Semana passada, falei de um encontro entre JK e José Américo… Que todo mundo, em vez de dizer o nome completo, chama só de “Zé 3 pancadas”. Para correr do azar. Os leitores chegaram em comentários curiosos, cito só alguns:
FILOMENO MORAES: “JK, cassado, em trânsito pelo aeroporto Pinto Martins, encontrou um conhecido, e lhe perguntou sobre o seu ex-ministro do Trabalho, Parsifal Barroso. Ao final da conversa, pediu ao conhecido que desse um abraço no Parsifal. Quando o tal falou para o dito Parsifal este, se borrando todo, com pavor dos generais, retrucou: ? Isso lá é hora de mandar abraço para alguém!”
HENRIQUE ELLERY: “Em 1960, eu fazia o Colégio Militar, em Belo Horizonte, e usei meia que, na lateral, tinha ilustração com uma das colunas do Palácio da Alvorada. Na parte de cima, ladeando a coluna, tinha J de um lado e do outro um K, JK. Pra quê? Resultado?, foram dois finais de semana suspenso.”
MIGUEL SOUZA TAVARES: “Passei dois dias e duas noites maravilhosas, mágicas, numa fazenda em Goiás, que me disseram ter pertencido a JK, na fronteira com Tocantins. À noite, ficava sentado num alpendre rodeado por uma rede mosquiteira, sentado numa cadeira de balanço, imaginando que ali se sentava Juscelino, e de dia pescava piranhas no rio que passava na fazenda”.
SÓCRATES TIMES NETO: “Não tenho dúvidas que José Américo toquetoquetoque fez campanha para JK. Essa é a parte cômica da nossa tragédia”.
Mas a grande maioria disse, como IGNEZ BARROS: “Não entendi o motivo de ser, ele, portador de azar”. Vamos, então, lembrar como tudo começou. Recordar é viver. Dando-se que em 1932, num acidente aéreo ocorrido na Bahia de Todos os Santos (Salvador), morreu Antenor Navarro ? interventor da Paraíba. E Zé Américo escapou, tranquilo, feliz, boiando sobre uma das asas do avião. O destrambelhado cantador Zé Limeira, louvando Alexandre O Grande, acabou menosprezando feitos do general macedônio ao dizer “Maior foi o Zé Américo/ Que escapou do avião”. Como ele próprio dizia, “Voltar é uma forma de renascer. Ninguém se perde na volta” (Bagaceira). No caminho da volta, como se passou a dizer essa frase. O que serviu de inspiração para outro paraibano, José Neumanne Pinto, ao encerrar belo poema (A volta de novo) dizendo “Na volta/ Ninguém se perde./ Na volta só se abre mão da solidão”.
Nada a comentar sobre a crônica, sempre leve e divertida. Mas o tema me provoca uma reflexão sobre a injustiça do boato de que o velho José Américo de Almeida “dava azar”. Não tendo como atacá-lo, por seu bom desempenho como político e como intelectual, seus adversários criaram esse mito perverso. Rui Carneiro, inicialmente seu apadrinhado político, e que depois o derrotou em campanha para o Senado, fazendo-o encerrar a carreira política e recolher-se ao seu refúgio em Tambaú, pode ter sido um dos responsáveis por isso. “Zé Ramona”, Zé Três Pancadas”… uma forma mesquinha de debate político. Para mim, filho do seu secretário da agricultura na sua gestão como governador da Paraíba nos anos 50 ( que o visitava regularmente em Tambaú, até sua morte) o velho só cometeu dois pecados: quando promoveu uma “pacificação” PSD/UDN em torno do usineiro Flávio Ribeiro Coutinho como seu sucessor, e ao manifestar-se em favor do movimento militar de 1964, a pedido do filho, o general Reinaldo Almeida. Coisas talvez da senectude… Mas sua vida política e como escritor, anteriormente, foi brilhante, quase rotulável de heroica.