A interinidade em um cargo público gera sempre algum grau de incerteza e insegurança, que cresce e dificulta a gestão na medida em que se alonga o período para a nomeação e posse do titular. O que dizer da interinidade do mais alto cargo da República? E mais ainda, quando a interinidade é de um Presidente em um país numa grave crise econômica que exige decisões drásticas e rápidas, que demanda liderança e poder decisório do chefe de Estado? Esta é a situação que está vivendo o Brasil nestes meses de longo e maçante processo de impeachment da presidente da República, que já se arrasta há meses e continua no Senado com repetição à exaustão dos mesmos argumentos, documentos e testemunhos analisados desde a discussão na Câmara de Deputados. Na atual crise econômica e política do Brasil, alguns meses de interinidade na presidência da República são uma eternidade, criando um estado de enorme insegurança e incerteza política. Quando o Brasil mais precisa de um chefe de Estado, rigorosamente, não tem presidente, suportando a ambiguidade de um interino refém de 81 senadores, que se aproveitam do longo prazo para barganhar favores nem sempre lícitos, e uma presidente afastada que se mobiliza e conspira para voltar ao cargo, participando de atos públicos e negociando (com que meios ou argumentos?) a alteração do voto de senadores. O rito definido pelo Supremo Tribunal Federal deve ser respeitado, claro, mesmo sabendo que nada de novo – fato, informação ou argumento – vai surgir desta repetição maçante de acusação, defesa, documentos lidos e relatórios divulgados. Mas o Brasil tem pressa, as urgências do Brasil clamam por um presidente, um chefe de Estado com responsabilidade, competência e coragem para enfrentamento da grave crise econômica.
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Houve um tempo – os primeiros da “Revista Será?” – em que o nosso editorial (a Opinião) era consenso entre os editores. Depois, com a dificuldade de se chegar a um consenso em alguns assuntos controversos, adotamos o critério da maioria, levando em conta esse precioso espaço de debate que a revista oferece. Nesta semana, tanto quanto na passada, a Opinião de nossa revista não é a minha. Eu começaria pela ultima frase, para dizer que, de fato, o Brasil tem pressa. Porém, falta ao presidente da interinidade a estatura de um chefe de Estado com responsabilidade, competência e coragem para enfrentamento da grave crise econômica (e política, é importante que se diga) do país. Com esta nova serie de denuncias, ninguém governa mais o pais, porque Michel Temer está melado e seus aliados no Senado mais sujos ainda. Tão sério quanto as denúncias, a fazer cair ministros como fruta podre, é a desfaçatez da compra da base parlamentar, logo de saída. No cenário de crise, 60 bilhões de aumento para os servidores públicos! E então, a crítica só vale quando se trata de governos do PT? Para mim, nem mais governo interino existe, pois agora a Lava Jato atinge a alta cúpula do PMDB: Romero Jucá, Renan Calheiros, Sarney e Eduardo Cunha, citado diretamente Michel Temer, que ainda ontem foi capa da Folha de S.Paulo. Estamos em pleno desgoverno interino. Não dá para desconhecer esses fatos. A Operação Abafa, para felicidade geral da nação, não abafou. Na Espanha, por exemplo, as pesquisas demonstram que a confiança na política – nos políticos e nas instituições – decai a cada dia. Esse problema tem dimensão global e essa é a discussão importante. Discutir a crise brasileira achando que vale tudo para implantar um plano econômico de notáveis (?), para mim, é entrar em barco furado. Sim, o Brasil tem pressa, mas a pressa não justifica apoiar um governo a qualquer custo em nome do pragmatismo de segurar a economia até 2018. Segurar como? Ainda bem que, sem Lula para cooptar os movimentos sociais, esses ressurgem e as ruas continuam dando o recado.
Teresa Sales – Fundadora e editora da Revista Será?
Teresa, você é o diapasão da Revista Será? Os seus comentários deixaram seus pares desconsertados e , desatinados, puseram-se a apresentar argumentos indefensáveis! Se bem que, alguns deles, são recorrentes.
Prezada Gláucia,
Para responder ao seu comentário, tenho antes que me reportar à “Revista Será?”, uma das fundadoras que sou da revista e da qual faço parte como membro do conselho editorial desde o inicio. Quando iniciamos sua publicação, já se vão quase quatro anos, eu costumava dizer que, se não tivéssemos nenhum leitor, já valia pelo nosso diálogo interno. Sim, porque temos entre nós um rico e profícuo diálogo que acreditamos ser o caminho para se chegar ao melhor conhecimento dos fatos. O nome da revista (Será?) diz muito. Esse diálogo é constante, sobretudo na discussão da Opinião semanal.
O grupo da Revista foi meu porto intelectual no Recife, quando para ali retornei depois da Unicamp e dos famosos mesões do Cebrap, onde igualmente havia muita discordância (é bom lembrar que estavam na mesma mesa Fernando Henrique Cardoso de Francisco de Oliveira), porém sempre dentro do espírito do diálogo que não destrói, mas preserva as amizades. O meu comentário foi publicado depois de uma troca de emails entre os editores que, pelas posições divergentes em assuntos tão sérios nessa nossa quadra republicana, resolvemos de comum acordo levar ao público da revista. Pelos comentários, penso que valeu a pena.
Permita-me, por isso, discordar de sua colocação. Nesse tema tenho opiniões divergentes de meus co-editores. Porém não acho que os deixei desconsertados e desatinados. Ao contrário, provoquei uma discussão na qual, não apenas eles, como outros leitores da revista entraram com outros argumentos, o que sem dúvida enriqueceu o debate.
Teresa Sales
Caríssima Teresa
Saúde e paz!
Eu entendo sua inquietação e absoluta descrença no governo interino. Entendo, porém não concordo. Por uma razão simples: o Brasil chegou ao que chegou por ter na sua mais intrínseca natureza política e ética, ao longo da sua história, a corrupção como base para o patrimonialismo de Estado. Não foi diferente com o projeto do PT. Dos outros, todos sabíamos.
O que temos agora?
Um governo tentando dar um rumo a economia no meio do caos, criado, planejado e produzido nas entranhas do PT – hoje, grande parte de suas lideranças enjaulados e outras na fila.
