Luiz Alfredo Raposo (*)

Em 2018, vamos passar entre dois rochedos da antipolítica: o do populismo (dos que não estão nem aí para moralidade) e o do moralismo (dos que não estão nem aí para política). Hoje, eles somariam uns 50% do total. E são compactos: petista não vota em genérico. Nem moralista, em petista. Um é mais numeroso e disciplinado. Outro, mais atraente a eleitores de centro.

O curioso é que ambos devem brilho novo ao sopro da Lava Jato.  Pois esse Leviatã dos jacobinos tem ajudado como ninguém a desmoralizar a política. Com apoio de mídia, botou o país em clima de Comitê de Salvação, onde mais vale degolar político. E já se igualaram delações a provas, doações a propinas, indiciados a condenados. Até avocou a si a LJ tarefas legislativas, que o Congresso pareceria usurpar! Maior, porém, a mãozinha dela para desmoralizar a moralidade… Preventiva perpétua parece sua utopia, mas já deu mil anos de perdão a delinquentes e parece encarar um trabalho de Sísifo. Está no quarto ano e nada de luz no fim do túnel. Temo que acabe em surmenage. Ou suma sob um Himalaia de processos.

E a outra metade, a meia-nação centrista? Tonta com o bafo do bicho… Quer ação política e moralidade pública, mas se perde em mil detalhes de visão e agenda. O que obrigaria a liderança de centro a repetir e repetir: 1) política é arte vital. Alternativa à guerra e também à revolução, à pulsão de “passar a limpo”. Destruir é rápido. E o legado, escombros. Política é ramo de construção-e-reforma e trabalha pedreiramente: projeto por projeto, acordo por acordo. Pela paciente composição de interesses. O que, com toda a lerdeza, ainda custa menos que o “prendo e arrebento”. Nossa história mostra bem. Os impacientes ligeiro não deram certo: Jânio correu aos sete meses, Collor foi expelido antes dos três anos, Dilma… 2) Interesse não é coisa do bute. Depende da marca. O empresário moderno pede trens no horário e escolas que preparem. O que dá em mais produção, emprego e bem-estar. O coronel rural ou urbano, bolsas nutritícias de sua clientela… 3) Enfim, moralizar começa (e quase termina) por reduzir a “área de caça” do corrupto.  Desestatizar, enxugar a máquina, submetê-la à “auditoria social”.

Mas a liderança de centro, muda… Pior: no plano prático, cega para a urgência da união. Os tucanos tomam distância não só do governo e da sigla maior e mais capilarizada, como de pedaço deles próprios.  E isso dispara uma reação em série que, se não engordar um candidato que se associe aos êxitos da política atual, estilhaçará o centro político. O país terá de optar entre os extremos. E a fatura virá com uma leveza de asteroide.

 

(*) Bancário aposentado