Fernando Dourado

Leonid Pasternak The Torments of Creative Work.

I

O processo de escrever é misterioso. No meio de relatos por vezes palpitantes, de repente me vem a vontade de falar de episódios avulsos de minha vida, de dar um salto no tempo, de atrapalhar a cronologia rigorosa que, bem ou mal, vinha seguindo. Que diferença faz isso? O impulso de hoje bem pode ter a ver com o seriado que estava assistindo há pouco na televisão, em que Herivelto Martins e Dalva de Oliveira vivem às turras. Será que a música, os figurinos e as coreografias do cassino da Urca não me remeteram à minha própria infância, me identificando com o ar de desespero do menino Peri Ribeiro?