Com o país atolado na crise econômica, a entourage familiar do presidente da República se dedica ao esporte favorito da guerrilha verborrágica do astrólogo da Virgínia, propagando a intriga e o ódio, gerando instabilidade na própria base do governo. E o presidente, ainda perdido no poder, envolve-se pessoalmente nessa arenga ridícula, descolada dos graves problemas nacionais. Enquanto os brasileiros padecem do drama social do Brasil, com a violência, o desemprego e as carências dos serviços sociais, os ministros do Supremo Tribunal Federal usam o seu precioso (e muito caro) tempo em temas irrelevantes e em disputas personalistas, para não falar das decisões autoritárias e corporativistas, como a recente censura à imprensa. Diante da solitária iniciativa do ministro da economia para tirar o país do atoleiro fiscal, através da necessária e urgente reforma da previdência, a oposição esperneia, manipula e rejeita tudo, pensando derrubar o governo, ignorando o Brasil. E o “Centrão” barganha, chantageia e, finalmente, aceita e aprova qualquer coisa, desde que devidamente bem remunerado. Parecem todos alienados da delicada situação econômica, social e política do Brasil, isolados nos gabinetes e corredores palacianos, e descolados do mundo real. Padecem de uma cegueira cognitiva que os impede de perceber a gravidade da realidade brasileira e o perigoso processo de desmoralização das instituições. Inebriados com o poder e concentrados nos seus próprios interesses, não parecem interessados no futuro do Brasil e no cotidiano dos brasileiros. O país está desorientado, carente de lideranças e de propostas mobilizadoras, e as instituições públicas estão perdendo a credibilidade e a confiança da sociedade. Até quando?
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Embora ausente há bastante tempo dos comentários, tenho lido na medida do meu tempo disponível a Revista. Participo dessa mesma sensação de quase incredulidade diante de tanta incompetência, ignorância e irresponsabilidade do governo, enquanto se compromete o futuro do Brasil, em termos econômicos, culturais, ambientais e de direitos humanos, sem haver um movimento popular de oposição.
Porém, discordo da visão do Editorial de hoje quanto à PEC da previdência que sacrifica os trabalhadores rurais, as mulheres, os professores, em síntese a camada pobre da população, fazendo economia em cima dos trabalhadores.
Sou francamente contra essa reforma da previdência e acho que todos os que se sentem solidários com a população deveriam ser e marcar bem essa oposição.
En passant, num momento em que os países europeus se programam e assumem compromissões para sustar o aquecimento climático, é doloroso constatar a vissão mercantilista do governo,a ponto de liberar as áreas florestais protegidas e praticamente autorizar o desmatamento da Amazônia.
Excetuando esse Editorial que beneficia o programa econômico, tenho utilizado vez ou outra material da Revista no Direto da Redação do Correio do Brasil, onde oposição a Bolsonaro é franca e total, sem deixar qualquer margem de dúvida ou comprometimento.
Abraço, Rui Martins.
A análise da semana é, lamentavelemnte, lúcida e precisa. O país navega sem rumo, o Capitão literalmente esquece de olhar a bússola, ao desviar a atenção para tudo o que é detalhe, sem menor importância…enquanto isso a confiança no mercado cai, investimentos não ocorrem. E as consequências dessa inércia?
O sr. Rui Martins deveria informar-se melhor sobre a questão da nossa Previdência. A Reforma é absolutamente necessária e inadiável. Economistas descompromissados com qualquer vinculação partidária, como Sérgio Buarque e Jorge Jatobá, já ocuparam espaço aqui mesmo, nesta revista, para demonstrar, de forma brilhante e respaldada em dados numéricos irrefutáveis, como ela é inevitável.
Obrigado caro Clemente Rosas, mas eu sou um tanto renitente, mais ainda quando se tratam de questões sociais. Também não se trata de uma questão de falta de informação, mas de convicção.
Se acham ser necessária uma reforma da previdência, que a façam, porém, não nas costas do povo. Existem muitas outras maneiras de se evitar um rombo nas contas das aposentadorias. Uma das mais simples simples é a de taxar as fortunas privadas (não irá fazer falta aos afortunados) e as sucessões.
Esteja tranquilo estou muito bem informado sobre a estrutura social do nosso país e sua aberrante desigualdade.
