A demissão do presidente da Caixa Econômica vem no mesmo dia de uma decisão judicial. A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, em favor da jornalista Patrícia Campos Melo, por 4 votos a 1. A jornalista é autora de processo contra o presidente da República por danos morais.
Uma coincidência que é eloquente. Na origem e no destino. Na origem, junta o presidente da Caixa, demitido, e o presidente da República, réu, envolvidos em tema de ofensa a mulheres.
No destino, também juntos, ambos saem em desvantagem nas respectivas atuações. O presidente da Caixa, demitido. O presidente da República, condenado a pagar indenização de R$ 30 mil reais.
Tal coincidência poderia, à primeira vista, parecer circunstancial. Mas não é. Quando se constitui uma equipe de governo, seus integrantes são ligados por afinidade política, afinidade pessoal, afinidade ideológica.
É conhecida, porque publicamente demonstrada pelo próprio presidente da República, sua misoginia. Além do processo da jornalista, há também o caso de discussão com uma parlamentar. Discussão na qual o presidente disse que ela, por falta de graça, não merecia ser estuprada. Não vou relembrar aqui a descortesia com a mulher do presidente da França.
Um presidente da República, pela natureza da função que desempenha, exerce forte influência no comportamento dos auxiliares. Também por isso, espera-se conduta exemplar por parte de sua excelência. Mas o que haverá de exemplar no caso?
Trata-se, portanto, de uma cultura? Um estado de ânimo, um modo de ser, modelado a partir de cima? E refletido embaixo, por afinidade, por subserviência? Em qualquer das hipóteses, subliminarmente inscrita no inferno de ações sem motivo elevado.
Há outro aspecto, ferindo a sensibilidade de quem a tem relacionado ao tema. A covardia. Exercício de cargo, com poder discricionário de decisão, merece ponderação. Especialmente quando se refere a relacionamento com a mulher. Pelas condições conhecidas em que a mulher é desconsiderada no Brasil.
No cenário azul do refazer, em que a natureza traz lírios do campo, peças começam a se juntar. Formando painel em que enigmas são resolvidos. Acentuando a necessidade de voltar o respeito à mulher, à lei, à democracia. O tempo do crepúsculo aproxima-se. E o aconchego de sol armorial anuncia nova aurora. Chega já.
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