Trata-se de antiga lenda. Uma história moral, se algo assim for possível. Aconteceu, primeiro, com Timeu de Tauromênio (356-260 a.C.). Mas acabou famosa, só depois, nas mãos do cônsul romano Cícero (106-43 a.C.), em sua Tusculanae Disputationes. Ao mostrar que todo poder é incerto e transitório. Mais tarde, o próprio Cícero provaria desse fel. Acabou proscrito. Executado. Com mãos e cabeça exibidos nas ruas de Roma. Só, que essa é outra conversa.
Aconteceu, no caso, com Dionísio, O Velho. Que, depois de libertar Siracusa do domínio de Cartago, tornou-se um tirano sanguinário. Invejado por governar a mais rica cidade da Sicília, ninguém o cortejava mais que Dâmocles. Dionísio, irritado com tanta bajulação, pediu que ocupasse o seu posto ao menos por um dia. Foram então dados, a esse aprendiz de ditador, riquezas muitas e as mais belas mulheres (hoje, esse relato seria politicamente incorreto). E tudo corria bem. Até que Dâmocles percebeu haver, pendurada sobre sua cabeça, uma espada afiadíssima. Presa por frágil fio do rabo de cavalo. Dionísio explicou que assim vivia. Sob o permanente risco de perder tudo. E, com receio de morrer, Dâmocles preferiu devolver ao tirano seu posto.
Espada é palavra que vem do grego. Numa referência a Esparta, cidade conhecida por seus guerreiros ferozes. Muitas outras histórias envolvem espadas. Como a de Excalibur, cravada na pedra. E que só poderia ser removida por homem destinado a ser Rei da Inglaterra. Um conto que talvez seja baseado em fato real, ocorrido no século XII. Quando um cavaleiro, Galgano Guidotti, depois de ter renunciado à nobreza, tornou-se eremita. Devotado às lições da Sagrada Escritura, em seus delírios teria se encontrado com os 12 apóstolos. Junto a uma cruz. E, para marcar o local, fincou sua espada no chão úmido, que ali ficou depois petrificado. Tudo como ainda hoje se pode ver na Capela de São Galgano, na cidade de Montesiepi (Itália).
Indo adiante, e não por acaso, a deusa grega Themis, símbolo do Poder Judiciário, tem na mão uma balança; e, na outra, uma espada. Que representa distinção entre o verdadeiro e o falso. Em desalinho com a visão de Ruy Barbosa (Discursos e Conferências), para quem “A espada não é a ordem, mas a opressão”. Em sua homilia desta semana, o padre Sérgio Absalão, na capelinha dos Aflitos, lembrou que o próprio Deus é por vezes apresentado com uma espada. Sendo, sua palavra, uma “espada de dois gumes”. Segundo ele, Santo Agostinho explica essa metáfora dizendo que Deus fala “das realidades temporárias e das realidades eternas”. Seja como for, a lenda parece boa lição para nossos homens públicos em nosso país. A partir da frase atribuída a Shakespeare, “O mal da grandeza é quando ela separa a consciência do poder”.
O Congresso quer mandar em tudo. O Supremo até lei criou, para beneficiar réu condenado (em 3 instâncias) por corrupção. O Executivo, sem qualquer coordenação, se perde numa radicalização insensata. A oposição esquece o interesse coletivo e só pensa em votos para as próximas eleições. Enquanto nós, indeterminados cidadãos comuns do povo, assistimos, incrédulos e perplexos, a um Brasil que sofre. Essa gente parece não perceber que, sobre todos, pesa a opinião pública. Uma Espada de Dâmocles. Lembro nosso queridíssimo Dom Helder: “Eles pensam que o povo não pensa. Mas o povo pensa”. É isso, meus senhores, de Brasília. Não abusem, por favor. Vocês podem até não acreditar, mas o povo pensa mesmo.
Iniciando com o frase “O mal da grandeza é quando ela separa a consciência do poder”, e buscando entender o que está ocorrendo segregamos nossa opinião da seguinte maneira: para que um País exsta esse deve estar estruturado sobre três pilares distintos, ditos poderes. O poder executivo, o poder legislativo e o poder judiciário. Passa a ser risível quando se aponta para o problema enxergando-se apenas um poder. Nossa crise atinge os 3 poderes constituídos. O que se assiste hoje é um executivo que se “esqueceu” do povo que lhe trouxe ao trono, de um legislativo e frequentemente, para ser singelo, legisla em causa própria, e um judiciário que se pauta sobre interpretações das leis. Sim, interpretações, já que não existe nenhuma lei que seja simples o suficiente para dizer: se você estrupou uma mulher ou uma pessoa indefesa, deve “pegar uma cana” de 20 anos, por exemplo. O médico estuprador voltou ontem para a cadeia. Sua pena será muito pequena diante de 36 mulheres sofridas. Continuando, um fazendeiro, para ampliar o puxadinho, desmatou 3 mil hectares de floresta. Como ninguém sabe que é o verdeiro dono da área (SIC) ele terá os equipamentos de desflorestamento queimados. Porque a justiça não busca em primeiro lugar atingir o ponto mais vulnerável – o bolso – daquele que comete crimes? Por que há saidinha no dia das mães para uma criminosa que matou a mãe, ou uma mulher que atirou sua enteada de uma varanda no sexto andar de um prédio, e pasme, a criança não tinha seis anos? Falar-se do todo é tratar mais do mesmo. O executivo ainda não enteu que ele trabalha para o povo e não para o assentamento familiar ou com discursos que nos ofendem a todos, seja pela ignorância e ou grosseria. Os deputados e senadores deveriam ter no máximo dois assessores. Sem direito a carros, e se reeleitos, após o fim do segundo mandato iriam embora e sem aposentadoria bem grandinha paga pelo povo. Para que temos tantos políticos em Brasília? Aliás, Brasília foi construída com recursos da Previdência, ou seja, já começou errada. O tema, bem colocado pelo articulista, nos cala fundo e de certo modo nos trás amargas lembranças. Na década de 60, e devido a muita bandalheira, o povo foi induzido a “salvar a pátria amada” dando ao governo tudo o que tinham em jóias de ouro. A paga foi uma aliança de metal onde estava cunhado: dei ouro para o bem do Brasil. Será que foi para o bem do Brasil realmente? Tá certo que era entre o final da década de 50 e o início da década de 60. faz tempo, mas bem ilustra que o que temos por executivo, legislativo e judiciário anda na contra-mão dos interesses do povo.