Editorial

Basta! O Brasil não aguenta mais tamanha desfaçatez, cinismo e descompostura dos homens públicos de todos os Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – em todos os níveis da Federação. Basta! O Brasil não tem a menor confiança nas instituições da República, nem naquelas compostas com o seu voto, como o Congresso Nacional, nem mesmo nas que deveriam representar a racionalidade jurídica, constituída por juristas hipoteticamente escolhidos pelo mérito e pela credibilidade. Basta! O Brasil repudia o comportamento dos grandes empresários viciados nas benesses do Estado, avessos ao risco e pendurados no “capitalismo de laços”, capitalistas que, como dizia um economista, não gostam do capitalismo. Basta! O Brasil não tolera mais a descarada e generalizada corrupção que tomou conta do país, disseminada em todas as instâncias e níveis do Estado e da sociedade, comprometendo os valores republicanos. Basta! O Brasil está cansado da mentira e da manipulação de dados e informações, para defesa de privilégios de corporações e grupos sociais que se vêm, historicamente, apropriando de recursos públicos, aparelhadas nos órgãos de governo, para benefício próprio. Basta! O Brasil não pode conviver com a violência de cada dia nas cidades, destruindo a vida dos jovens e suas famílias, o Brasil não suporta mais as enormes desigualdades sociais, a educação falida e os serviços públicos deteriorados, contrastando com a agressiva ostentação de riqueza num país miserável. Para sair deste atoleiro, o Estado brasileiro tem que se livrar das amarras das corporações e dos laços promíscuos com os empresários. Como propunha Mário Covas lá atrás, o Brasil precisa de um “choque de capitalismo”, acabar com o “capitalismo de laços” que captura o Estado, de modo que este possa concentrar suas energias na oferta de serviços públicos de qualidade para a grande massa da população, principalmente educação e formação profissional. Neste desmantelo político, social, econômico, institucional e moral do país, resta-nos, contudo (e felizmente), a Constituição e as regras gerais da democracia, construída com sacrifício, coragem e competência. Sem ela, seria a barbárie. Só a democracia contém as bases para a negociação e a definição dos caminhos que poderão preparar a mudança e a construção do futuro do Brasil.