Cabe-nos entender que não existe o caos do caos. Já estamos nele e é dele que temos que sair. E isto significa torcer pelo governo interino chegue a termo até 2018, quando, aí sim, teremos eleições para presidente. Se até lá a Lava Jato for delapidando parte importante da elite política, que seja. Vivemos um momento de mudança irreversível onde a ética na política está sendo imposta na leia ou na marra, como dizia meu saudoso colega de partido Francisco Julião. Se quer alguém absolutamente limpo e puro, não procure na política. Talvez em algum monastério no Tibet. E olhe lá! A sociedade dos homens é uma pálida expressão das suas mais primitivas pulsões, encobertas pela fina camada do processo civilizatório. Na política é onde ela é mais fina e sutil. Na sexualidade irrompe-se sempre, algumas vezes controladas, como é o caso do orgasmo, outras descamba para as perversões e as psicoses. Nessas estruturas psíquicas não há a possibilidade de reconhecer a lei e a culpa – também em alguns personagens da política.
Um beijo.
Teresa
Não vejo como o editorial que você leu acima seja uma defesa do governo Temer, menos ainda que esteja apoiando “um governo a qualquer custo” e “achando que vale tudo para implantar um plano econômico”. A qualquer custo, Teresa? Vale tudo, Teresa? É essa a sua leitura do texto? Acho que o editorial está muito longe disso e de qualquer defesa deste governo. Além disso, gostaria de lembrar que em editorial anterior (3 de junho) a Revista Será fez uma critica dura e clara ao que você chama no seu comentário de “desfaçatez da compra da base parlamentar” com o aumento de salários dos servidores públicos. Só para lembrar, transcrevo o que disse o editorial a respeito: “o presidente Michel Temer apoiou aumento de salários dos servidores públicos federais, na contramão do esperado e prometido ajuste fiscal no meio de uma grave crise econômica e enorme déficit fiscal (…) Pelo visto, o presidente Michel Temer decidiu governar cedendo aos pedaços diferenciados do Congresso, aos desejos das bancadas corporativas – quase nunca convergentes com o interesse nacional – e distribuindo benesses aos servidores públicos, incluindo os próprios parlamentares”. Por isso, acho injusto quando pergunta se “a crítica só vale quando se trata de governo do PT”. Abraços, Sergio
Felizmente Tereza não precisa de que a defenm.Mas, em absoluto não lhe cabe a pecha de ingênua como sugere o comentário após seu posicionamento. Quem conhece Tereza sabe que é uma pessoa que busca ser coerente e honesta,como pessoa e boa profissional que foi a vida toda. Discordamos em muitos pontos, sobretudo em nossa perspectiva política, mas não deixo de ficar feliz com as reflexões que fez a proposta do editorial da revista Será.
Clara
Essa “pecha de ingênua” é por sua conta e risco. Tenho um enorme respeito e carinho por Teresa e jamais iria colocar minhas ideias contrárias a dela se não fosse para jogarmos luzes no objeto em questão.
Queridos amigos Teresa e Sérgio
Como me conhecem há muito tempo, sabem sou do tipo coruja que presta muita atenção, mas não fala. Desta vez vou abrir uma exceção e dar um palpite. Será que devo me meter nesse debate de especialistas na área da ciência social enquanto eu sou apenas um velho engenheiro que entende – pouco – de outras coisas? Será?
A minha leitura do editorial é a mesma de Teresa. Na minha santa ignorância, além da referência inicial à incerteza e insegurança decorrentes da interinidade, a última frase do editorial parece-me eloquente: “Mas o Brasil tem pressa, as urgências do Brasil clamam por um presidente, um chefe de Estado com responsabilidade, competência e coragem para enfrentamento da grave crise econômica”. Se não é uma eloquente defesa do término da interinidade do Sr. Temer, o que será? Esse término pode se dar pelo afastamento definitivo da presidente eleita ou pelo afastamento de ambos. Será esta última, a tese defendida pelo Editorial? Se é, não está clara.
Na minha modesta avaliação, mais grave do que uma crise econômica – que não é só nossa – é a crise política. Tal como disse Teresa, não me consta que o referido senhor tenha a responsabilidade e a competência requeridas no editorial. As demonstrações cada vez mais evidentes de que os líderes do governo interino cometeram os mesmos desvios que têm sido alegados para justificar a sua assunção à interinidade atual depõem contra esse governo provisório.
Tenho que lembrar o espetáculo deprimente que foi a seção da Câmara Federal, em 17 de abril, que acatou o processo de impedimento da presidente eleita, assistido ao vivo e a cores pela maioria do povo brasileiro. Nessa lamentável seção mais de 90% dos senhores parlamentares que votaram sim, o fizeram em nome do combate à corrupção – quanta falta de vergonha! E agora, que atitude tomar diante dos fatos vindos à tona recentemente? Será que a bandeira do combate à corrupção que foi apontada como tese para condenar um governo eleito pela maioria dos votos da população permite honestamente justificar a defesa do governo interino?
O país está em uma situação difícil e não sei qual é a saída possível, mas sei qual é a pior: defender a efetivação desse governo interino que foi guindado à sua condição atual por interesses que não são os que se tenta explicitar. Conquanto considere que a presidente eleita cometeu erros na condução da política econômica e teve dificuldade na articulação política, não estou convencido de que houve crime de responsabilidade e, portanto, não vejo justificativa para o seu impedimento. Na minha “carta de princípios” a solução teria que ser o respeito ao resultado das urnas. Mas diante do estágio de intolerância a que chegamos e com o parlamento que temos, a presidente eleita terá condições de governar? Não estaria na hora de ouvir a manifestação de todo o povo? Será?
Abraços
Luiz Baltar
Caro Lula
Não existe certificado de especialista (e, se existisse eu não o teria) e a sua opinião política, com certeza, tem o fundamento e as informações de quem acompanha a realidade brasileira com atenção e preocupação com o futuro. Por isso digo, seguramente expressando a opinião da Revista, que a sua participação neste debate enriquece a reflexão e, desta forma, o conhecimento. Não poderia ser diferente porque este é o mote da Revista valorizando, principalmente, comentários divergentes mas elegantes, respeitosos e com argumentos, como você faz. Em todo caso, como a discordância constroi mais que as convergências, me permita fazer alguns comentários aos seus, agora em carater pessoal e não como um dos editores da Revista.
