rendido à sedução ingênua do Mediterrâneo – diria que bonito não é o texto, mas são seus olhos. De qualquer sorte, esteja certa de que foi seu artigo que me estimulou a voltar mais cedo para o hotel aqui na linda Cape Town, África do Sul, para fazer alguns comentários. O que você disse em seu artigo, aliás, é incontestável. Mas quando você afirma, e com razão, que já não é mais pertinente aludir à forçada de barra da dupla Schroeder-Eichel para fazer da Grécia o décimo membro do clube do Euro, você corrobora com meu estranho fundamento: faltou ver a vertente cultural, a idiossincrasia da terra, o “software” mental de um povo que traz o senso da tragédia internalizado e que não compra um carro usado do vizinho. O sócio gigolô, o kamakia, o que quer um lugar à sombra e não ao sol.
Mas vamos por partes. Ora, a imensa maioria dos políticos profissionais faz o jogo do aqui e do agora. Depois deles, o dilúvio. No fundo pensam: o que são 15 anos para a história? Nada. Para eles, contudo, é tempo bastante para se garantir nas frentes de suas utopias suburbanas: patrimonialismo, nepotismo, paternalismo, continuísmo, estatismo, protecionismo e assim vai. Como eles adoram dizer: precisamos garantir a aposentadoria diante da volatilidade do voto. Não era assim que André Vargas conversava com o doleiro? Com a mão no poder, eles decidem que fantasia usar: Cunha, Evo, Renan, Maduro, Lula, Dilma, Cristina. Não será a de Pedro Malan, garanto. Não se iluda: os padrões de governança de Atenas diferem pouco dos de Maceió, por exemplo. É salada grega lá e sururu no Brasil.
Portanto, não suavizo para a tecnocracia – a quintessência da “hubris” -porque ela aceitou uma maquiagem embalada por um otimismo pueril. Criminoso, diriam alguns. Ademais, a Grécia tinha consultores malandros de Wall Street, remunerados por taxa de sucesso. Os alemães – que tinham na época no DM a segunda moeda mais segura do mundo – fizeram vista grossa ou foram incompetentes. Convenhamos, Wall Street e seus milhares de lobos sanguinários, siderados pelo lucro de curto prazo e com “network” da Ivy League na agenda, pode, com um pé nas costas, convencer a tecnocracia europeia de que seis e meia-dúzia são distintos. Esse pecado original maculou a chegada ao grupo. Detalhe, amiga: o estatuto de clube você mostra ao convidado na portaria da entrada. E não depois que o dito cujo urinou na piscina.
Não contentes com isso, os gregos ainda tentam jogar o mundo contra a gerente do condomínio, colocando uma suástica no braço roliço de Angela Merkel, coitada. Logo ela que cresceu sob o olhar da Stasi. Helga, a Grécia era um satélite turco até 1830. Depois saiu flertando com a monarquia, com o fascismo até sucumbir à ditadura dos coronéis. Com o ocaso de Salazar e Franco, chegou a vez de Papadoupoulos pegar o boné. Como lembro disso. Eles passaram anos comemorando – se abraçando, bebendo, procriando e dançando. Na minha juventude europeia, eram as melhores festas. Evocava-se Gavras, Merkouri, Moustaki, Mouskouri, mas dançávamos mesmo Theodorakis – vivo até tempo desses. Em tempo: meio país sonhava com um emprego no Estado. Péssimo indício.
Sou daqueles que acreditam que só se trabalha no Estado atendendo a convite e na base do sacrifício. Começa mal um país em que a juventude é formada por concurseiros em busca da nefanda estabilidade. De qualquer sorte, o dilema grego – proporcionalmente, a Grécia consegue ser mais insignificante para a Europa do que o Brasil é para o mundo – se insere na questão do gerenciamento do condomínio. Dai, quanto a Bruxelas, faço minha a pergunta de Henry Kissinger: qual é o telefone da Europa? O da casa Branca é um só. Até o do Kremilin se conhece. Escreva: o Euro tão cedo fará sombra ao dólar. Quanto aos gregos, torço por eles porque amo o país onde fui sempre muito feliz. Ademais, não sou palmatória do mundo. Mas eles se comportaram como moradores de um emirado sem petróleo. O petróleo deles era Bruxelas. Enfim, é assim que vejo.
Um abraço,
Fernando
Meu querido Fernandinho: Assino em baixo o seu artigo e o comentário, sem tirar uma vírgula. Esses Dourados não têm jeito não, mas é por isso que, vem em quando, somos chamados de doidos. Não é utopia, mas a nossa visão humanista em que mais importam os sentimentos, o amor, a fé nos princípios e a capacidade de entender os sonhos mais estranhos e esquisitos. A imprensa internacional focou a imagem de um velho aposentado, estendido na calçada, chorando o seu desespero. Lembrei que, possivelmente, logo mais adiante teríamos, quem sabe – um Zorba dançando sozinho na praia para extravasar suas desventuras ou fazendo uma declaração de amor à prostituta na hora de sua morte para que ela se sentisse amada. Seguramente, vão pagar um preço como nós estamos pagando e estou convencido que o nosso país entrou numa demência ética e moral coletiva. Estamos buscando, talvez, a nossa Passárgada e que os gregos a encontrarão na preservação de sua cultura ? Não discuto o mérito. A benção e o amor do tio Ivan
è bem possível Fernando, que os gregos siam dessa, e deverão sair. Haverá sempre um acordo onde, vamos “retalha” a dívida pois haverá a tênue esperança de recebê-la, vão correr o risco. A dívida aumentará e irão esperar por futuras eleições onde, os novos candidatos ao poder terão material para explorar em suas campanhas. E os atuais mandatários, dirão que vão deixar uma dívida, com o pagamento combinado. E se salvarão os kamakias e Zorba voltará a dançar.
