Para João Rego, que me sugeriu o tema, e a quem pretendo levar para conhecer meu pequeno paraíso.
Para a amiga Carmen Trindade Padilha, decana dos veranistas da Praia Formosa, como desculpa por não ter ainda tido coragem de contar toda a história do nosso rincão
Sempre achei “querência” uma palavra bonita, sugestiva. Lembro um hotel do centro de Florianópolis, onde me hospedei tempos atrás, que me pareceu acolhedor só por ter esse nome. Ele surgiu nos campos gaúchos e mineiros, e inicialmente designava apenas as pastagens preferidas pelo gado, que para lá tendia a retornar, instintivamente. Depois passou a indicar também, para os humanos, aquele lugar que reconhecemos como nosso, e para onde sempre queremos voltar, quando nos afastamos.
Pois bem, amigos. A minha querência é a Praia Formosa, no município paraibano de Cabedelo, a 20 km de João Pessoa. Não nasci lá, mas a frequento desde a mais tenra idade. Minha família tem casas lá há mais de um século. Em 1906, ela foi “batizada”, passando a distinguir-se da Ponta de Matos, por onde começou a formar-se a estação balneária da restinga de Cabedelo. Meu avô materno foi o orador da solenidade, e o bisavô paterno, anfitrião da festa. O senador Antônio Massa, sogro do escritor José Lins do Rego, tinha ali sua mansão. O adolescente Celso Furtado, veranista atípico, fez do terraço da casa do pai seu gabinete de leitura. E Órris Soares, tio-avô do humorista Jô Soares, o homem que revelou ao país Augusto dos Anjos, escreveu lá o prefácio do livro “Eu e Outras Poesias”, editado após a morte do poeta. Mesmo sendo mais distante da capital, Formosa era melhor escolha que Tambaú, infestada de malária, naquele tempo.
Terra, mar e ar
Nos anos da guerra, brincávamos de juntar coquinhos, para jogar nos alemães quando desembarcassem. Um pouco depois, nos embrenhávamos nas matas sem cercas, para colher cajus, e fazíamos acrobacias nos galhos dos pés de fícus que sombreavam a frente das casas. (Nossos pais não proibiam, a areia fofa amortecia eventuais quedas). Ajudávamos no trato e na ordenha da vaca, que meu pai, nos meses de verão, transferia da sua granja para o sítio praieiro do meu tio Nelson, a fim de abastecer de leite três casas cheias de crianças: a nossa e as de dois tios.
Os ocupantes dessas casas compunham bem o que, mais tarde, Linda Lewin, cientista social americana que passou algumas temporadas na casa do meu tio Mário, convivendo com suas sete filhas, chamou, no prefácio de um dos seus livros, de “aquela encantadora instituição, a família brasileira expandida”. De fato, irmãos e primos formavam um efetivo numeroso, que circulava indistintamente pelos terraços e, sem o impedimento de muros, ganhava a praia, à frente, ou o coqueiral do sítio, aos fundos, só aparecendo na hora das refeições. Para o lanche da tarde, éramos convocados por uma sineta, que minha mãe fazia soar, com sua habitual energia.
Havia também as pescarias, em que fomos iniciados pelos adultos e pelos pescadores a serviço dos meus tios, no tempo das jangadas de vela e cinco paus roliços. “Gaivota” foi o nome da primeira, famosa pela rapidez, e comandada por Pititinga e Passinho, mestre e proeiro. Depois, o “pau de jangada” desapareceu das matas, e todos passaram para as jangadas de tábua, com porão, e eventual adaptação para um motorzinho de popa. Foi a fase de João Flor, velho preto esbelto e desempenado, que o alemão Kopermann, parceiro comercial do meu tio Mário, dizia ter “um porte de chefe de tribo africana”. Com eles aprendemos os nomes de todos os peixes do mar, suas qualidades e seus perigos secretos. E logo nos independentizamos, passando das jangadinhas movidas a “cabo curso” (a vara de varejar), e das pescarias de caniço, à caça submarina e às pescarias no “mar de fora”, com linhas de fundo. Nossa última embarcação tipicamente praieira foi uma jangadona de mastro gigantesco, capaz de levar dez pessoas, que meu pai encomendou, e foi batizada com o nome da praia. Era a embarcação da “família expandida”, secundada por outra pequena, que meu irmão Mateus, já casado, mandou fazer só para a turminha dele: a “Formosinha”. Depois, foram só lanchas motorizadas, em fibra de vidro, sem encanto e sem conforto para a pescaria em mar aberto, ou para o reembarque dos mergulhadores.