1. Penso que ninguém pode discordar de que a interinidade provoca incerteza e insegurança e que estas sejam muito ruins para o Brasil num momento de grave crise econômica e política. Acho difícil que pense diferente, mesmo quem deseja a volta de Dilma embora, aparentemente, interesse às suas forças políticas atrasar ao máxmo o processo. Posso entender como uma estratégia política do PT mas, convenhamos, o prolongamento da agonia e de crise de governabilidade por mais tempo pode ser dramático. Não serve ao Brasil e, rigorsamente, não serve sequer a Dilma (e ao PT) que pode voltar ao poder com a economia mais desestruturada do que ela deixou se não houver uma ação forte e decidida nestes meses. A expectativa de um término da interinidade o mais rápido possível é muito mais geral, independentemente do deselance do processo de impeachment, confirmando Temer ou devolvendo o poder a Dilma.
2. Em relação ao clamor por um presidente com competência e responsabilidade tem, a meu ver, uma expectativa de que Temer pudesse ser esta figura mas constitui, ao mesmo tempo, uma cobrança mais geral decorrente da percepção de que ele vem falhando nestes quesitos. Não tanto pelas denuncias de corrupção (que demonstra apenas que todos calçam quarenta, Dilma, Lula, Temer, et caterva) mas pelas contradições nas propostas de ajuste fiscal. Como falei com Teresa, gostaria que lesse o editorial do dia 3 de junho intitulado “E ajuste fiscal, Presidente”. Por outro lado, veja que este último editorial sequer pede um presidente honesto porque esta qualidade parece muito escassa nos meios políticos; se vamos tratar de denúncias, Temer foi acusado de pedir dinheiro ilítico para campanha e Dilma foi acusada de operar o escândalo de Pasadena. Deixemos então a Lava Jato fazer seu trabalho. O que me angustia agora é chefe de Estado que tome decisões sérias na economia. Ocorre, caro amigo, que se existe dúvida em relação à competência e responsabilidade de Temer neste terrano, e eu começo a ter depois de tanta barberagem que tem feito, tenho certeza da completa incompetência e irresponsabilidade da presidente afastada, Dilma Rousseff.
3. A crise politica é grave, claro, mas o problema é que a economia está afundando e precisa de grandes e rápidas decisões para implementar mudanças conjunturais e estruturais para tirar o país do abismo econômico. E a crise econômica não espera que um dia se faça uma reforma política e que, então, possa ajudar na reconstruação da governabilidade. Temo que a ideia de que a “crise não é só nossa” sirva como uma desculpa que nos acomoda e elude a essência da problemática e, portanto, adia decisões. Todos os países do mundo, mesmo a União Européia, estão crescendo de forma moderada, exceto Venezuela e Brasil; a Zona do Euro, com menor crescimento, cresceu 1,5% ao ano nos últimos dois anos, e os Estados Unidos, 2,4% ao ano, Imagine o desastre para um país com uma depressão econômica de quase 8% em dois anos (2015/2016), com as consequências na renda e no emprego, um Estado falido com um gigantesco déficit fiscal.
4. O espetáculo da votação do impeachment na Câmara foi deprimente. Mas se 90% dos parlamentares que votaram são corruptos e votaram, cinicamente contra a corrupção, acho que a esmagadora maioria deles faziam parte da base política de Dilma até alguns meses antes. Não eram menos corruptos e, aliás, pelo que se anuncia, muitos deles recebiam propinas do esquema do governo.
5. Nas minhas críticas ao governo Dilma, nos últimos anos, a corrupção teve um peso muito secundário. O que critiquei sempre foi o descontrole completo na gestão macroeconômica, que levou o Brasil ao desastre, independentemente do ambiente internacional. Mais importante que a corrupção e mesmo o aspecto ilegal das pedaladas, o “crime” de Dilma foi a forma irresponsável como tratou as finanças públicas provocando um rombo que vai afundar o Brasil por alguns anos. Acho que você está sendo muito benevolente quando considera que “a presidente eleita cometeu erros na condução da política econômica”; não foram erros, foi um desastre que combina incompetência, irresponsabilidade e arrogância.
6. Não vejo uma saída boa nem fácil para o Brasil, nem sei, mesmo, qual é a menos ruim nesta crise. Mas, ao contrário de você, acho que a pior saída seria a volta de Dilma, acrescentando o que ela já mostrou de despreparo o enorme desgaste político. Pelo que dizem, nem o PT quer ela de volta.
7. Não sei se quando considera que talvez estivesse “na hora de ouvir a manifestação de todo o povo” você está pensando em antecipação de eleições, o que tem sido proposto por alguns políticos e a presidente afastada sugeriu um plebiscito para definir eleições. Pode ser uma saída se o quadro político se agravar mais ainda, embora possa parece estranho que a presidente afastada tenha pensado nesta alternativa apenas depois que saiu do governo. No entanto, volta a questão da urgência que tratou o editorial. Na melhor das hipóteses, se for aprovada uma mudança constituicional, não imagino que esta eleição ocorra ainda este ano. E quem governa neste período? Quem terá condições de governabilidade neste vazio para lidar com a crise econômica?
Grande abraço, Sérgio
Infelizmente o tempo da política não segue em ritmo desejado, não compreende a urgência. Estamos vivendo entre tempestade e calmaria, com breve intervalos de suspense, esperando o próximo escândalo a ser desvendado. O que só aumenta a complexidade da arte de governar. Por enquanto, o mais importante é controlar a economia e combater a corrupção. A vulgarização dos escândalos é perigoso, pode mudar a opinião pública, ampliando a insatisfação, o descrédito nas instituições e a decepção da sociedade.
Lido o editorial, com minha sempre admiração por Teresa Sales; lidos os comentários, resta a pergunta: A titular fez o que fez. O interino está fazendo o que faz. Entregar a quem? Lembrando que, se acontecer o retorno da presidente afastada, o interino retornará como vice. E o nosso Congresso, vai continuar dp lado que der mais.
O Editorial disse apenas que o caráter provisório do governo é ruim para o país, que seria melhor para o país que acabasse a interinidade. Como é que alguém pode achar que uma situação assim provisória não é ruim para o país? Como governar adequadamente com uma espada de Dâmocles pendente? Claro que é mais difícil tomar as medidas necessárias e reconstruir a confiança sem saber se o governo será o mesmo em poucos meses. Os cargos estão sendo preenchidos ainda agora. Hoje estive em um evento para lembrar 20 de junho Dia Mundial do Refugiado, organizado em conjunto por ACNUR, Caritas e SESC (aliás mostrou um belo trabalho de integração que está sendo feito por essas instituições). Menciono o evento para falar da “interinidade”: o presidente do CONAR Comissão Nacional de Refugiados, Gustavo Marroni, que compareceu ao evento, havia sido nomeado há apenas 3 dias. Vinte mil pedidos de refúgio no Brasil aguardam alguma decisão.
