Silêncio – autor desconhecido.

 

Vinte de julho de 2022. Esta data é um marco. Que divide movimentos estratégicos da próxima eleição. E desanuvia o ambiente que aparentava abismo. De imobilismo institucional. 

Até ontem, o horizonte político entremostrava ensaio auto golpista do presidente da República. Ele aprofundava trilha tentando demolir o conceito de segurança das urnas eletrônicas. Em retórica ameaçadora que afrontava o STF e o TSE e, ao mesmo tempo, se dizia tutor das Forças Armadas.

Pois bem. Hoje, as consequências negativas da bizarra reunião de Bolsonaro com embaixadores de países estrangeiros vieram à tona. Reunião na qual, pelo teor das declarações do chefe de Estado brasileiro, configurou-se crime de responsabilidade. 

Sete manifestações foram colecionadas, ao longo do dia, reprovando as palavras do presidente. E subscrevendo a certeza no uso das urnas eletrônicas. As manifestações têm as seguintes origens: 

1 Militares da ativa das Forças Armadas, insatisfeitos com o alinhamento do ministro da Defesa às ofensas do presidente, comunicaram a ministros do STF que tal alinhamento não encontra eco na corporação (nota publicada no blog G1 do jornalista Valdo Cruz); 

2 Procuradores do Ministério Público Federal, pela palavra do presidente da Associação de seus integrantes, em entrevista a Globonews; 

3 Presidente do Senado Federal, senador Rodrigo Pacheco, declarando sua confiança nas instituições democráticas e na segurança das urnas eletrônicas; 

4 Auditores do TCU, em nota, reafirmando o funcionamento seguro das urnas eletrônicas, após auditagem dos equipamentos; 

5 Agentes da ABIN, em nota, confirmando a funcionalidade operacional das urnas eletrônicas; 

6 Diplomatas brasileiros, em nota de sua Associação, declarando confiança no uso das urnas eletrônicas; 

7 Porta voz da Casa Branca, em nota, acentuando a confiança do governo dos Estados Unidos no sistema eleitoral brasileiro e destacando a integridade das urnas eletrônicas. 

A institucionalidade brasileira está viva. Por representações que são estratégicas ao funcionamento da democracia brasileira. O conjunto dessas expressões acentua o isolamento político do presidente Bolsonaro. 

Sua tática de pré-campanha, desconstruir a confiança nas urnas eletrônicas, é via torta de fragilidade eleitoral. A partir do elevado grau de rejeição ao seu nome. E tentava abrir caminho para um autogolpe. Como na Venezuela e na Hungria. A tática naufragou. Como nos Estados Unidos de Trump. O presidente embarcou na canoa furada do encontro com embaixadores estrangeiros. Para falar mal do Brasil. 

Hoje, o que se ouviu foi uma Aquarela do Brasil. Em cores amazônicas e sons regionais. Em sua brasilidade genuína. Entoada, de ouvido, sem prévio ensaio. Por várias fontes institucionais. Belo concerto, harmonioso. Na terra de palmeiras onde canta o sabiá. Nascido da amorosidade dos brasileiros pelo regime democrático. Ary Barroso sorri. De onde estiver. 

Mas, ao lado dessa esperada brasiliana, há um silêncio inconveniente. Seráfico. De serafins de pau oco. Raposas de orçamentos secretos. Gaviões de olhar absorto e bicos afiados. Sem nada por dentro. Nem coração. Nem mente. Talvez uma vaga ideia de serviço público. E obstinado carreirismo. 

Uma nação está sempre em construção. Avanços e recuos. Logo mais, vamos avançar. E os retraços de obras mal-acabadas ficarão na beira do caminho. Do esquecimento.