José Rodrigues da Silva

Homem portinariano.

Recebi um telefonema de um amigo francês. “Zé! É verdade, Deus é brasileiro. Agora acredito”. Por que? Perguntei surpreendido com esta declaração de um agnóstico. “Ora porque, enquanto o mundo inteiro vive a coronavirus, vocês têm apenas uma gripezinha”.

Transferimos o bar da vila para nossas máquinas. Agora temos um bar digital. Na hora combinada, 10 da manhã, todo mundo comparece com sua pinga. Pau foi decidir o aplicativo. Uma semana de debates e testes. Funcionando, Almir, o vendedor de ovos, lançou uma aposta: Bolsonaro continua, contra tudo e todos, único no mundo, a pregar a volta imediata à normalidade, agora de maneira mais amena, com consequente crescimento da mortandade no país. Por que? Duas opções: (    ) porque é ruim por natureza; (      ) porque é ignorante e não está entendendo a situação ou (      ) por cálculo político, espera firmar sua base a ampliar seu eleitorado quando o desemprego, a falta de dinheiro e de comida apertar. “Não disse (dirá). A culpa é dos governadores, políticos, Congresso e a Globo (que virou a Geni. Joga pedra na Geni!)”. As respostas são aguardadas por meio da revista Será?

Zezinho, moto boy da vila, não quis entrar na aposta porque tem interpretação distinta: o homem quer completar a reforma previdenciária matando os velhinhos, é tudo combinado com o Guedes que, de esperto, saiu do Rio e veio para a vizinhança da vila.

E Lula? Está mais calado do que quando estava preso em Curitiba. Por que será? Os mais argutos da vila imaginam que ele pensa igual a Bolsonaro sobre a pandemia, mas não pode falar.

Ciro e Haddad cometeram uma necedade. Ao invés de pedir o impeachment do Bolsonaro pediram sua renúncia. Pedir renúncia a energúmeno é um elogio. E por que não pediram o impeachment?

Faz duas semanas que o governo fala em medidas de proteção aos informais, empreendedores individuais, microempresários e desempregados. Na vila – onde temos todos estes tipos – estamos fazendo uma pesquisa: quem já recebeu alguma coisa? Até agora nada. É só discurso.

O governo federal para diminuir a visibilidade do ministro da saúde mudou o formato dos comunicados. Ao invés do ministro com seus auxiliares, agora é ele com outros ministros, sob a batuta do general da casa Civil. Hoje, botou Guedes e Moro para lhe fazer sombra. Só falta a Regina Duarte, dizem por aqui, porque não está adiantando esta medida do Presidente.

Há idosos na vila que não ficam em casa. Seus argumentos são estranhos: “Já vivi muito, não me importo de ir”; “Não acredito em coronavirus, nunca vi”; “Histeria, já passei por tanta coisa pior”; “Até que enfim posso andar na rua sem ser perturbado” e “É melhor sair do que morrer em casa com aquela mulher que não para de falar”. Machista sempre tem neste país. Não são todos bolsonaristas, previno.