Achar que não se pode criticar tão prolongada interinidade só tem um significado: preferir a protelação. Seria melhor para o país que a Comissão de Impeachment decidisse logo. Mas a bancada do PT está fazendo uma obstrução delirante (é o único adjetivo adequado que encontro para o comportamento dos senadores que o público considera bonitos – ao menos por fora – a ponto de serem conhecidos como “barbie” e “lindinho”), com o claro objetivo de ocupar os 180 dias sem resolver nada e depois defender a volta da Presidente afastada, simplesmente por esgotamento do prazo: por exemplo, protestaram aos gritos, para que não se ouvisse a voz dos colegas, quando o relator dispensou testemunhas que só poderiam repetir dados já apresentados. A bancada lulodilmista repete exaustivamente a mesma coisa, que se resume a variantes da narrativa do golpe, já que ninguém consegue argumentar que não houve crime fiscal e ocultação da real situação orçamentária. O crime de responsabilidade está mais que claro e provado nas 126 páginas do relatório do Senador Antonio Anastasia. Os argumentos da bancada da protelação ficam em generalidades como a declaração recente de que “a política neoliberal foi iniciada na China por “pi-no-chê”. Coloco o que ouvi, sei lá se ele pensava no ditador chileno, deve estar imaginando algum chinês de nome “Peeh Noh Shee”. Quem não acreditar, o vídeo da reunião da Comissão de Impeachment está disponível.
Não tem nenhuma base científica, é sofisma e ofuscação linguística, argumentar com umas generalidades de que a crítica e o apoio devem ser distribuídos igualitariamente para um lado e para outro, como se fosse um pedaço de pão que vou a dar a duas pessoas igualmente famintas. O diabo está nos detalhes, que poucos tem paciência de acompanhar. Os detalhes de um lado são completamente diferentes dos detalhes do outro lado. E estão sendo discutidos exaustivamente, com amplo direito de defesa, assim como já haviam sido discutidos exaustivamente na Câmara dos Deputados, antes da votação.
Tenho ficado com a impressão de que as posições predominantes dos Editoriais da Revista estão voltadas para a economia, o ajuste fiscal. Dessa forma a questão central é Chamar o Contador.
Concordo que colocar a economia nos trilhos é tarefa importante, mas colocá-la como a questão mais relevante da situação do país é cair no reducionismo simplório. As questões mais graves são políticas e superar a crise econômica com a manutenção da crise política que está aí é muito pouco.
Não defendo a volta da Dilma, acho que não terá governabilidade. Mas acho que Temer não é um governo legítimo. Independentemente de que tenha havido ou não “crime de responsabilidade” (a questão é contraditória entre os juristas), o fato é que o processo de impeachment é uma enganação. Ou há quem acredite que os deputados e senadores impiticheiros votaram sim em defesa da Constituição? Ou por serem republicanos?
Os impiticheiros estão no seu papel de enganadores; mas nós não podemos cair na posição ingênua dos enganados.
Ressaltar somente a questão econômica e pedir pressa para a conclusão do impeachment em nome da urgência de solucionar essa questão é aceitar a enganação. É sim, na prática, defender politicamente o governo Temer. Não adianta o Sérgio argumentar que a revista fez crítica “dura e clara” ao aumento de “salários dos servidores públicos”. A crítica foi feita em defesa do “prometido ajuste fiscal”, ou seja, defesa da vertente econômica.
A revista dá a impressão que a sua linha é a seguinte: vamos colocar as contas em ordem, não interessa com quais governantes, e depois pensaremos na política. Será?
Paulo
Não posso falar pela Revista mas, de minha parte, você tem razão: eu acho mesmo que não interessa quem será o governante que reequilibre as deterioradas contas públicas. Desde que assuma e atue dentro das regras democráticas, o que, aliás, nos obriga a suportar este Congresso. E, neste ponto discordo totalmente da sua afirmação de que “Temer não é um governo legítimo” e o “processo de impeachmente é uma enganação”. São todos tão legitímos quanto seria uma eventual volta de Dilma decidida pelo Senado, mesmo que eu considere um desastre para o Brasil. Sem um Estado equilibrado e com capacidade de gasto e investimento, tudo que carecemos hoje, qualquer decição política de peso cai no vazio por falta de instrumentos e pelas dificuldades sociais acumuladas, especialmente o desemprego. Concordo totalmente que a prioridade é politica, na verdade, a prioridade é de governabilidade. Mas a principal iniciativa de um governo com governabilidad e momento, a meu ver, é a politica macroeconômica e algumas reformas estruturais que decorrem de negociações e decisões políticas. O grande debate sobre políticas de desenvolvimento deve ser iniciado agora mas para fundamentar as orientação e as escolhas políicas em 2018 (pensei nisso quando escrevi o ensaio Socialismo democrático publicado na Revista Sera?. Ocorre que se chegarmos até lá sem o ajuste fiscal concluído (e veja que os resultados não são imediatos) vamos continuar com muito limitada capacidade de implementação de políticas de desenvolvimento e o debate político talvez ainda continue circunscrito à macroeconômica, o que será lamentável. Não preciso dizer mas vou repetir o que já sabe: acho a economia e, mais ainda, a macroeconommia, apenas um meio (e não um fim em si mesma) para o desenvolvimento nacional. Mas é um meio indispensável. Grande abraço, Sergio
Caro Sérgio
Permita-se dizer algo a respeito do seu ultimo comentário que mostra uma posição mais clara do que aquela que consegui perceber no editorial.
1 – Na minha leitura você entende que a melhor forma – ou menos ruim – de acabar com a interinidade é manter o Temer. Minha visão é diferente, por duas ordens de razão, mesmo considerando que a volta da Dilma dificilmente resolverá o nosso problema, em face do estágio a que chegamos e do parlamento que temos.
2 – A primeira razão é formal e tem a ver com a legalidade e legitimidade do impedimento. Este se justificaria se estiver caracterizado o crime de responsabilidade. Acho que não está e não estou sozinho – vários juristas de renome têm essa opinião e parlamentares que votaram pela admissibilidade do processo já declararam publicamente a sua dúvida. É bom lembrar que se há dúvida não pode haver condenação.