O voleibol
Mas, além da emoção dos mergulhos, que nos descortinavam a paisagem sempre renovada do fundo do mar, havia outra paixão coletiva: o voleibol. (Não foi por outro motivo que a natação e o jogo de bola-ao-ar constituíram tradição de família, passando de nossos pais aos filhos e filhas: todos jogamos e nadamos). E essa paixão durou mais de meio século. O primeiro campo ficava em frente às nossas casas. Foi palco de disputas acirradas entre Formosa e as outras duas praias “estruturadas”: Poço e Tambaú. Depois mudamos para outro campo, em lugar privilegiado da Ponta de Matos: protegido dos ventos dominantes e sombreado à tarde. Prosseguiram as competições, em sextetos e quartetos, já incorporando outras praias emergentes: Manaíra e Camboinha. Por algum tempo, com a colaboração da Prefeitura de Cabedelo, depois ocupada por amigos que jogavam conosco, tivemos iluminação, e pudemos jogar também à noite. Até que o mar, num dos seus avanços cíclicos, engoliu metade do espaço. Àquela altura, com a “aposentadoria” de alguns e o afastamento de outros, só restavam dois veranistas: eu e o amigo Quincas Brito. Jogávamos com cabedelenses, entre eles portuários e filhos de pescadores. Improvisamos ainda outros campos, mas também os cabedelenses acabaram por nos faltar, gordos, envelhecidos ou levados por outras seduções. E o voleibol da Praia Formosa morreu. Obstinado, continuei jogando em outras areias, com outros parceiros, até que, aos 73 anos, meus joelhos não puderam mais corresponder ao esforço brusco dos pulos na rede. Ficou apenas a saudade.
O veraneio
Na verdade, o fim do nosso voleibol teve também a ver com o fim do sistema de veraneio. Nos velhos tempos, as famílias se deslocavam, entre dezembro e fevereiro, para praias mais ou menos distantes, e lá permaneciam até o início das aulas, em março. Não havia telefones. Como transporte, apenas o carro do dono da casa. Crianças e jovens nem cogitavam de qualquer programação fora dali, o que motivava uma convivência intensa e criativa entre rapazes e moças. Passeios coletivos e banhos de mar pela manhã, voleibol à tarde (para jogar ou assistir), bailes “assustados” à noite, serestas nas madrugadas. Surgiam amizades, floresciam os amores ao embalo dos sons mais repousantes que a natureza pode produzir: o farfalhar das palmas dos coqueiros e o rumorejo das ondas. Ao final da temporada, lágrimas e promessas de reencontro no ano seguinte.
Melhor prova não há das benesses de tal sistema que a minha família. Dos cinco irmãos, três encontraram suas companhias para a vida no veraneio de Formosa. Irmão mais novo, irmã caçula, e eu próprio, para o primeiro casamento. Para o segundo, e definitivo, tive a felicidade de conquistar veranista de praia pernambucana, Pontas de Pedra, que rapidamente entronizei em nossas paragens. Exímia pescadora, de corpo esguio e pele bronzeada, incorporou-se à minha querência. E a Praia Formosa a merecia.
Hoje, com telefones, vários carros ou motos para cada família, e o apelo dos “shows” para multidões, em casas noturnas das capitais, as condições para o encanto do veraneio desapareceram. As casas são visitadas nos fins de semana, ao longo de todo o ano, para libações frenéticas, mas sem a doçura da permanência, do despertar a cada dia ao sol de verão, da brisa ao luar, das serenatas sob as estrelas. E eu, que procurei transmitir aos meus filhos (e, até onde pude, aos netos) a familiaridade com o mar e as areias – jogos, pescarias, mergulhos – constato, com tristeza, que aqueles meses cálidos já não podem ter para eles o mesmo valor que tiveram para mim.