Nealdo,
Acho que você começou a acertar, mas também tem bala saindo pela culatra. Na tarde de hoje, conversando com um dos muitos empresários de origem grega daqui da África do Sul, ele ponderou com sabedoria sobre “o que Tsipras ganhou com a vitória do ´não`? Nada, afagos no ego se tanto”. Mesmo porque o pré-acordo que será votado pelo parlamento grego na quarta-feira já está valendo a ele a pecha de traidor. O pacote que ele está levando é bem mais amargo do que teria sido com a vitória do ´sim` e, na prática, os que votaram ´não` estão aliviados de não ter levado um pé no traseiro.
Quer saber, Nealdo? É tudo palavrório oco. Escreva: se Strauss-Kahn estivesse no FMI – ou na presidência da França -, a compreensão do problema teria resultado numa lição mais abrangente para todos. Mas a história não é feita de hipóteses. De qualquer sorte, repito: torço por eles, não sou um moralista azedo e amo aquela parte do mundo. Atenas, Larnaca, Beirute, Istambul, Alexandria, Izmir, Salônica – é quase um universo só. Omar Sharif, egípcio e filho de libaneses, sepultado ontem no Cairo, perdeu numa noite 750.000 libras esterlinas na roleta. Sabe o que fez para esquecer? Escreveu um livro sobre “bridge”. Jogatina é ali mesmo.
Cheguei lá como universitário em 1978 e comecei a trabalhar com eles em 1983. Foi uma senhora chamada Irene Vournas que então trabalhava na embaixada brasileira em Atenas quem me propiciou um contato com um primeiro importador, o velho Moskolios. Depois, já na Votorantim, viramos parceiros de greco-turcos de Lugano, Suíça, que tinham proximidade com Onassis e Niarchos. Altos malandros. Ótimos para conversar, conviver, confraternizar e até negociar. Dizia um ditado que eram necessários dois judeus para enganar um grego e dois gregos para enganar um armênio. Ou seja, ocupavam um lugar de lisonja no pódio verossímil do estereótipo.
Mas eles eram terríveis para planejar, pagar e assumir compromissos. O viés levantino fazia com que quisessem levar tudo na boa conversa e era uma temeridade trabalhar, por exemplo, na modalidade CAD – “cash against documents” – porque uma vez o produto ancorado, eles pressionavam em favor de pagamento com “draft” a 120 dias. E era isso ou repatriar os containers. Ou seja, negociavam com o fato consumado. Cientes do encantamento helênico, do carisma do país e do azul das águas inigualáveis, eles abusam. O importante, cá entre nós, é deixá-los ter a sensação de que levam uma vantagem fora do combinado. Feito criança.
Abraço,
Fernando
Querido Tio Ivan,
Uma alegria despertar aqui na África e me deparar com seu comentário sobre os descaminhos da Grécia. Mal saí da cama, liguei a BBC – um hábito adquirido depois do 11 de setembro – e vi que, depois de uma rodada de 17 horas, a bola já voltou ao parlamento grego.
Vejo nessas conversas uma espécie de almoço de fim de semana de grande família. A avó Angela não quer ser lembrada como a algoz dos primos traquinos; o tio François – bobo e inoperante -, quer pintar amanhã na parada do 14 de julho como o salvador da Europa unida.
Bem faz tio David que qualquer hora dessas vai sair da festa. Entre cerveja e vinho, vai ficar com o gim caseiro mesmo porque, problema por problema, já hipotecou a cota de redentor ao segurar a Escócia no barco do Reino Unido ano passado. E ainda tem contas a pagar.
Se a patranha grega emplaca, tio Mariano chegará a Madri meio desmoralizado. Seus filhos dirão que não precisavam ter feito tanto esforço. A leste então, entre Praga a Tallinnn, os chefes de estado jogarão com o regimento e vão dizer, de alguma forma, um “eu também quero”.
Ou seja, o verão de Tsipras continua movimentado. A insistência em ocidentalizar um país oriental só reforça a posição dele e, à sua maneira, vai evitando a chave de braço. Os turcos devem estar rindo da confusão. Quem mandou preteri-los?
Um beijo,
FD
Vou só repetir, mesmo. Acho os comentários do Fernando Dourado ainda mais lindos que os artigos dele. Só hoje li, pois meu computador empacou (e ainda está esquisito).
