Editorial

Após as recentes escaramuças na fronteira da Venezuela com a Colômbia e o Brasil, o Grupo de Lima adotou uma posição moderada e sensata, refutando a postura agressiva e arrogante dos Estados Unidos, que insistem na ameaça de uma intervenção armada na Venezuela. Representando o Brasil, o vice-presidente da República, General Hamilton Mourão, contribuiu para evitar uma radicalização política do grupo, que levasse a medidas extremas, com consequências dramáticas e imprevisíveis. No seu pronunciamento, Mourão criticou duramente o governo de Nicolás Maduro, e reiterou o apoio político e diplomático ao auto-declarado presidente venezuelano, presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó. Mas rejeitou o uso da violência e da intervenção externa na solução do conflito interno no país vizinho, em total discordância com o representante do governo norte-americano. O vice-presidente defendeu “ações equilibradas, prudentes e consistentes” e “sem qualquer medida extrema”, para que os países do Grupo de Lima não sejam confundidos “com aquelas nações julgadas pela História como agressoras, invasoras e violadoras dos direitos humanos”.Não deve ter sido sua intenção, mas estes adjetivos cabem perfeitamente na história de ingerência dos Estados Unidos nos assuntos internos da América Latina. Donald Trump não gostou nada da posição brasileira e da decisão do Grupo de Lima, menos ainda Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro e discípulo de Olavo de Carvalho, espécie de assessor informal de politica externa da família. Assumindo as negociações em torno da crise da Venezuela, o general Mourão deixou de lado o ministro das relações exteriores, o templário Ernesto Araújo, que prefere se subordinar à vontade dos norte-americanos. Como se os militares tivessem decidido assumir uma espécie de tutela sobre a política externa brasileira, área extremamente sensível e delicada, para moderar o extremismo do clã e do seu ministro de relações exteriores. Na verdade, a ameaça de intervenção externa e, principalmente, a agressividade do governo Trump, é um presente político para Maduro, criando um inimigo externo, para alimentar o seu incendiário discurso anti-imperialista. Como declarou o pintor colombiano Fernando Botero, “Maduro é nefasto, mas a invasão de um país, sobretudo a invasão pelos Estados Unidos, com seus antecedentes, converteria este num instante muito perigoso”.