Formosa Serena
Com tantas mudanças, caberia a reflexão: o paraíso está perdido? Ainda não. Prova disso é a belíssima crônica de uma visitante ilustre, Marina Colasanti, publicada no Jornal do Brasil, em meados de 2006, e que hoje, reproduzida em “banner”, pende da parede da sala da casa de minha irmã Yara. Seu título: “O Justo Nome de uma Praia Formosa”. E ela sugere um complemento a esse nome – Formosa Serena – observando que lhe vai tão bem como laço em ponta de trança.
De fato, apesar do burburinho, e dos carros estacionados à beira da estradinha de barro, aos domingos, a semana toda é de sossego, afagos da brisa e canto de pássaros. O cruzeirinho branco, testemunha secular da devoção à Virgem Maria de uma senhora veranista cuja memória se perdeu, continua de pé. O mar, manso e acolhedor, aquém da linha de arrecifes, permanece o mesmo, seguro e piscoso. As passagens para o mar aberto – as “barretas” do Osso e do Farol – continuam lá, assim como o próprio farol, que orienta os navegantes desde o tempo do Império. As piscinas naturais, azuis e matizadas por peixes de todas as cores, na borda leste da Areia Vermelha (banco de terra que apenas se mostra na maré baixa), não desapareceram, embora tenham hoje acesso restrito, para evitar a depredação de levas de turistas. E até o campo de voleibol nos foi devolvido pelo mar, em seu recuo cíclico, após alguns anos. Só me dói saber que já não há ninguém para desfrutá-lo.
Não tenho mais fôlego para os mergulhos em apneia, nas barretas e nas locas da Areia Vermelha, perseguindo os meros que arpoávamos. (Aliás, a caça deles é hoje, corretamente, proibida). Mas pesco de caniço com minha mulher – sobre quem nunca levei vantagem – e com netos e sobrinhos-netos. Não há melhor programa para divertir velhos e crianças. Cada ano, passo mais tempo em minha querência: os meses de verão, fins de semana, grandes feriados. E qualquer dia me fixarei nela de uma vez.
E quando “a indesejada das gentes” chegar, a minha integração será completa. Não faço qualquer exigência aos meus que ficarem. Como disse o poeta Fernando Pessoa, “não tenho preferência para quando já não puder ter preferências”. De qualquer modo, seja diluído em cinzas no mar verde-azul, como já estão minha irmã mais velha e meu irmão mais novo, seja mineralizado e confundido com as areias do cemitério de Cabedelo, estarei de volta à “pátria da homogeneidade” de que falou Augusto dos Anjos. E, ainda segundo o poeta, “abraçado com a própria eternidade”, no regaço da Praia Formosa. Para sempre, Formosa!
***
Prezado Clemente,
Ao telefone com João Rego essa tarde, comentávamos sobre o clima pesado que vive nosso país. As consequências desse 4 de março transcendem a compreensão de todos nós e, mais do que nunca, desnudam as glórias efêmeras e as vanidades ocas desse mundo. Um contraponto às dádivas da natureza que você evoca.
Foi nesse contexto, enquanto ouvia a coletiva de Lula, que li com os dois olhos seu texto maravilhoso sobre uma praia onde passei um único e inesquecível veraneio na minha curta infância. Mais precisamente, na casa de meu tio Murilo Coimbra Pinto, médico em Campina Grande, e filho de Garanhuns.
Até o voleibol de fim de tarde era de regra; a tepidez da água acolhedora e límpida e, depois, o sono profundo que só o corpo dos jovens emplaca. No meu imaginário, Formosa tinha quase deixado de existir e nunca pensei que ficasse tão perto de João Pessoa. Mas como ir longe no litoral paraibano?
Quem gostará muito de seu texto será meu primo – e leitor de Será? – Flávio, casado com Virgínia, a primogênita dos queridos tios Nicinha e Murilo. Como eram boas as praias de jangada, sem o ronco irritante dos jet-skis e a boçalidade dos iates dos potentados. Feliz de você que se mantém ancorado.
Abraço,
Fernando
Incrível! Joguei voleibol na frente da casa do Dr. Murilo, de Campina Grande. Só pode ser o mesmo. Jogávamos de manhã lá, e de tarde no campo de Ponta de Matos. Belas lembranças.
Grato pelo comentário, Fernando. A nostalgia dos veleiros também me assalta. E a boçalidade dos donos de lanchas possantes também me revolta. Felizmente, eles param longe do meu pedaço de praia.
