Raramente na história recente do Brasil o país esteve tão dividido politicamente como nestas eleições para Presidente da República. O Brasil está rachado no meio e fraturado em pedaços. Não só porque os candidatos têm quase as mesmas intenções de voto (segundo as pesquisas), mas também e, principalmente, pela enorme radicalização política que corta o Brasil em dois blocos carregados de emoção. O PT radicaliza no discurso e tenta provocar uma fragmentação do país entre pobres e ricos, pretos e brancos, povão e elite, bons e maus. No último discurso no Recife Lula comparou os adversários aos nazistas e a “Herodes que mandou matar Jesus Cristo quando ele nasceu com medo de ele virar o homem que virou”. No mesmo comício, Dilma disse que “iam dar uma derrota em regra para os tucanos (sic). Não vamos deixar pena de tucano presa, só voando por aí”. Por outro lado, em amplos segmentos da classe média e alta das cidades, no empresariado e na maioria dos intelectuais brasileiros formou-se uma rejeição violenta ao PT e ao seu governo numa mistura de decepção (muitos deles criaram e votaram no PT) e indignação diante da arrogância e da grosseria da candidata do PT e dos seus principais líderes. Esta radicalização política carregada de intolerância vai contaminar a governabilidade do futuro governo, independente de quem ganhe as eleições, dificultando a implementação das reformas e das medidas estruturadoras de mudança que preparem o Brasil para o futuro. Vai ser difícil para o futuro presidente da República juntar os cacos desta radicalização e divisão política do país, amenizar o confronto e os ressentimentos, negociar e articular as forças sociais do Brasil em torno de um projeto de desenvolvimento
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Cara Tersa,- Max Weber analisando o surgimento e evolução dos partidos no início do Sec.XX afirmou que nem um primeiro momento os partidos defendem princípios e em um segundo momento passa a defender a simples reprodução de seus quadros. O Partido dos Trabalhadores há 12 anos se enquadra no vaticínio de Weber. A filosofia do partido passou a ser” manter-se no poder a qualquer custo”.
Queridos Sérgio e demais,
Como “editor honorário”, não me cabe dar uma opinião válida.
No caso, estou parafraseando a história do “voto válido” (que, por decisão própria, já não tenho na Será).
Estou, bem ao meu estilo brincalhão (“a alegria é o vau do mundo” – G. Rosa) simplesmente aproveitando a linguagem das eleições e dos institutos de pesquisa que está na boca, olhos e ouvidos de todo mundo. Porque todo mundo vê televisão e não se fala em outra coisa neste momento.
Pois bem: ótimo!
Por incrível que pareça, prefiro essa radicalização à pasmaceira a que a política convencional nos habituou.
Lógico que não estou levando a sério o que Lula e Dilma dizem nos palanques.
Isso é coisa de campanha eleitoral, sobre a qual já exprimi mais de uma vez minha indiferença. No limite, minha antipatia.
E é até por isso, porque é coisa de campanha, que também não estou vislumbrando um clima catastrófico de “day after”…
Dilma, ao que tudo indica, vai se reeleger, e no dia seguinte vai começar a conversar a conversa que verdadeiramente importa: aquela que não se dá nos palanques.
Ela, Lula, eu, você e todos os nossos amigos da Será sabem disso.
Não estou sendo cínico.
Estou sendo realista.
Mas mesmo como realista estou contente, como disse, com a radicalização que está no ar.
Aspas, muitas aspas, para a palavra “radicalização”.
Tenho, como todo mundo, medo dela.
Uma vez li, não me lembro mais de quem, que as duas paixões humanas mais fortes, o amor e o ódio, promoveram as maiores catástrofes do século XX: o comunismo e o nazismo, respectivamente.
Adoro a frase (que cito de memória), e tenho inveja de quem a disse, porque gostaria de ser o seu autor.
Meu “radicalismo”, assim, é bem simbólico… se posso usar uma palavra que virou lugar comum.
Mas não posso esconder que estou contente com o fato de que essas eleições, fugindo da coisa “chocha” que anunciavam ser, tenham se tornado um momento em que afloram velhas questões que nós, com nossa velha “cordialidade”, preferimos deixar pra lá e fazer de tudo um carnaval.
Estou contente com o fato de que essa “radicalização” tenha dado, e esteja dando, um susto no “deep Brazil”!
No “dia seguinte”, as coisas voltarão ao ritmo mais civilizado da convivência a que a democracia nos obriga.
Ótimo!
A “violência” dos palanques vai refluir e confluir para o leito das disputas domadas e regradas pelo estado de direito que somos.
Ótimo de novo.
Nossa geração sonhou muito alto e pagou muito caro por isso.
(Junto de uma pessoa como você, Sérgio, por tudo o que passou, não me sinto digno nem de amarrar as sandálias, como dizem os evangelhos.)
O aprendizado democrático foi duro, lento, mas tem sido contínuo.
Estou, neste momento, contente com a democracia brasileira.
Allez! Até a “vitória final” – que é sem fim…
Abração,
Luciano
A vitória do Partido dos Trabalhadores convence-me de que o nosso Partido Revolucionário Institucional acaba de nascer. Serão mais 50 anos de governo ininterrupto do PT. Aguardemos…
Com todo o respeito, sem querer ser apocalíptica ou desmerecer sua opinião, Sr. Luciano, reduzir o ódio que permeeou esta eleição e que permeia os discursos e os atos dos agentes políticos que ao longo destes anos aparelham o estado brasileiro “ao ritmo mais civilizado da convivência a que a democracia nos obriga”, é ser demasiado otimista. A intimidação, a retaliação, a divisão, o terror existem, sim. Essa conduta não é exercida pelo dirigente, esse apenas induz e conduz, estabelecendo as regras que são exercidas por membros da base – o cidadão comum que aliciado serve de olheiro e agente reprodutor. Não dá para dialogar com essas pessoas, tresandam a um doutrinarismo fanático. Isto pode ser qualquer coisa, mas não é democracia, nem estado de direito quando se burla rotineiramente, por todos os modos, a quinta norma fundamental da nossa Constituição.
ainda bem que esse filhote do f h c não conseguiu , a guerrilha esta adiada.