Está cada vez mais evidente que a votação, sobretudo na Câmara, mas não somente, teve outras motivações pouco republicanas. Nesse sentido, repito que 90% dos parlamentares declararam publicamente a razão de seu voto, sem que essa tivesse qualquer relação como objeto do julgamento. Sendo assim, independentemente da desfaçatez de alguns, serão eticamente defensáveis esses votos? A maioria desses compõe uma quadrilha de corruptos que foram base do governo afastado, o são do provisório e serão se este for efetivado. Todos eles, de qualquer partido, devem ser julgados e punidos junto com os seus corruptores.
Alegar que o impedimento se dá pelo conjunto da obra ou por incompetência na condução da economia também é ferir a constituição, pois essa razão não está prevista na Carta Magna.
Vivi – e você também – parte significativa da minha vida em um período em que as regras legais não valiam nada. Não gostei e não consigo concordar com a ruptura dessas regras. Por isso não posso concordar que a melhor saída – ou menos ruim – é aceitar essa ruptura.
3 – A outra razão é que na minha maneira de ver o nosso maior problema é político e dificilmente resolveremos o problema econômico de forma satisfatória sem enfrentar o outro lado da questão. Entendo que resolver de forma satisfatória é fazê-lo sem que a conta seja paga somente pelos de sempre.
Não acredito que resolveremos o problema econômico do país entregando as decisões importantes a um cidadão comprometido até a alma com o capital financeiro e a política externa a quem acha que o que é bom para os EEUU é sempre bom para o Brasil.
4 – Quando disse em meu comentário que não sabia qual a melhor saída possível é porque, de fato, não sei. Creio que vislumbro a desejável que, segundo me parece, seria: eleição geral ao menos no nível federal, precedida de novas regras; sem financiamento de campanhas por empresas; com menos partidos, melhor definidos em termos ideológicos e programáticos, e proibidas as coligações, entre outras medidas.
5 – Finalmente gostaria de registrar que apesar do meu declarado temperamento mais reservado achei interessante opinar nesse espaço de discussão. Lamento que algumas manifestações se mostrem um tanto preconceituosas e até com adjetivações raivosas. Prefiro os argumentos.
Abraço
Lula Baltar
Lula
Não queria voltar à discussão sobre legilidade e legitimidade do impedimento de Dilma. Acho que já se repetiram à exaustão os argumentos dos dois lados. Mas me sinto como se estivesse na varanda de Lucila tomando uma cerveja e com o carinho de uma discussão que, às vezes, se torna acalorada, mas com o ambiente de uma amizade histórica. Acho que é necessário fazer uma distinção entre o processo e o mérito. O processo está totalmente fundamentado na Constituição e teve o seu rito definido pelo Supremo Tribunal Federal, o que gerou este longo caminho de argumentos, documentos, acusações e defesas como nunca se viu num processo político ou jurídico. Mais legítimo impossível. O julgamento do mérito, respeitado este processo absolutamente legítimo, embora deva analisar o crime, é político. Quem julga crime é o Judiciário. Eu não posso afirmar se está caracterizado crime ou não. E não me cabe decidir. A opinião dos juristas, a favor ou contra, é muiuto válida. Mas a decisão definida pela Constituição e pelo rito do processo é do Senado Federal, ou seja, dos senadores da República que, gostemos ou não, foram eleitos e receberam a prerrogativa de decidir num processo de impeachment. Dizer que a maioria dos que votam e que podem decidir o impeachment compõe uma “quadrilha de corruptos” pode conter uma repulsa justa ao quadro político brasileiro, mas não pode retirar a legitimidade que lhes confere a Constituição, eleitos que foram para legislar e decidir, entre outras coisas, sobre o impeachment. Até porque, convenhamos, são várias quadrilhas dos dois lados da disputa. Compreendo sua posição. Mas considero equivocado falar de “ruptura” num processo constitucional e um grande exagero comparar a atualidade com o período em que “as regras legais não valiam nada”. Se alguma comparação histórica pode ser feita será com o impeachment de Collor, processo semelhante de impeachment e julgamento envolvendo além do crime de responsabilidade a crise econômica e a insatisfação da sociedade, o que chama de “conjunto da obra”. Abraços fraternais, Sergio
Como quarto membro do Conselho Editorial da Revista, deixo também a minha impressão sobre o comentário da amiga Teresa ao texto de “Opinião”.
Afirmar que o governo interino nem mais existe é puro emocionalismo. Ele está aí,e não há alternativa legal para substituí-lo, em curto prazo. Lutando para legitimar-se perante a opinião pública, depurando-se na medida em que o avanço da Operação Lava Jato (que ningém pode deter, ainda que quisesse, como o fez a Presidente afastada, por várias ações concretas, e não apenas manifestação de intenções)prossegue, arrumando a economia e desmontando, aos poucos, o aparelhamento da administração pública operado pelo PT, que nos levou ao caos econômico, político e moral em que nos encontramos.
Afirmar que a descrença popular na política é fenômeno internacional, com ênfase no Brasil, também não nos leva a nada. Infelizmente, não podemos viver e administrar um país sem política. E a tarefa política mais urgente que temos é concluir o processo de impeachment,para que as reformas tão faladas – inclusive a eleitoral – possam ser viabilizadas.
Enfim, falar em voz das ruas, aludindo às manifestações localizadas de militantes partidários remunerados pela volta da Presidente afastada, só se explica pelo distanciamento momentâneo do país em que se encontra a nossa amiga Teresa. A verdadeira voz das ruas será ouvida no dia 31/7, em manifestação já convocada pelo movimento Vem pra Rua, como apoio do Movimento Ética-Democracia, entre muitos outros, com três lemas: Conclusão do Impeachment, Todo Apoio à Lava Jato e Punição para os Corruptos, sem exceção. Só espero que Teresa já esteja de volta ao Brasil para ver isso.
A verdadeira VOZ DAS RUAS? Acorde Polyana!
http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/05/27/maquina-de-partidos-foi-utilizada-em-atos-pro-impeachment-diz-lider-do-mbl.htm
Saída legal existe e pode até ocorrer, conquanto não seja provável e nem consiga isoladamente resolver o problema do país: o retorno da presidente eleita é alternativa legal. Qualquer que seja o desfecho será necessário adotar medidas de transformação que não foram tomadas pelo governo eleito e não estão sendo sinalizadas pelo provisório. Os sinais emitidos pelo governo interino são somente na área da economia e, na minha humilde avaliação, indicam o sentido oposto de uma possível solução satisfatória para o país.
