Quando um governante se propõe a promover crescimento econômico normalmente traz consigo uma definição carregada de passado para gerar “emprego e renda”. Em seu discurso a “atração de máquinas, estruturas e equipamentos é o motor do crescimento no longo prazo”, enquanto seguem a concessão de crédito subsidiado e incentivos fiscais (Centro de Crescimento e Desenvolvimento da FGV), apenas para ficar nas questões mais relevantes para as políticas regionais. 

A teoria moderna de crescimento econômico traz para o jogo algumas grandezas que vão além do capital físico, sejam elas o capital humano, a criatividade e as instituições. Isso leva à definição da Produtividade Total dos Fatores (PTF) que nada mais é do que o crescimento econômico que não pode ser explicado apenas pelo binômio capital e trabalho. A grande diferença de desenvolvimento entre países ou entre regiões ou ainda entre estados do mesmo país, hoje se explica mais pela Produtividade Total dos Fatores do que por outra grandeza qualquer.

O Brasil se prepara para enfrentar uma mudança que vem sendo pedida há muito tempo pelos setores produtivos da sociedade que é a reforma tributária. Na realidade um redesenho tributário, uma simplificação, em que os impostos passam a ser recolhidos na ponta final, favorecendo àqueles estados que mais consomem. Em um estudo publicado no último dia 17/10/2023 no jornal Valor Econômico, a empresa de consultoria em logística Ilos demonstra que é possível que haja uma grande movimentação nas futuras cadeias de distribuição, alterando destinos de novos investimentos, mas alterando pouco os existentes, visto que os investimentos em capital fixo são muito altos, além das grandes multas por quebra de contrato.

Outro ponto dentro da mesma questão é o fim da chamada guerra fiscal, uma geradora de distorções, mas que garantia a altos custos tributários para os estados a atração de investimentos em indústrias e cadeias logísticas. Estados do nordeste brasileiro se utilizam dessa prerrogativa para conseguirem algum tipo de competição em certas cadeias produtivas. Agora sem essa ferramenta, finalmente precisarão focar no aumento da PTF, investindo fortemente em modelos educacionais de mais alto nível, na formação de melhores professores, em cidades inclusivas que atraiam profissionais mais bem preparados, que desenvolvam melhores serviços e sejam capazes de criar novos produtos e que tragam desenvolvimento através da competição. 

Além disso, avanço nos processos institucionais, como melhores funcionamentos dos órgãos estatais, acelerando emissão de licenças ambientais, aprovação de projetos, implantando regras claras de negociação e punição, entendimento cartorário unificado, ao invés de agirem cada um por si como agentes independentes, com regras mudando de cidade para cidade dentro do mesmo estado, fazendo com que cidadãos e empresas vivam como em feudos, em uma insegurança jurídica sem fim. 

Por fim, mudar a perspectiva de crescimento econômico não significa abandonar os investimentos em infraestrutura que facilitam o escoamento dos produtos, aumentam a segurança da população, reduzem incidência de doenças, ajudam as empresas a tomarem decisões de investimento. Na realidade, a mudança de perspectiva é para que a PTF entre em cena, e que entrem no palco o conhecimento gerado pela educação que se reflete em aumento de tecnologia, gerado pelo acúmulo de conhecimento, e em eficiência de como as regiões organizam seus sistemas de produção, competitivos, que premiam o trabalho, a inovação e a competência.