A morte de Júlio César, por V. Camuccini (1804-1805).

 

Esse título vem do latim requiem (descanso), assim é conhecida a Missa pro Defunctis (para o repouso das almas). Provavelmente mais famoso e belo Réquiem será o de Mozart, inacabado quando morreu (em 5/12/1791). Estranho, nele, é que seu libretto seja premonitório. No movimento Dies Irae, está “Quanto temor haverá então/ Quando o juiz vier/ Para julgar com rigor todas as coisas!”. No Recordare, “Choro e gemo como um réu/ A culpa enrubesce meu semblante”. Curioso, também, por ser tão atuais suas palavras. Basta ver Tuba Mirum, “Logo que o juiz se sente/ Tudo o que está oculto, aparecerá/ Nada ficará impune/ A que patrono recorrerei, quando apenas o justo estará seguro?”. A resposta a essa pergunta de Mozart, “a que patrono recorrerei?”, tratando-se da Lava Jato, já sabemos. Réus e investigados recorrerão a bem conhecidos ministros do Supremo. Mas não só eles os protegem. Trata-se de uma conspirata.

Lado a lado estão abastados empresários; Deputados, Senadores, muitos que receiam ser presos; parte do Judiciário, no corporativismo de sempre, quando começam a surgir casos comprometendo colegas; certos advogados, como se suas prerrogativas profissionais pudessem estar acima do interesse coletivo de impedir ou punir crime. E, bom não esquecer, o próprio Presidente da República. Que abandonou o discurso de combate à corrupção, com o qual foi eleito, para proteger os filhotes. Contra essa estrutura monumental de poder, só alguns do Ministério Público (enquanto não defenestrados pelo Procurador Geral da República). E uns poucos juízes, que merecem nosso respeito. É desigual.

Na tragédia Júlio Cesar, Shakespeare nos lega um dos mais belos discursos fúnebres. O de Marco Antônio. Lembro porque bem poderíamos começar, com ele, um texto para chorar o fim da Lava Jato. Ou em sua defesa. “Vim para enterrar Cesar, não para louvá-lo. O bem que se faz é enterrado com os nossos ossos”. Brutus foi um dos assassinos de Cesar, que o criou. E “Brutos era um homem honrado”, segundo Marco Antônio. Ele, aqui, simboliza o poder. Os que foram coniventes ou enriqueceram na grossa corrupção. Todos “homens honrados”, segundo alguns do Supremo. No fim do texto de Shakespeare, vai o povo às ruas. Clamando por justiça. A voz do indeterminado cidadão comum que não mais aceita ver, tanta corrupção, alegremente posta para baixo do tapete da história.