A questão que me parece estar evidente nesta troca de ideias é: na opinião predominante dos que fazem a revista, a questão econômica é a mais relevante e é melhor defender a efetivação do governo até agora provisório, mesmo que eventualmente haja dúvida sobre a legitimidade do processo de impedimento do governo eleito. Infelizmente não consigo concordar com esse ponto de vista.
Conhecendo alguns dos que fazem a revista (uns de perto, outros de meia distância, do tempo já longínquo do movimento estudantil) tenho dificuldade para crer, diante de todos os fatos desde o início (a votação da admissibilidade na Câmara) até as revelações mais recentes, que estejam convencidos de que o processo de impedimento se desenvolve com legitimidade e estribado em princípios republicanos.
Até que me provem o contrário, não consigo fazer concessões aos princípios para atingir o fim de substituir um governo com o qual não concorde e sobre o qual ache que foi desastroso na condução da economia. Se não existir indubitavelmente crime de responsabilidade, continuo acreditando que a forma democrática de substituir o governo eleito é na próxima eleição. Enquanto isto não ocorre, pressionar para que mude qualquer que seja ele.
Abraço
Luiz Baltar
Amigos,
A coisa está bem pior do que eu imaginava. Começo a achar a paisagem pedregosa da Armênia um bálsamo para tantos males. Não sei se tenho saúde para aguentar essa renovada batalha campal ao voltar ao Brasil na próxima semana. Começo a olhar para os lados do Irã e Afeganistão com simpatia crescente.
De todos os cenários, contudo, a volta de Dilma Vana me parece a senha para uma conflagração inaudita nos últimos cinquenta anos. Desnecessário dizer, contudo, que todos os comentários merecem respeito pelo conteúdo e forma. Só me permito aduzir que numa situação de semelhante perfil, algo precisa ser feito.
De forma que, aqueles que assumem candidamente, do fundo do coração, não saber o que propugnar, melhor dar a vez aos que, embora equivocados, não se deixam transfixar pela paralisia. É assim nos incêndios, é assim nos naufrágios, é assim quando uma convulsão derruba um passante na calçada. Não dá para esperar, matutar, abrir manual e achar o ótimo.
Portanto, o que está posto, está bom. E é desejável que o placebo vingue. Chamar Sobral Pinto em centro espírita não debelará as chamas que lambem o tanque de combustível. Que cada um faça sua parte. Justiça é com o judiciário. E este nunca esteve tão prestigiado.
A nave Brasil afunda. No fundo do mar, não se usa black-tie.
Abraços,
FD
Prezado Senhor Luiz Baltar,
Não o conheço, mas, pelo sobrenome, imagino-o parente do Professor Antônio Baltar e do companheiro da Sudene Abelardo Baltar da Rocha, gente de muito respeito e amizade por minha parte. Por isso me motivei a voltar a este debate para comentar algumas de suas observações sobre o nosso editorial.
1) Como cogitar de manter ou não o Governo Temer? Ele só poderá encerrar-se se o impeachment da Presidente for rejeitado, o que não me parece muito provável. Eleições agora só com reforma constitucional, que exige 3/5 dos votos das duas casas legislativas, em dois turnos de votação cada uma. Impraticável até 2017, tempo suficiente para afundar de vez o país,pela instabilidade e imprevisibilidade do futuro. Por isso, a proposta de volta da Dilma com o compromisso de convocar eleições é de extrema desfaçatez. Porque quem levanta essa bandeira sabe muito bem dessa inviabilidade.
2)Como questionar a legitimidade do processo de impedimento, se é instrumento previsto na nossa Constituição, e já foi usado anteriormente, contra Collor, com fundamentos bem menos consistentes do que os de agora? A nossa Suprema Corte já o sacramentou, em diversos pronunciamentos, e os seus promotores, Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, são juristas do maior respeito. A narrativa do “golpe” só pode ser entendida na linha de Goebells, para quem uma mentira mil vezes repetida pode converter-se em verdade.
3) As motivações dos votos dos parlamentares não têm qualquer valor jurídico, e me admira que um jurista como José Eduardo Cardoso insista nessa tese. Se agiram por interesse, por instinto de sobrevivência, ou o que mais for, o que conta são os votos. A Justiça não pune intenções, apenas ações concretas.
4) Como falar em ruptura das regras legais? Ruptura houve, sim, nas pedaladas e nos decretos não autorizados legalmente. Quem o diz são os técnicos do TCU e os Procuradores da República, fontes insuspeitas.
5) Qualificar de submissão ao Império Americano a política externa anunciada pelo Ministro José Serra é pura emoção, aliada ao simplismo. Não estamos mais na década de 1950, e Serra, líder estudantil nos anos 60, exilado político, de formação econômica cepalina, não merece tal rótulo.
6) Para concluir, não admira que o comentarista aqui refutado se declare confuso, sem saber que solução propor. Ele só a encontrará quando despojar-se de ideias preconcebidas, raciocínios esquemáticos e maniqueísmos.
Só espero ter contribuído, em um mínimo que seja, para isso.
Sr. Clemente
De fato o senhor não me conhece. Com muito orgulho sou filho de Antonio Baltar com quem aprendi a discutir ideias sem preconceito e respeitando a opinião dos outros.
Pelos seus comentários estou entendendo que está seguro que o processo que se desenrola está efetivamente baseado em um crime de responsabilidade e que não há outras intensões, menos republicanas. Além disso, se há outras intenções, não há problema, pois o fim o justifica. Parabéns. Deve estar satisfeito com os procedimentos adotados. Eu não creio que sejam defensáveis.
Não sei se feliz ou infelizmente, diferentemente do senhor, continuo pensando que se não se tiver demonstrado que efetivamente houve crime de responsabilidade, manter o impedimento é ferir a Constituição. Há posições diferentes entre os mais ilustres juristas e dúvidas,já manifestadas publicamente, de parlamentares sérios que votaram pela admissibilidade. A condenação só deve ocorrer se não houver dúvida (essa é regra básica da convivência civilizada e democrática).
