Editorial

O Brasil entrando numa gravíssima crise sanitária, uma verdadeira calamidade pública, com governos construindo às pressas cemitérios e valas comuns para enterrar os mortos pelo Covid-19, filas de doentes esperando vagas nos hospitais, rebelião popular derrubando portões de hospital em Belém, médicos diante de uma escolha cruel dos enfermos que vão utilizar os escassos meios hospitalares (quase uma decisão sobre quem pode morrer), e o presidente da República, alheio à dramática realidade e ao mundo real dos brasileiros, está preocupado, apenas, com seus fanáticos seguidores e com a proteção dos seus filhos, ameaçados de investigação pela Polícia Federal.

Na ausência total de empatia, o presidente responde com um desprezível “E daí?”, quando perguntado sobre o número de óbitos de brasileiros, que ultrapassou a marca da China. Cinismo, alheamento e falta de empatia são a marca do senhor Jair Bolsonaro, que ainda tentou fazer piada com os mais de cinco mil brasileiros mortos pelo Covid-19:  “Eu me chamo Messias, mas não posso fazer milagre”. Como se estivesse em outro planeta, nos últimos dias, o presidente gastou todas as suas energias na substituição do diretor-geral da Polícia Federal, com o objetivo explícito de interferir nas investigações que alcançavam seus filhos e parceiros, mesmo enfrentando o ministro da Justiça e Segurança, que lhe tinha avalizado o falso discurso moralista. E que pediu demissão, denunciando as pressões para controlar as investigações da PF. Confirmando a sua intenção de interferir na Polícia Federal, o presidente nomeou o delegado Alexandre Ramagem para dirigir a instituição. Felizmente, o Supremo Tribunal Federal, através de liminar do ministro Alexandre de Morais, impediu que o presidente empossasse o novo Diretor-Geral, considerando haver, no caso, desvio de finalidade, e ressaltando que a Polícia Federal é uma instituição do Estado, não um órgão de informação da Presidência da República. “Sou eu quem manda”, ainda reagiu Bolsonaro à decisão do STF, com mais esta expressão de autoritarismo e alheamento.

Não, Bolsonaro. O senhor foi eleito presidente da República, não ditador do Brasil. Por mais que seja este o seu desejo, a Constituição Brasileira criou regras e instrumentos de contrapeso, para garantir a democracia contra aventureiros irresponsáveis.