Agora poderemos ter novos tempos! Isso é ótimo.
Sei que, apesar desses despropósitos divisionistas que temos assistido, a hora agora é de buscar um conjunto de metas estratégicas que unam a nação em esforço coletivo para avançar na consolidação das muitas mudanças já havidas e fazer acontecer outras tantas que, de fato, já vieram transformando o Brasil num pais muito mais avançado. Começando por uma reforma política, reordenado as bases desse Congresso fragmentado e corrupto, principalmente. Temos muitos outros campos de trabalho. O aprimoramento dos processos da gestão da nossa presidenta, é, certamente, o mais necessário e delicado, mas, sem dúvida, fundamental para afogar a corrupção e fazer acontecerem os grandes projetos nacionais de infraestrutura.
Não gosto de entender o país “dividido” por essa diagonal Sul-Norte, que resultou começando no Rio, passando por Minas e avançando inclinada na direção da metade do Norte. Lembro sempre que houve votos para os dois lados em todos os estados.
O Nordeste votou bem pesado graças aos benefícios que a grande massa da população conheceu: ônibus escolares para crianças das zonas rurais; médicos nos postos de saúde dos rincões afastados urbanos e rurais; professoras nas escolas rurais; máquinas patrol e caminhões para as estradas rurais; financiamentos para microprojetos da agricultura familiar; energia elétrica em todo lugar e tudo mais que resultou em benefícios concretos e acessíveis a todo mundo. Isso é votar conscientemente! Se não bastasse tudo isso, houve o aumento expressivo do salário mínimo associado à grande demanda por trabalho não qualificado no campo e nas cidades, predominantemente na construção civil. Isso foi progresso. Nem se está falando aqui em refinarias, siderúrgicas, estaleiros, portos, fábrica de automóveis, Hemobrás e tantos outros investimentos transformadores que foram trazidos para a Região.
De mais a mais, não foi pelos votos do Nordeste que se elegeram Ademar de Barros, Paulo Maluf, Celso Pitta, Jânio Quadros, Fernando Collor, Moisés Lupion e tantos outros…
Vamos seguir avançando em busca da união da nação pelo progresso e distribuição de benefícios à maioria.
Manter-se no poder a qualquer custo como disse José Arlindo Soares, evocando Weber, não é defender princípios,mas ,apenas, reprodução dos seus quadros incompetentes,corruptos e destruidores do estado. Nessa linha, segue para o nascimento do Partido Revolucionário Institucional: 50 anos de poder,como alertou o Ricardo Freitas (já caminhamos para dezesseis….)
Fui testemunha ocular do crescimento da violência do PT, que em uma simples extensão de suas práticas, passou a ter com o povo mais humilde o comportamento agressivo que tinham na frente dos empresários, nas discussões de suas pautas.Em fins de 93, quando havia um duelo entre o FHC e o Lula, eu estava retornando de uma viagem de negócios, descendo no aeroporto Santos Dumont. Por ser uma sexta-feira, com a eleição no domingo, o trânsito estava horrivelmente parado. Assim, eu e muitos no aeroporto que pretendiam se dirigir à Praça XV resolvemos seguir à pé. Em um trecho do percurso o sinal de trânsito parou e um ônibus, vindo de Copacabana parou no sinal. Lotado que estava, muitos estavam “pendurados nas janelas. Enquanto eu passava, com terno e segurando uma maleta “007” ouvi um coro saindo do Ônibus: “aí, tua vida vai mudar e o Lula vai ganhar. Segui meu caminho e retornei para casa. No caminho só me vinham à mente a imagem daqueles rostos desconhecidos gritando palavras desconexas e agressivas. Nunca mais me esqueci disso. Na declaração da Presidente Dilma, após o resultado da eleição, televisionado pela Globo, um coro atrás que não deixava a presidente se expressar gritava” o povo não é bobo, abaixo a rede Globo. Em disputas acirradas como a que tivemos, os candidatos prometem cumprir aquilo que é da obrigação do Estado: segurança, saúde e educação, como se isso fosse um favor para o povo. Lançam mão de números e informações que poucos conhecem, e portanto, não podem ser validadas, e, quando os discursos e os alvos são coincidentes, passam a agredir-se verbalmente. Isso ocorre em muitas partes do Mundo. Na Ágora os discursos deveriam também ser inflamados. A questão não é essa. Nosso próximo governante somente explicou a “mágica” da Minha Casa Minha Vida no final do debate. Com um governo que faz o social através de elevados subsídios, pobre de nós que teremos que pagar essas contas. Alguns dos que representam o atual governo encontram-se milionários, através de acordos espúrios. Efetivamente a oposição perdeu votos nos rincões do dinheiro “de plástico” e, por incrível, somado aos votos perdidos em Minas Gerais. Ninguém pode dizer o contrário, mas os marqueteiros do PT são muito bons. Só para poder botar as contas em dia e sanear os “rombos” já são necessários quase dois anos, isso se a carga tributária não for aumentada mais ainda.
Pegando o mote de manter-se no poder a qualquer custo, que tal a revista se posicionar – diante das manifestações pro impeachment e golpe militar, ainda que pífias – sobre o fato de quem não gostou da derrota do seu candidato querer derrubar quem ganhou numa eleição de dois turnos, onde no segundo um único voto seria definidor?