Agradeço a sua intenção – um tanto indelicada na forma – de me ajudar a sair do estado de “confusão” em que me encontro, segundo a sua ilustre avaliação. Provavelmente não leu com atenção o que comentei. Creio que expressei claramente a opinião de que considero a pior solução defender a efetivação do governo Temer, pelos equívocos de origem. Também estou certo que o interesse do capital financeiro, representado pelo novo ministro da fazenda, não é o interesse do país (como não achava que era quando o ministro era Levy). Diante da complexidade do quadro político atual, e sendo apenas um observador a partir da janela por onde vejo a vida, não me considero diminuído pelo fato de ter dúvidas quanto ao que é possível. Certamente a sua forma de ver é diferente da minha e é um direito seu, sobre o qual não pretendo interferir. O que não aceito para mim é o fim a qualquer custo.
Quanto ao senhor José Serra não é o primeiro, nem único e nem o último a ter hoje posições divergentes (mais do que diferentes) das que já tiveram no passado. Creio que as posições pretéritas de um cidadão, isoladamente, não o qualificam para o presente. Imaginar que só pelas suas posições no passado não é passível de discordância em relação às suas posições atuais é preconceito. Em minha opinião, que certamente não é tão abalizada quanto o senhor acredita que é a sua, o que ele tem dito sobre o que fazer em termos de política externa não tem nada a ver com aquele passado (de líder estudantil no Brasil e estudante, aluno de meu pai, na Cepal e depois professor). O que tem dito não me parece bom para o futuro do Brasil (veja-se a defesa dos tratados que são ardorosamente defendidos pelos EEUU e contestados por muitos). É uma opinião sobre o que ele tem dito e não um rótulo.
Parabéns pelas certezas que tem. Eu as respeito, mas lamentavelmente não acredito nelas.
Cordialmente
Luiz Baltar
Luis Baltar!
Confesso que minhas posições convergem com as suas. Gostaria só de colocar algumas questões adicionais sobre minha posição:
1) Sobre o processo de impeachment, não sou um jurídico para ter uma posição mais taxativas sobre a legitimidade do processo. Mas existem tantos argumentos favoráveis quanto os desfavoráveis. Entretanto uma coisa é certa: os parlamentares impiticheiros (com raras exceções) não o são por motivos republicanos ou de fidelidade à Constituição. Será que alguém, que tem uma posição de compromisso com a solução dos enormes problemas sociais do país tem dúvidas sobre isso?
2) Não aceito o raciocínio seguinte: a volta da Dilma está praticamente descartável; uma nova eleição seria um longo processo e “O Brasil tem Pressa”. Logo nos conformemos com o governo Temer. Nego-me, irredutivelmente, a ter uma posição quer seja de indiferença, de neutralidade, de complacência, e muito menos de apoio ao governo Temer. Se tenho muitas críticas ao governo Dilma, tenho iguais ou mais ao governo Temer. Minhas convicções políticas desde à época do golpe militar não me permitem conciliar com questões de princípio. O governo Temer está cercado e apoiado por políticos que não possuem nenhum compromisso com um projeto republicano para o país e estão mergulhados na corrupção no mínimo iguais ao governo Dilma;
3) Participei do movimento estudantil na época em que Serra era presidente da UNE; convivi com a suas posições na época de exílio no Chile; fui de um grupo da Maria da Conceição Tavares na época em que Serra expressou suas ideias no livro com ela sobre o milagre econômico” da ditadura muito e que era muito lido por todos nós exilados. Na volta para o Brasil acompanhei a trajetória direitista dele em São Paulo. Daí em diante constatei sua posição oportunista, arrogante, marcada por uma pretensão de subir ao poder máximo, a qualquer custo. Sobre a política que está adotando no ministério recomendo a leitura da entrevista de Celso Amorim, publicada no Jornal do Brasil no dia 19/06/16;
4) Quanto à questão da política econômica do governo Temer não me atrevo a tecer maiores comentários por falta de conhecimentos aprofundados sobre o assunto.(Não fico tranquilo com a constatação de que os integrantes da equipe são de elevada competência. Delfim Neto também era assim denominado na época da ditadura). Mas indico, com forma de ouvir o outro lado, um artigo de Marcus Ianoni, publicado hoje no Jornal do Brasil. Pelo menos levanta dúvidas sobre a validade da linha seguida tendo em consideração os interesses de resolver os problemas da séria desigualdade social do país (para mim a central que devemos como cidadão republicanos enfocar);
5) Por último quero novamente registrar a minha indagação aos editores da revista em comentário que fiz no dia 19/06/16 sobre o último Edital. Segue abaixo:
“Ressaltar somente a questão econômica e pedir pressa para a conclusão do impeachment em nome da urgência de solucionar essa questão é aceitar a enganação. É sim, na prática, defender politicamente o governo Temer. Não adianta o Sérgio argumentar que a revista fez crítica “dura e clara” ao aumento de “salários dos servidores públicos”. A crítica foi feita em defesa do “prometido ajuste fiscal”, ou seja, defesa da vertente econômica.
A revista dá a impressão que a sua linha é a seguinte: vamos colocar as contas em ordem, não interessa com quais governantes, e depois pensaremos na política. Será?”
Continuo a achar que a revista não esclarece essa questão.
Paulo Brasil
Caro amigo Sérgio
Temos opiniões respeitosamente diferentes sobre vários pontos do tema em questão e isto não é necessariamente ruim. Lamento que nem todos que fazem a revista tratem a questão no mesmo tom. Não vou mais me manifestar sobre o tema que, segundo me parece, se acirrou a partir de quando achei que devia opinar sobre a matéria, em relação à qual havia divergência nos pontos de vista entre dois amigos diletos. Achei também que o espaço era adequado para colocar a minha opinião e as minhas dúvidas. Posso estar equivocado nos meus pontos de vista, nos quais acredito até que me convençam do contrário, pois não me considero dono da verdade, mas pela reação de alguns que fazem a revista (evidentemente não é o seu caso), parece que errei foi na escolha do espaço para coloca-las (as opiniões e também as dúvidas). Saio de cena com mais uma interrogação: diante de algumas certezas absolutas e do incômodo causado por uma opinião diferente, talvez esteja na hora de mudar o nome da revista. Será?
Só para que não fique uma impressão errada: quando me refiro à ruptura das regras estou preocupado com o precedente que não é bom conselheiro. A sabedoria popular diz que coceira começa, mas não se sabe como termina.
Abraço fraterno
Lula
Caro Luiz
(agora que sei que é filho do Prof. Antônio Baltar, espero poder tratá-lo assim):
Agradeço a cordialidade como me tratou, apesar das minhas críticas, um tanto duras, reconheço. Mas quanto às suas dúvidas, pondero que não foram deduzidas por mim, você mesmo as assumiu, o que não deixa de ser uma atitude, antes de tudo, honesta.
