Com a economia em frangalhos – terceiro trimestre de recessão econômica e quase falência do Estado – prisão do líder do Governo no Senado, Delcídio do Amaral, presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, sob investigação, pedido pelo Procurador da República de abertura de denúncia contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, além de vários outros parlamentares, inicia-se agora um turbulento processo de impeachment contra a presidente da República. Quando os presidentes do Executivo e das duas casas do Congresso são processados e investigados jurídica e politicamente, quem julga quem? O governo perdeu credibilidade e demonstra total incapacidade política e gerencial para lidar com a crise e recuperar a governabilidade. E o Congresso? O Congresso é o terreno da mediocridade e da manipulação, envolvido em corrupção e dominado por interesses privados. Instituições da República desmoralizadas e amesquinhadas por disputas de migalhas de poder convivendo com extorsão e compra de apoios políticos. Se a presidente soube pelos jornais que Eduardo Cunha chantageava o voto do PT na comissão de ética da Câmara, nós brasileiros tomamos conhecimento pelos mesmos jornais que o ex-presidente Lula e a Casa Civil da Presidência queriam trocar os votos com o presidente da Câmara. Rui Falcão, presidente do PT, melou o acórdão sem vergonha. Se este fosse um país sério, a presidente da República renunciava e, ao mesmo tempo, o Congresso decidia pela auto-dissolução, abrindo caminho para novas eleições gerais comandadas pelo presidente do STF-Supremo Tribunal Federal, numa tentativa de zerar o jogo e na esperança de que o eleitorado escolhesse melhor os seus dirigentes e representantes. À pergunta “quem julga quem?” a democracia tem uma resposta: o eleitorado.
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Caro João, difícil discordar da lógica moral do editorial. Clara e reta. Mas não vou exercer o silêncio. Nem desempenhar pobre redundância. resta-me, neste fim de tarde azul de Carlos Pena, recorrer aos poetas. Que, ao se esgotar o real, buscam na transcendência, sua visão de mundo. Recorri a Joaquim Cardozo, em cuja navegação homenageio o editorial:
Ao longe vejo um navio / que marcha sempre em desvio / das coisas mortas no mal / navega o chão da planície / onde estão na superfície / sol e azul, azul e sol.
Se esse fosse um país sério…!
Quem não é sério são os atores, de eleitor a “autoridade”…
O Professor Adilson Dallari me convenceu: a decisão de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, de dar início ao trâmite de um possível impeachment está dentro da lei. Ilegal seria justamente não tomar decisão alguma. Se é chantagem ou vingança, imoral ou asqueroso, não vem ao caso do ponto de vista jurídico. Agora: se no fim das contas vai ou não vai haver impeachment é outro capítulo. (No caso Collor o procedimento todo levou 7 meses.) Enquanto isso a economia brasileira continua sangrando.
A canalhice patrocinada pelos PTs precisa ter alguma barreira, pois arrogantemente eles ainda acham que são os únicos capazes de “salvar” o Brasil, mas a cada dia dão sinais de demência e desonestidade política e intelectual.
Este é um caso típico onde a forma contamina o conteúdo. Não por acaso, jornais internacionais consideram que Cunha deu sobrevida á Presidente da República. Aproveitando uma avenida de erros da oposição o Planalto e o PT conseguiram inverter a natureza das coisas ao transformar modelo de achincalhe do Estado em uma disputa de currículos entre Dilma e Eduardo Cunha. Não se pode utilizar a mesma estratégia da escola stalinista de que os fins justificam os meios. Aliás, é preciso que a Revista dê mais atenção ao trabalho dos órgãos de controle,Ministério Público, Polícia e Justiça Federal,na condução das investigação. Na verdade, são Instituições que ainda seguem o DNA da Constituição de 88 e estão funcionando com uma lógica da fazer funcionar o Estado de Direito, com começo meio e fim. Alias,
O único problema é o quarto poder no Brasil que é a mídia, cujo manipulação seria marcamente forte. Teríamos a eleição dos mesmos comprados membros para os 2 poderes citados.
