Lisboa. Encerro, aqui, esta série com manias de escritores. E já vou dizendo que Tom Wolf (tinha quase 2 metros) escreveu seu A fogueira das vaidades a lápis, com os papéis em cima de uma geladeira com a porta aberta – que era grande o calor na casa e vinha de lá um friozinho agradável. Para desespero de sua pobre mulher, que não podia congelar carnes. James Boswell internava-se em bordeis por semanas, anunciando que tinha 5 relações por noite (o que lhe valeu 17 doenças venéreas) e em Berlim acabou sendo inspiração para ninguém menos que (Giacomo) Casanova. Boswell tomava 25 xícaras de chá, cada vez que sentava na mesa, em meio a uma procissão de tiques nervosos ? ficando a piscar, tossir, pigarrear, fungar, fazer caretas e ter faniquitos. Pedro Nava prendia os móveis da casa no chão, com pregos, para que ninguém os tirasse do lugar. Samuel Becket precisava ter uma parede branca, em frente, que sem isso não conseguia escrever. Drummond adorava falsificar a assinatura de seu chefe, Gustavo Capanema, primeiro no Ministério da Educação e depois no SPHAN, em bilhetes que mandava para os amigos. James Joyce passava quase todas as noites nos bares; e, quando amanhecia, cantava canções irlandesas, com sua voz de tenor, para desespero da vizinhança. Groucho Marx dizia “não entro em clubes que me aceitem como sócio”.

Flaubert lia cada página que acabava de escrever em voz alta, vezes sem conta, para conferir se o ritmo e a sonoridade eram os que imaginou ao escrever. Mesmo fazendo parte do Realismo, para ele o faire vrai contava menos que o viser sub beu. Franz Kafka, famoso autor de A metamorfose, fazia o mesmo por outras razões. Sem que ninguém entenda, só para dar gargalhadas. John Wayne, o grande cowboy do cinema, tinha medo de cavalos. Já Nelson Rodrigues, o Anjo Pornográfico (segundo Ruy Castro), por estranho que possa parecer era um pudico. E nunca dizia palavrões. Pablo Neruda usava tinta verde. Goethe, Lewis Carroll, Victor Hugo e Virginia Wolf escreviam em pé. Vinicius de Moraes, como Agatha Christie e o dr. José Paulo (pai), em banheira com água morna. Proust, George Orwel e Truman Capote, deitados. O mesmo Capote, supersticioso, que jamais deixava no cinzeiro mais que três guimbas de cigarro; e, o que passasse desse número, punha no bolso do paletó.

Mallarmé não usava qualquer pontuação; e, raramente, punha um ponto final em seus textos. João Cabral de Melo Neto (Questão de pontuação) dizia “Viva equilibrando-se entre vírgulas”. Saramago, exagerado, no Evangelho segundo Jesus Cristo escreveu 21 delas antes de um ponto para encerrar cada frase. Já em Caim, 19. Na média 20, portanto. Continuando, com João Cabral, “Todo homem aceita o homem/ Que viva em ponto de exclamação”. Pessoa chegou a escrever poema (sem título, 1914) com esses pontos em todos os versos: … “A ciência/ Pesa tanto e a vida é tão breve!/ Entrai por mim dentro! Tornai/ Minha alma a vossa sombra leve!/ Depois, levando-me, passai!”. Alexandre O’Neil, num de seus Poemas gráficos!, colocou 11 deles inclinados mais um comentário “Não abuses de mim”.  Ainda completou, sem que se entenda bem, “Os espanhóis/ Até numa palavra, só me martirizam:/ Caramba!”. Tom Wolfe escreveu mais de mil, em sua Fogueira! E a rainha Vitória, coitados de seus contemporâneos, salpicava pontos de exclamação em todas as frases!

Fernando Pessoa, ao terminar seus textos, costumava escrever expressões como Last chapter ou End of the book. Tinha também o especial gosto de encerrar poemas em inglês, em francês e mesmo em português, com a palavra End. Ou, imitando filmes americanos da época, usando alegóricos The end. Nos poemas de sua própria língua, quase sempre, era Fim. Às vezes, incorporado aos versos, como (sem título, 28/8/1927) “Escrevi numa página em branco, Fim”. Razão pela qual sigo seus passos e encerro, esta série, dizendo apenas FIM.