Editorial

O ano começou com a aventura militar de Donald Trup no Oriente Médio que, por pouco, não desencadeou uma guerra na região mais conflitiva e delicada do planeta, verdadeiro barril de petróleo e pólvora. O assassinato de alta autoridade de um país, como o general iraniano Qassem Soleimani, é um ato de guerra. E só não levou a um violento confronto militar de dramáticas consequências humanas, geopolítíticas e econômicas porque o governo do Irã sabe (e teme) que o presidente dos Estados Unidos é um personagem desvairado e arrogante sentado na maior máquina de destruição da história da humanidade. Depois de comemorar o assassinato de Soleimani e antes mesmo que o Irã tivesse revidado, Trump disparou intimidação afirmando que os Estados Unidos gastaram, no seu governo, dois trilhões de dólares em armamentos e que, se um único cidadão americano fosse atingido, destruiria 52 locais do território iraniano, incluindo áreas de grande valor cultural do país. Além da violência contida neste pronunciamento, o orgulho de Trump com o astronômico gasto militar representa uma agressão às condições globais de pobreza e demonstra a sua total insensibilidade com os enormes problemas sociais do mundo e, mesmo, dos Estados Unidos. Mais do que isso, um desprezo pelo patrimônio cultural e histórico da humanidade conservado no território da antiga Pérsia. Alguém poderia lembrar do Plano Marshall, através do qual os Estados Unidos financiaram a recuperação da Europa depois da destruição da Segunda Guerra, com a transferência de cem bilhões de dólares (a preços de 2018), um vigésimo dos gastos militares anunciados por Trump. Por que, em vez de fazer a guerra, os Estados Unidos não financiam o desenvolvimento dos países de menor desenvolvimento para reduzir as tensões no mundo? A resposta iraniana foi tímida e previsível, evitando uma escalada descontrolada. Houve também a pressão de aliados do Irã e, principalmente, a crítica de membros da OTAN-Organização do Tratado do Atlantico Norte, incluindo o primeiro ministro Boris Johnson da Grã-Bretanha. O governo brasileiro, mais uma vez subserviente aos Estados Unidos, divulgou uma nota criticando o terrorismo e justificando a agressão militar americana que levou à morte de Soleimani e mais doze pessoas. Ninguém duvida do fanatismo iraniano e da política de expansão do Irã no Oriente Médio liderada por Soleimani, mas nada justifica o assassinato de um general de um país soberano para “deter planos de futuros ataques iranianos”, como afirmou Trump. Mesmo porque, se esses planos efetivamente existem, não serão suspensos com a morte do seu comandante. A humilhação e o desejo de vingança dos iranianos devem crescer, e novos comandantes surgirão. Felizmente, por enquanto, as tensões estão congeladas. E quase todos os países do mundo pedem negociação e moderação das duas partes. Que sejam bem sucedidos.