Sou um pouco mais velho que você, mas minha cabeça não está mais nos anos 50/60, embora me considere sempre uma pessoa da Esquerda. O mundo mudou muito em nossa volta, não temos mais direito a ter as ilusões que tínhamos. Mas o sonho de uma sociedade mais justa e igualitária persiste.
Viveremos ambos para aprender mais esta lição da História que os próximos anos nos reservam.
Saudações.
Clemente Rosas
Estimado amigo Sérgio!
Desculpe mas eu não havia visto sua resposta datada de 20/06 a meu comentário do dia 19/06 quando escrevi o novo comentário dia 21/06.
Acho que os debates, independentemente da posição dos debatedores, tem sido rico para elucidar as ideias dos participantes da revista.
Por isso sem querer abusar de sua paciência(embora pode ser que o faça), seguem outros comentários apenas para marcar posição: a diferença entre nossas posições (minha e sua, e talvez minha a da linha dos editoriais da revista) é que você reconhece o governo Temer como legítimo e eu não. Volto a dizer que as condições em que Temer assumiu o governo não são legítimas: 1) os chamados “crimes de responsabilidades” são rechaçados com tanta ou maior ênfase quanto são defendidos; 2) os votos de deputados e senadores, em grande parte, não se deveram a esta argumentação (“crimes de responsabilidades”), a uma fidelidade desses parlamentares que aí estão, à Constituição ou a um ato republicano. Por tudo que se revelou durante e após a votação pode-se deduzir que o argumento (“crimes de responsabilidade”) foi apenas um pretexto para alcançar outros objetivos; 3) o processo precisava de apoio da população e, esse papel foi desempenhado pela mídia dos poderosos. Concentração de notícias na corrupção dos que se situavam ao lado do governo para dar a impressão de que o processo de impeachment se justificava pela corrupção do governo Dilma. A população, em sua grande maioria, nem sequer entende os argumentos dos “crimes de responsabilidade”; nas manifestações dos que apoiaram/apoiam o impeachment esses argumentos não foram/são os alegados. Isso foi/tem sido outra enganação pois a Dilma não foi afastada por prática de corrupção;Tanto isso é verdade que quando surgiram as denúncias mais comprometedoras de corrupções de muitos políticos impicheiros (coincidentemente muitas delas só reveladas após as votações do impeachment) as manifestações passaram a ser contra a corrupção venha de onde vier; 3) o governo Temer que aparentemente substitui o “governo corrupto” de Dilma é tanto quanto ou muito mais comprometido com os corruptos. Basta ver os ministros que nomeou e os políticos do parlamento em quem o governo se apoia e perante os quais se curva. Os que foram defensores do impeachmente achando que se tratava de eliminar a corrupção no governo (grande parte da população influenciada pela mídia dos poderosos) ficou o desengano.
O ajuste econômico é importante e isso tem sido enfatizado pela revista. Não sei se a linha da política econômica seguida é a mais adequada para a o país. Existem críticas contundente de economistas quanto a isso.
Sendo assim para mim, cabe-nos adotar uma posição crítica quanto a legitimidade do governo Temer e assumir a única linha de constituição de um governo legítimo frente à situação atual: plebiscito sobre a realização de eleições limpas! Acredito no amplo apoio da população, tanto dos que gritaram “fora Dilma”, quanto dos que hoje gritam “fora Temer”. O plebiscito resolverá se o governo Temer é ou não legítimo!!!
Não dá para fugir de um processo que visa a instituição de um governo legitimado pelo apoio popular em nome do “Brasil tem pressa”.
De qualquer forma fica o abraço fraterno do amigo de longas datas.
PB
Caro amigo Sergio
Não se preocupe, pois não vou voltar ao tema, tal como prometido. Mas fiquei com receio de que a invocação da sabedoria popular, em minha derradeira mensagem, para justificar o meu receio em relação aos precedentes, não fosse adequada ao espaço da revista. Mas, pensando bem, fiquei mais tranquilo, pois me lembrei de que Brecht tinha as mesmas preocupações. Por isso acho que vale a pena reproduzir o poema a seguir que provavelmente é conhecido de todos. Espero que a sua leitura possa nos ajudar – a todos – a pensar.
Sincero e fraterno abraço
Lula
Primeiro levaram os negros,
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas eu não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas eu não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram os desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já eh tarde
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo
Bertold Brecht
Clemente
Reconhecer que, no mínimo, exagerou no tom é uma qualidade. Tal como disse ao meu amigo Sergio, não vou mais me manifestar neste espaço. Mas, em face de sua última mensagem, para não ser indelicado, respondo.
Na minha maneira de ver, ter dúvidas não significa estar confuso: parece-me que as perguntas e as dúvidas são tão ou mais importantes dos que as certezas e as respostas. Pensei que o próprio nome desta revista sinalizava nesse sentido. Será? Talvez estivesse enganado.
Perdoe-me a discordância, mas não me considero com a cabeça nos anos 50/60. As ideias são novas, mas os princípios continuam os mesmos. Na minha avaliação, salvo melhor juízo, estou no mesmo lado em que sempre estive.
Não consigo aceitar que se desconsiderem as regras democraticamente estabelecidas, qualquer que seja o fim a que se pretenda chegar. No passado, muitos sonharam que a revolução poderia fazer isto. Eu não tive esse sonho. Na minha casa, desde o final dos anos 40 o sonho, talvez utópico, era o socialismo democrático. Creio que o respeito às regras democráticas é o caminho para que possamos chegar a uma sociedade mais justa e igualitária, com a qual, segundo disse, você também sonha.
Cordialmente
Luiz Baltar
O primeiro comentário da Senhora Glauce Oliveira a este editorial é de natureza impressionista, e, de certo modo, ofensiva aos outros comentadores, ao ponto da nossa Teresa apressar-se em dar uma explicação sobre a respeitabilidade dos componentes do Conselho Editorial da Revista. O segundo tenta ser jocoso. Como impressionismo e jocosidade não implicam argumentos, não têm como ser contestados com outros argumentos. Minha sugestão é que a referida senhora empreste às suas observações uma maior sobriedade e algum cuidado. Começando por um melhor domínio do nosso idioma pátrio, distinguindo as palavras “concerto” (de que”desconcerto” “e desconcertar” são derivadas) e “conserto”.