Além das razões que coloquei no meu comentário, acrescento o absurdo da capitalização. Esse sistema, causa de suicídios de aposentados reduzidos à miséria no Chile, reduz a aposentadoria dos trabalhadores de baixa renda e sem o respaldo e garantia do Estado, pode reduzir a zero a aposentadoria no caso de falência da empresa encarregada da capitalização.
Mais uma pouquinho – esse governo de incompetentes já reconheceu que a economia gerada por essa reforma já foi sensivelmente revista e reduzida e, em dez anos!, o que pouco significa.
Se me permite, informe-se melhor e me dará razão. Nem aqui na Suíça, onde vivo, país capitalista, se programa reformas que aviltam as aposentadorias do pobres e os reduzem à miséria. Muito ao contrário, os apoios sociais aos menos favorecidos correspondem a verdadeiras bolsas famílias.
Desde a época de Zwinglio, no séculos XVI, a miséria popular não é tolerada. Infelizmente no nosso querido Brasil, não só faz parte da nossa cultura como é assimilada a banditismo e reprimida com violência.
Se essa reforma for aprovada como quer o presidente delinquente, aumentará a miséria e desta vez entre os que passaram sua vida trabalhando.
A única resposta para o seus questionamentos são os números.
O Editorial trata de fatos, fatos à vista de todos. A minha esperança é que os generais do governo, a parte mais preparada, sensata e democrática desse governo, sobrevivam às provocações e à sanha destruidora dos olavetes dentro e fora do governo. É assim mesmo, surreal, não me digam que defendo ditadura militar. Quanto à reforma da Previdência – e que não seja aguada demais – é imprescindível para evitar o colapso das contas públicas, a ponto de não haver mais dinheiro para pagar aposentadoria alguma. E é imprescindível para restaurar um mínimo de confiança dos investidores privados, dos quais depende a retomada do crescimento. É grossa mentira que a reforma apresentada por Guedes prejudique os mais pobres. E a discussão da proposta de capitalização, que ainda não foi apresentada, deve ser discutida em separado, é inviável na situação atual de déficit da Previdência, e apenas está sendo usada no momento, como o BPC, como desculpa esfarrapada contra a reforma. Não sei quem é Rui Martins, não sei se é o mesmo jornalista que tem um curso na França, que já trabalhou em muito jornal, inclusive na AFP, e que tem uma página de Facebook de defesa totalmente incondicional e apaixonada de Lula. Mas eu sei que alguém que se diz bem informado e compara a reforma da Previdência no Brasil com a reforma da Previdência na Suiça é risível. Se a oposição à reforma no Brasil não fosse uma tragédia bem brasileira. Aliás, para quem compara o Brasil com a Suiça, recomendo meu artigo antigo sobre Previdência aqui na Será?, que o Clemente nem lembrou. Não há país algum do mundo em que a desigualdade nos rendimentos recebidos a titulo de aposentadoria seja tão alta quanto no Brasil.
Como vê, prezado Rui Martins, informação já tive e tenho até demais, ao ponto de esquecer algumas fontes, aqui mesmo da Revista (desculpe, Helga!). E mais informação virá, com o retorno de Sérgio Buarque ao tema, em breve.
No momento, quero refutar dois pontos de seu comentário. 1)) A reforma proposta não vai levar nenhum pobre à miséria. Vai, sim, reduzir, para o futuro, o valor das aposentadorias dos servidores públicos de alta renda, os grandes privilegiados que estão capitaneando a oposição a ela, reduzindo a profunda desigualdade de tratamento atual. 2) Tributar as grandes fortunas é a mais falaciosa das alternativas manhosamente apresentadas, pelo simples fato de que não resolve o problema: tributam-se produtivamente FLUXOS, não ESTOQUES.
Encerro lembrando a lição de Camus, no livro “A Peste”, ao falar de seu personagem, o padre Paneloux, que se consumia em tentar justificar a epidemia que vitimava velhos e crianças, pecadores e inocentes em Orã, como desígnio de Deus: quando a realidade contraria as nossas convicções e não se conforma aos nossos desejos, furamos os olhos para não ver a realidade.