Estava para reagir àquela fantasia de que talvez, se a Merkel se tivesse embebedado e caído nas águas mornas com algum daqueles homões rústicos, quiçás conseguisse ver um lado menos raivoso dos gregos. Você esqueceu que a Merkel vem do lado Oriental? Adolescente pré 1989. E, daquele lado de lá, férias de verão podiam ser no máximo na Hungria. E havia o compromisso dos húngaros de devolverem esses turistas da DDR terminadas as férias….
Selbstverständlich!
Foi só uma alegoria. Uma figura de linguagem.
Eu falei que ela estava na época sob o olhar da Stasi.
E uma farra não muda nada na vida de uma pessoa madura.
Foi a forma de dizer do espírito pândego dos gregos.
E do quanto eles gostam de uma “free ride” às expensas alheias.
Abraço, F
Meu caro primo,
Alguns anos atrás visitei a GRÉCIA (ATENAS) e algumas de suas ilhas (um pequeno cruzeiro)com sua prima Virgínia. Era uma festa! O salario mínimo infinitamente maior que o nosso. Não sabíamos, por outro lado, o que estava por trás do ritmo frenético de sua música, sua comida exótica e a beleza incontestável de Egina, Hydra e Poros. Ajudei a quebrar alguns “pratos”. Chega, não é? É uma pena!…Como num conto de fadas, deveriam ser felizes para sempre, but…
Primo,
Prazer vê-lo aqui. Apareça mais vezes nessa sala de visita virtual.
Já treinei uma geração de “traders” para trabalhar com a Grécia. Didaticamente, corroborando o que você disse, os gregos são, no geral, do universo Multiativo, o que lembra um pouco o jeito típico brasileiro. Vamos lá, um pouco de clichê ajuda a visualizar e caracterizá-los:
– São péssimos ouvintes. A todo instante, interrompem o interlocutor;
– São teatrais, como os mediterrâneos. Curtem o som da própria voz e abusam da linguagem não verbal;
– Fazem mais de um coisa ao mesmo tempo, logo perdem foco facilmente;
– Têm noção circular do tempo, ou seja, o que não foi feito hoje, pode ser feito depois, o que acaba com o senso de urgência
– Têm baixa noção de planejamento, esposam o fatalismo dos países do Levante, na linha de “o que tiver que ser, será”;
– Acham que o passado glorioso lhes dá o stauts de credores da humanidade (um pouco como egípcios, persas, romanos);
– Louvam a esperteza em detrimento da disciplina;
– Nunca vão direto ao ponto;
– Adoram sofismar: o que vale mais, o homem ou o sistema financeiro? Qual é o preço de ver um ancião rendido numa calçada?
– São adoráveis, bons de festa e bouzouki e, na intimidade, confessam que o problema é interno e que são ingovernáveis.
– A verdade não existe, ela é a versão do que convém a ambas as partes;
Quem está do outro lado? Ingleses e alemães, por exemplo. Se gregos são multiativos, eles são os chamados Ativo-Lineares.
– Não fazem nada sem planejamento, até piquenique em família precisa de meses de preparação;
– São objetivos e vão direto ao ponto sem dar asas ao “small talk”;
– Jamais interrompem o interlocutor quando ele está falando e odeiam que façam isso com eles;
– Guardam as emoções para si: a raiva, a alegria, o desconforto;
– Jamais prometem o que não podem cumprir;
– Detestam proximidade física com estranhos e não usam os braços para falar;
– O tempo é regido pela ordem – são monotarefa, e fazem uma coisa depois da outra, sem pular temas ou etapas;
– Acreditam que o futuro depende do que fizermos bem hoje. O ontem ficou para trás e não entra em pauta;
– Por charmoso que seja o outro lado, não perdoam a falta com a palavra empenhada;
– Existe uma só verdade (“Wahrheit”) e é dever das partes achá-la pois só ela salvará.
Países como a França e a Espanha ficam a meio caminho. Daí contemporizarem e botar panos mornos. O principal opositor da Grécia, o que mais se indigna, não por coincidência, é os representantes finlandeses. Nem ativo-lineares nem multiativos, eles são Reativos. O que é isso?
– Jamais falam sem muita reflexão;
– Dizem apenas uma parte pequena do que pensam – basta visualizarmos um iceberg e ver o tamanho da camada submersa;
– Abominam linguagem não-verbal;
– Acreditam em obstinação, trabalho disciplinado e “endurance”;
– Tudo é planejado e são monotarefa;
– Mergulham em longos silêncios de reflexão, o que só força o grego a dizer mais do mesmo;
– Promessa é dívida – isso vem da tradição nórdica dos criadores de rena;
– Acreditam na criação progressiva de vínculos emocionais entre as pessoas;
– Vão da timidez introspectiva à fúria;
Desculpe por essa cavilação de sala de aula, primo. Mas um homem de sua sensibilidade vai curtir essa generalização didática. Isso traduz primeiro o sentimento da rua. E, depois, é inevitável que o negociador de cúpula seja, ele também, um pouco assim. Pois um dia ele esteve na rua.
Abraço,
FD
Sempre oportuna sua preleção. É bem vinda!
Grande abraço,
F Sivini