Maiakovski

Maiakovski

 

Para João Rego e Clovis Cavalcanti

 

A vida é feita de amor. E desamor. Um país é quase sempre duelo de guerra e paz. De arte e cores. São contrastes próprios da natureza. A Rússia, por exemplo. Terra de Rachmaninoff, de Dostoievski, de Shostakovski, vive interlúdios de liberdade e opressão. Foram-se os escombros do stalinismo. Vive-se, agora, os horrores de tirania destruindo cidades, afrontando direitos humanos e esquecendo soberanias nacionais.

Neste julho de 2023, Vladimir Maiakovski (1893-1930) contaria cento e trinta anos. O poeta da revolução.  Com menos de vinte anos, engajou-se nos movimentos de vanguarda do futurismo. Cujos defensores alimentavam a mitologia pagã e utópica de uma Rússia selvagem.

Em 1912, eles assinam manifesto voltado a honrar os poetas. No qual buscava-se criatividade, no uso de novas palavras; repulsa à utilização de bizarra coroa de piaçava conseguida na glória de dois soldos; e adoção de pedestal do senso coletivo.

O projeto social e literário do grupo não era o de super-herois. Como o do francês, Apollinaire. Ao som de clarins de guerra. Mas era o de, coletivamente, elevar a massa a outro nível. Tratava-se de arranjo revolucionário. Não fascista, como o dos futuristas europeus.

Em 1917, na chama da revolução de Outubro, Maiakovski está na dianteira. É eleito presidente do soviete do Clube de São Petesburgo. Ele se dirige ao quartel-general dos bolcheviques e patrocina tudo a fazer. O futurismo assume a forma de construtivismo. Edificação de nova sociedade.

Maiakovski envolve-se na feitura de peças de propaganda. Numa contra-academia de belas artes. Põe a mão na massa. Critica o excesso de burocracia. Atua como designe. Praticando arte aplicada. Para modificar o décor da vida. Viajando mundo: Alemanha, França, México. Poeta e político.

No decorrer da década de 1920, instala-se em seu espírito a contradição insuportável entre utopia romântica e mediocridade da vida real. Enfrenta a distância entre sonho de poeta e pragmatismo da vida concreta.

As grandes revoluções atribuem-se objetivos que as ultrapassam. Foi assim com a Revolução Francesa. Burguesa, na origem. E universal, no desdobrar dos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade.

Em 1930, a realidade vence o poeta. Ele aloja uma bala no peito. Mas, a poesia fica.

“Do veludo de minha voz

Umas calças pretas mandarei fazer.

Farei uma blusa amarela

De três metros de entardecer.

E numa Nevski mundial com passo pachola

Todo dia irei flanar qual D. Juan frajola”.