Obs – Não votei em Bolsonaro, nem formo no time dele. Mas qualquer candidato que tivesse ganho a eleição, teria de fazer o que ele está tentando, no campo específico da Previdência.
Também não sei quem é Helga Hoffmann. Curioso para conhecer quem me chamava de mentiroso e tentava desqualificar meus argumentos a pretexto de ser, ao que tudo indicava, um petista, corri ver na Wikipedia para saber quem era Helga Hoffmann, e me informaram ser uma atleta campeã mundial. Não vou dizer aqui que seus argumentos estão comprometidos por virem de uma atleta e não de uma economista, por não ser verdade, mas uma brincadeira que estou fazendo para baixar a temperatura. A Helga Hoffmann que vi, nascida em Sarrebruck, é outra.
Começo por aqui porque não saber de quem se trata mas, mesmo assim, definir politicamente a pessoa, taxar de um fanático e completar com a risível comparação com a Suíça, não é muito recomendável num debate.
Desculpe-me Helga (sou mais velho ou idoso que a senhora, posso me permitir esse tratamento) mas essa leviandade e superficialidade desqualifica seus outros argumentos. Como posso ter certeza de serem procedentes ou por assim dizer?
Esse tal de Rui Martins se exilou em Paris, na época da Ditadura Militar, e tem um master pelo Institut Français de Presse. Não sou petista, minha página no Facebook, minha coluna Direto da Redação no jornal carioca Correio do Brasil têm sido críticas do PT e do ex-presidente Lula, pela falta de uma autocrítica pelos erros cometidos.
Esta semana, meu texto que será também publicado na quarta-feira, no Observatório da Imprensa, reconhece a força de Lula na entrevista de uma hora e 50 minutos, depois de um ano de prisão. Numa comparação com o atual presidente, não há dúvida alguma Lula é superior e seus oito anos de governo foram bons para o Brasil, principalmente para o Nordeste.
Não é risível a comparação com a Suíça, porque o episódio que cito, a chegada de Zwinglio a Zurique, foi em 1519, quando a cidade vivia uma pobreza pior que a brasileira. Ali não fiz comparações com lei de previdência mas enfatizei o fato de mesmo sendo um país capitalista não se tolerar ali a miséria e nem se procura atrair as empresas privadas livrando-as de encargos sociais. Citei Zwinglio porque foi ele quem convenceu a cidade de Zurique a distribuir à população miserável a riqueza acumulada pela Igreja Católica, isso no séculos XVI, quase três séculos antes da Revolução Francesa, utilizando uma linguagem social que incluía proteção dos pobres, criação de escolas bem antes de Pestalozzi, e criação de uma Universidade.
Mas acho que qualquer comparação com outros países será sempre útil, na esperança de inspirar o governo brasileiro no sentido de diminuir a tremenda desigualdade social existente. Que o governo de Bolsonaro não parece interessado em solucionar, pois não houve nem mesmo a esperada revalorização do salário mínimo e, insisto, o atual projeto de Reforma da Previdência aumenta os prazos para se chegar à aposentadoria e pune mulheres, professores e trabalhadores rurais. A capitalização fazia parte do projeto inicial, tem sido rejeitada pela oposição mas não está de todo descartada.
Retornando à ridícula comparação com a Suíça, nela existe, ao mesmo tempo, a aposentadoria por tempo de serviço e por capitalização. No Brasil, existem empresas privadas que propõem a quem quiser, no caso pessoas de bom rendimento, a capitalização. Enfim, para vitaminar a economia, nada melhor do que aumentar o salário mínimo. A tão mínima bolsa-família funcionou na época de Lula e se fosse revalorizada teria efeito idêntico.
Os atuais empregos intermitentes e temporários, com os quais as empresas fogem da CLT ou leis trabalhistas, terão um desastroso efeito nas aposentadorias da população.
Caro editor Clemente Rosas vou ser breve, a longevidade da população provoca mesmo aqui na Suíça a necessidade de se rever a Previdência, mas sem afetar a possibilidade de vida digna para os idosos. Infelizmente não é o caso no Brasil, vamos falar a verdade, a escravatura ainda não foi de todo abolida. Basta se comparar (mesmo se comparações são proibidas)os salários mínimos nos países nórdicos com os salários mais altos depois de abatido o imposto de renda. Enquanto isso não for solucionado no Brasil não haverá justiça social.