Parabens caro amigo Clemente. Mais uma qualidade que descobrimos em vc: ARTICULISTA. FORMOSA merecia e merece um destaque especial na vida dos que a frequentaram, como eu. Vc resumiu tudo. Valeu!
Adorei ler! Conhecer histórias bacanas de um pedacinho tão lindo, maravilhoso, tão nosso “caribe paraibano” praia Formosa. Pouco frequentei e frequento essa praia apesar de ter nascido e me criado onde moro até hoje na minha terra João Pessoa. Não tinha prestado atenção nesse paraíso como agora. Lembro muito das minhas amigas do Colégio das Neves que frequentavam seu mar azul turquesa, suas areias e um belo bronzeado no veraneio em suas casas. Todas chegavam no colégio após as ferias de dezembro até março de fazer inveja a qualquer mortal com marcas pelo corpo dos biquínis e maiôs comprado aos montes para as férias, cada semana era um novo. Contavam também sobre as badalações dos namoros, lual, rodas de amigos nos terraços das casas com churrasco regados a bebidas.. e caminhadas logo cedo e a tardinha para as bandas da badalada praia de Camboinha e também praia do Poço. Fui algumas vezes por lá onde frequentei a casa de veraneio da falecida e mãe de umas amigas do colégio a senhora Adalgisa Aquino uma mulher chique e educada que todos os anos passava as ferias escolares com suas filhas por lá. Muita gente que morava no Varadouro e centro de JP nessa época de colégio das Neves tinham casa no Poço, Camboinha e Formosa. Intermares nem existia para chegar lá era pela areia só surfistas que frequentavam como até hoje. Saudades desse tempo principalmente da praia do Poço casa de veraneio do irmão Zito que vinha todo os anos veranear de Brasília com os filhos pequenos.. hoje os filhos cresceram e mal consegue passar boa temporada aqui na terrinha. Agora sei porque Formosa sempre será formosa… é a generosidade de Deus. Sei que hoje é um dos lugares que estar sendo valorizado por belos condomínios de luxo. Eu mesmo agora vou dar uma passadinha para ver esse paraíso. Obrigado Clemente Rosas pela narrativa que despertou minha curiosidade depois de bons longos anos. Vou correr atrás do prejuízo de curtir essa maravilha… enquanto posso. Fico feliz com esse papo!!! Um amigo publicou no face Juiz do Trabalho Marcos Farias amigo da família a muitos anos,agradeço a ele. Fiz questão de abrir, ler e agora vou compartilhar com a família e amigos. Precisamos conhecer melhor nossa terra. Um abraço!!
Tio Clemente,como sempre me emociono com seus escritos. Linda descrição da nossa praia querida! E como você, meus pais também passaram a mim e aos meus irmãos, esse amor por Praia Formosa. E, mesmo fazendo parte de uma geração seguinte a sua, continuo veraneando lá. Passo todo o mês de janeiro lá, e tento passar ao meu filho, esse amor que temos por essa praia tão maravilhosa e familiar. Tenho certeza que ele dará continuidade a essa paixão, pois foi lá que meus pais se conheceram, como você citou anteriormente, e é lá onde sinto meu pai vivo. Obrigada! Um grande beijo da sua sobrinha, Sandra Rosas.
Lindo, para esta santista que ama o mar. Remeteu-me a umas páginas de Leonardo Padura sobre nostalgia (em Vientos de Cuaresma, Tuskets Ed. Mexico 2013. p.38) que começam assim: “Mentira, se dijo. La nostalgia no podía seguir siendo igual que antes. Ahora, a la altura de 1989, funcionaba como una sensación empalagosa y perfumada, cándida y apacible, que lo abrazaba con la pasión reposada de los amores bien añejados. El Conde se preparó y la esperó agresiva, dispuesta a pedir cuentas, a reclamar intereses crecidos con los años, pero un acecho tan prolongado había servido para limar todos los bordes ásperos del recuerdo y dejar apenas aquella sosegada sensación de pertenencia a un lugar y a un tiempo cubiertos ya por el velo rosado de una memoria selectiva, que prefería evocar sabia y noblemente los momentos ajenos al rencor, al odio y a la tristeza.”
Para além deste parágrafo, o que é sensacional nos livros de Padura é a maneira de integrar biografia e história.