Pela primeira vez em minha vida com a Revista Será? – discordo do editorial. Culpar uma oposição heterogênea e vacilante não tem qualquer sentido objetivo. Entendo que o quadro político e econômico brasileiro tem sido tão dramático e cambiante que até dificulta a concepção de uma estratégia de combate a um governo absolutamente inescrupuloso. Por outro lado, como bem observou Helga, pouco importam as motivações do presidente da Câmara para a decisão de acatar o pedido de impeachment da presidente da República. Importa apenas o seu efeito, e o fato de que o pedido tem fundamentação jurídica garantida pelo alto conceito e competência dos seus subscritores. Acenar com uma perspectiva utópica de renúncia geral do Executivo e do Legislativo, que sequer tem previsão constitucional, é cair no desvario, e desmobilizar os espíritos que lutam para uma inevitável mudança de governo – que, aliás, se estivéssemos no Parlamentarismo, já teria ocorrido.
Eduardo Cunha não se sustenta no posto, cairá primeiro, e nossos parlamentares, com todos os seus defeitos, têm instinto de sobrevivência, não permanecerão agarrados a um barco que naufraga. O que temos a fazer é levantar a bandeira do impedimento, nas ruas, nos meios de comunicação, junto aos políticos e intelectuais sérios, que não vendem a alma. Pode demorar, mas chegaremos ao final. Mais difícil é imaginar, e conformar-se com, este quadro de desastre econômico e corrosão institucional por mais três anos. Qualquer mudança será para melhor, é o meu sentimento. Para meu próprio espanto, fazendo coro ao palhaço Tiririca.
Caro Clemente, acho que você interpretou incorretamente a mensagem do editorial. O texto não esta culpando a oposição de nada. Nem sequer esta propondo alguma coisa. O editorial apenas expressa a percepção e o sentimento de que o governo e o Congresso estão sem credibilidade, amesquinhados e desmoralizados, embora existam parlamentares sérios que pensam o Brasil. Tenho certeza que voce concorda com esta analise. Também não está propondo nada, nenhum desvario. O editorial apenas diz que, se o Brasil fosse um pais sério, os dois – governo e Congresso – renunciavam e se auto-dissolviam. Alias, se o Brasil tivesse um regime parlamentarista, o chefe de Estado como poder moderador, dissolvia o Congresso levando junto o chefe de governo. Aproveito para dizer que, ao mesmo tempo que concordo com o editorial, sou totalmente favorável ao impeachment mesmo porque a presidente não vai renunciar e o governo (executivo) é sempre mais decisivo para o futuro do Brasil do que o Congresso (que tem ainda uns 20 homens sérios que pensam o Brasil, o que falta totalmente no governo).
“Tudo aquilo que não se regenera, degenera.” – Edgar Morin
Um dia ouvi uma frase que não sai da minha mente nos dias de hoje, e vale para todos países e ideologias de governo: “ENQUANTO O POVO NÃO PARTICIPAR DA POLÍTICA, ELA SERÁ FRUTO DO CONCHAVO DAS ELITES”. Eu que comecei a minha paixão pelo SOCIALISMO hoje vejo que ele sem a minha segunda paixão a DEMOCRACIA é tão cruel e incapaz de gerir a coisa pública. Quero ainda ter um sonho e espero que ainda possa acreditar na possibilidade de existir um governo SOCIALISTA DEMOCRÁTICO.
Esse governo SOCIALISTA DEMOCRÁTICO existe, pelo menos mais próximo dele é o que vivíamos no Brasil até essa palhaçada das elites começar. Financiados/comprados por empresas estrangeiras que não queriam/querem que isso continue, os partidos de direita começaram a destruir o Brasil por dentro – começando pela mídia manipuladora que agravou a crise – até agora no congresso onde julgam (só agora) crimes já cometidos a décadas e nunca julgados. Tudo isso por simples manobra golpista para as elites retomarem o poder.