O Brasil tem cinco séculos – tivemos a escravidão dos indígenas e dos negros, até Getúlio a classe trabalhadora vivia numa semi-escravidão. Vieram as leis trabalhistas, que não eram aplicadas no campo e as empregadas domésticas eram e grande parte continua vivendo em semi-escravidão. Não precisa recorrer ao Camus, vá até à rua e me diga se há uma repartição aceitável da nossa riqueza entre a população. Mas simples que Camus, há o ditado “mais cego é quem não quer ver”.
Se não houver réplica, prometo que paro por aqui.
Abraço a todos.
Não me parece que vale a pena réplica para mais um amontoado retórico. O Editorial se referiu à PEC, não disse que não há desigualdade no Brasil. A novidade é que agora finalmente se reconheceu que a atual Previdência social no Brasil é tão desigual quanto os rendimentos em geral. Lamentavelmente o velho jornalista nem ao menos sabe usar Google, ignora os detalhes, a tal atleta alemã não fala português. E eu vi, sim, no Facebook uma página de Rui Martins (um homônimo?) cheia de vídeos e entrevistas de Lula, o que em geral é irrelevante, só importa nesse debate porque o PT fechou questão, na Câmara, contra a reforma de Previdência, o que é o mesmo que fechar questão pela manutenção da desigualdade, e o que considero crime de lesa-pátria. Quanto às homônimas no Google, algumas delas têm ali obituário. Enquanto o obituário não seja o meu continuarei a explicar: É GROSSA MENTIRA QUE A PEC DA NOVA PREVIDÊNCIA PREJUDICA OS MAIS POBRES. Nem é tanto por mérito apenas dela: é porque a situação atual é de tamanha desigualdade que o simples aumento da idade mínima obrigatória já a torna menos desigual. Claro que o comentarista lá na Suiça não vai conseguir entender a afirmação. Ele já fechou questão. Explico que estou falando da PEC, que li. Essa não introduz mais desigualdade. Mas é claro que o lobby dos altos funcionários públicos é poderoso e assim existe o risco de o Congresso aprovar medidas que não sejam as mais justas. É só por isso que me dedico ao DOSSIÊ PREVIDÊNCIA.
Semana carregada, só agora me sobra um tempo para chegar aqui. Vou tentar ser breve. Divergir não constitui ofensa. Porém, a partir do momento que coloquei em dúvida um trecho do Editorial, virei alvo de ironias e críticas, felizmente não do nível das redes sociais, porém na mesma linha.
Minha ironia como brincadeira bem humorada, ao ser posta em questão minha identidade e minha formação, foi a de citar alguém da Wikepedia e isso bastou para ser considerado como alguém que nem sabe mexer com o Google.
Fico meio decepcionado com a revista virtual que me atraiu, na primeira vez que a vi, por seu dístico – Penso, logo duvido. Vamos pessoal, duvidem! Eu duvido que um governo neofascista como o nosso esteja oferecendo algo de bom para o povo, se em tudo o mais só tem retirado o bom e trocado pelo pior. Afirmar ser “grossa mentira que a nova previdência prejudica os pobres”, não é correto.
O debate virou retórico? Vamos então consertar isso e provar que a nova Previdência é uma maravilha e protege os pobres. Mas sem perder a paciência. Democracia é isso, alguns acreditam e outros descreem. Outros duvidam. Embora corra o risco de não entender daqui da Suíça o bordel em que virou o nosso Brasil, vou contar uma coisa, por aqui é muito normal se divergir sem que isso acirre os ânimos. Envio meu abraço a vocês todos, mesmo porque tenho lido muita coisa boa na Revista Será. E se eu tiver mais um tempinho irei apoquentar o Sérgio Buarque porque decididamente não temos o mesmo ponto de vista sobre essa PEC. E, pelo amor de deus ou zeus, não me cataloguem como petista por isso. E se tiverem também um tempinho, abram o concorrente Observatório da Imprensa, onde tenho alguns textos e o deste semana é também provocativo, minha marca de fábrica, tem o título Cristo apoiaria os evangélicos numa invasão da Venezuela? Quem sabe até poderiam publicar aqui! Outro abraço.