Tio Clemente,
Me senti presente no seu texto, principalmente com relação à jangada Formosinha, da qual fui mentor, acredito que foi minha a sugestão do nome, embarcação que ajudei a planejar, acompanhei de perto a construção e era um dos principais comandantes da mesma. Assim como do voleibol, que joguei muito também, e no fim dos campeonatos, com um grupo de amigos, chamados inicialmente de pirralhos pelos cabedelenses, fomos três vezes campeões, e nas primeiras vezed usávamos como uniforme uma camisa emblemática com o escrito: não basta ser praia, tem que ser Formosa.
Obrigado, Sandrinha! Obrigado, amigos!
Que mais podemos dizer?
Também veraneava em formosa. Seu texto me levou as lágrimas de tanta saudade dos que já se foram. Minha lembrança sempre será eterna porém
Parabéns querido cunhado pelo lindo texto. Me sinto orgulhosa de fazer parte desta Querência. Gostei tanto , que já li três vezes , porque estou dentro dele em quase todos os momentos por vc citados.
Eita,e agora ,dizer o que ???? Só mesmo vc Clemente para fazer um texto tão profundo.Na realidade,se sensibiliza de uma forma mais contundente,quem viveu de fato por décadas,A PRAIA FORMOSA.Pois eh,morando em Campina,passava o ano todo esperando chegar dezembro,não pelo Natal nem tampouco pelas festas da virada,mas por chegar o tempo do veraneio,o tempo da praia,da praia Formosa. Não tinha conhecimento dos primórdios,como por vc relatados,mas vivi,acredito eu,os anos aúreos,os assustados,as pescarias,os jogos de voley em Ponta de Matos,os jogos e ate competições locais de frescoball,enfim…aquela praia significou pra todos nós uma infancia e uma adolecencia sadia e catedrática.Praia Formosa acima de tudo,foi mágica porque os frequentadores eram ano após ano,praticamente os mesmos e constituindo-se portanto,em quase uma só familia. Como esqueçer de D.Cremilda,de Seu Resende(o prático) e mesmo do Pititinga ???? Serei grato eternamente a todos que fizeram parte da FAMÍLIA FORMOSA e a vc Clemente,homem inteligente e que sempre admirei.
Clemente,
Só de ler os comentários de sua família nuclear e estendida – os filhos de Formosa -, saio com a convicção reforçada de que, no coração das pessoas de boa vontade, nada se compara ao prazer do texto literário. Diante da alquimia bem sucedida das palavras bem casadas, todos parecem reatar com uma alegria latente, dessas que pairam acima das discussões sem fim da pauta tóxica dos dias que vivemos. Foi bem inspirado seu último verão e espero que venham muitos mais. Já mandei o link para tio Murilo.
Abraço,
FD
Amigo Guarany: prazer reencontrá-lo nesta tela, após talvez meio século sem contacto pessoal. Obrigado, Rosemary, com minhas desculpas por não a estar identificando de pronto, apenas pelo nome. Gracias, Helga, pela proximidade que me fez sentir a Leonardo Padura, de quem li, recentemente, “El Hombre que Amaba a los Perros”. Obrigado, Gerusa, Carol e Mateusinho.
Caro Robson, não imaginava que meu texto pudesse chegar até você. Agradeço o depoimento. E para os que não as conheceram, apresento as personagens evocadas no seu comentário:
D. Cremilda era a minha tia solteirona, que nunca perdeu a alegria de viver, e, a cada Carnaval, nos brindava com uma caracterização surpreendente: a velha professora, de coque e óculos na ponta do nariz, Sassá Mutema (personagem de Lima Duarte em novela de sucesso), a pedinte que enganou boa parte dos amigos veranistas, e até o Marechal Castelo Branco (em pleno regime militar).
Seu Rezende era o funcionário da Marinha responsável pela operação do farol, o único habitante permanente da praia.
E Pititinga, o velho mestre de “Gaivota”, já longe o tempo em que, moço e forte como um touro, colocava sozinho um mastro de bote em seu furo, em alto mar, foi também um grande puxador de “samba de coco”, com quem aprendemos muitas “letras” que cantamos até hoje, em nossas noites de festa.
