Editorial

Washington Crossing the Delaware by Emanuel Leutze, 1851 (The Metropolitan Museum of Art).

Washington Crossing the Delaware by Emanuel Leutze, 1851 (The Metropolitan Museum of Art).

A interinidade em um cargo público gera sempre algum grau de incerteza e insegurança, que cresce e dificulta a gestão na medida em que se alonga o período para a nomeação e posse do titular. O que dizer da interinidade do mais alto cargo da República? E mais ainda, quando a interinidade é de um Presidente em um país numa grave crise econômica que exige decisões drásticas e rápidas, que demanda liderança e poder decisório do chefe de Estado? Esta é a situação que está vivendo o Brasil nestes meses de longo e maçante processo de impeachment da presidente da República, que já se arrasta há meses e continua no Senado com repetição à exaustão dos mesmos argumentos, documentos e testemunhos analisados desde a discussão na Câmara de Deputados. Na atual crise econômica e política do Brasil, alguns meses de interinidade na presidência da República são uma eternidade, criando um estado de enorme insegurança e incerteza política. Quando o Brasil mais precisa de um chefe de Estado, rigorosamente, não tem presidente, suportando a ambiguidade de um interino refém de 81 senadores, que se aproveitam do longo prazo para barganhar favores nem sempre lícitos, e uma presidente afastada que se mobiliza e conspira para voltar ao cargo, participando de atos públicos e negociando (com que meios ou argumentos?) a alteração do voto de senadores. O rito definido pelo Supremo Tribunal Federal deve ser respeitado, claro, mesmo sabendo que nada de novo – fato, informação ou argumento – vai surgir desta repetição maçante de acusação, defesa, documentos lidos e relatórios divulgados. Mas o Brasil tem pressa, as urgências do Brasil clamam por um presidente, um chefe de Estado com responsabilidade, competência e coragem  para enfrentamento da grave crise econômica.