Só complementando e ponteando as melhores recordações de minha vida,eu cito o referencial maior daquela nossa praia…nossa sim e sempre será,é a famosa GAMELEIRA,pois foi simbolo e ponto de referencia………..toda e qualquer localização para os “estrangeiros” era Antes da Gameleira ou depois da Gameleira,e assim os turistas forasteiros localizavam algum ponto procurado.
Há pouco tempo,visualizei com tristeza o local aonde antes aquela majestosa
arvore,marcava presença ,sempre imponente…resistiu a tudo e até ao mar..acho que morreu de tristeza,pois seus filhos cresceram e de certa forma,abandonaram o lar,mas para mim,sempre que volto a passar por Formosa
ainda “vejo e sinto” a sua sombra.
Querido tio Clemente,
Que emocionante e belo texto sobre a nossa querida praia, que apesar da diferença de gerações, também é a minha querência!
Acho que pertenço a última geração que viveu e curtiu os deliciosos veraneios. Não tão intensos quanto os da sua época, pois o acesso à cidade já não era difícil e algumas vezes íamos ao shopping, cinema e alguns shows, mas ainda éramos uma turma numerosa, que se encontrava todos os anos neste período e vivia a “doçura da permanência”. Subíamos em arvores, andávamos de bicicleta pelas ruas de barro do que na época era o loteamento, fazíamos luais, assustados e nos reuníamos todas as noites na esquina para tocar violão, conversar, paquerar… Lamento não ter me embrenhado pelas matas de restinga, não ter conhecido o “pau de jangada” e nem mesmo andado em uma jangada de cinco paus, não ter conhecido e ouvido o batuque dos bombos de Pititinga e João Flor, dos quais meu pai tanto falava, mas fico feliz em ter vivido o melhor da minha época, e até hoje não considero que tive férias se não passar pelo menos vinte dias entre dezembro e janeiro em Praia Formosa.
Sei que a vida moderna leva as pessoas a se distanciarem e me entristece perceber como os avanços tecnológicos deslumbram as gerações mais novas, mas faço o possível para mostrar os encantos e passar o amor que sinto por esta praia a todos que me são próximos. No que depender de mim, manteremos as nossas festas, reuniões, nossa doce e tranquila convivência na Praia Formosa por muitos e muitos anos.
Robson, a gameleira, plantada no início do século XX por um amigo de família nosso que depois foi meu professor na Faculdade, e prefeito de João Pessoa, – Luiz de Oliveira Lima – ainda serve de referência, mesmo reduzida a um velho tronco seco. Está ao lado do marco comemorativo dos 100 anos da praia, construído pela Prefeitura de Cabedelo, em cuja inauguração tive a honra de discursar, em nome da família. Nele constam os nomes dos “founding fathers” Clemente Rosas (meu avô materno) e João Américo de Carvalho (bisavô paterno).
Patrícia, minha sobrinha bióloga (a “doutora das ariranhas”), fico feliz em perceber como as minhas evocações tocaram o seu coração. Perdemos Pititinga e João Flor, é verdade, mas nos resta o grupo de coco do Mestre Benedito, que sua mãe recebe, todos os anos, para dançar conosco.
Até o meu livro de ensaios político-filosóficos tem os textos epigrafados por “letras” de coco. Se depender de nós, a tradição não morrerá. Um beijo.
Que coisa leve senti após ler seu lin?ó texto.Formosa para mim foi mágica.La convivi com minha irmã M.Helena e família e fiz um amigo querido que nunca mais vi mas o sinto próximo como um irmão Você Clemente que sempre se destacou pela inteligência e cordialidade.D.Marcilia cantando sempre alegre.Teteu sempre com sorriso aberto.Eliana tão bonita e Yara uma pirralha.Com Nelson convivi pouco mas sempre muito cortes.Enfim Formosa Praia Encantada que prefiro guardar na lembrança de então. Grata meu amigo.
Não sei se perdi o que havia escrito.Continuo sofrendo de tecnofobia.Amei o texto.Me lembro de todos e de cada um de sua família.D.Marcilia sempre animada. Seu pai contemplativo.Teteu sempre de sorriso franco.Eliana bonitona e Yara uma pirralhinha loura.Nelson vi pouco mas sempre cortês. Foi uma vivência suave.Minha irmã M.Helena e família…Que tempo bom.A vida me deu um presente bom.Amigo como você que não vejo mas o sinto próximo como um irmão. Obrigada.Rememorar praia Formosa foi muito bom.