“Seja sempre poeta. Mesmo em prosa”.

Charles Baudelaire.

 

O que liga o Nobel ganho pela húngara, Katalin Karikó, e pelo americano, Drew Waissman, à Nona sinfonia de Beethoven ? A inovação.

Beethoven nasceu em 1770. E se encantou em 1827. Produziu, entre outras peças, nove sinfonias, sonatas, quartetos. A estreia da Nona ocorreu em 1824. Naquela época, o nacionalismo conservador dominava a Europa. Com a monarquia dos Bourbon, dos Habsburgos, dos Romanov. A Revolução Francesa de 1789 tinha ficado atenuada pelo cetro Napoleônico. E, por outro lado, cercada pelos monarcas redivivos na Áustria e na Rússia.

Mas, a chama do Iluminismo e seus filósofos deitara raízes fundas na cultura do continente. E semeado o surgimento nas artes de talentos como Byron, Pushkin, Delacroix, Stendhal. A pintura, a literatura, a música estavam impregnadas da aragem pré-moderna que começava a soprar.

Pois bem. A Nona é uma composição revolucionária. Constitui peça das mais inovadoras da música mundial. Primeiro porque o autor introduziu o canto no último movimento. Até então não se ouvia a voz humana em sinfonias. Segundo porque o canto é um poema musicado de Schiller. Outra inovação. Terceiro porque, da forma como se harmonizaram, poema e música, é como se acontecesse um diálogo com o ouvinte.

Sim, porque antes da Nona, não havia desdobramentos verbais. A narrativa não tinha palavras. A composição sinfônica se mostrava por progressões puramente musicais. Einstein disse: “Em sua ousadia de expressão, a Nona sinfonia lança uma ponte sobre abismos de desespero para a reconciliação da humanidade no amor fraterno”. Aí está a transcendência Beethoviana.

Por sua vez, a vacina contra a covid foi uma vitória da coragem de inovar de laboratórios. Diante da iminência da tragédia que assolou os humanos. Faço, aqui, breve parêntese. Inovar é fazer diferente. Se você quiser alcançar os mesmos resultados que vem obtendo, continue a fazer do modo conhecido como habitualmente faz. Agora, se você quiser chegar ao novo, à invenção, à inovação, faça de modo diferente. Por outro caminho. E, aí, você alcançará resultado improváveis. E desejados.

Era o que eu dizia sempre aos meus alunos. Inovação também é coragem. De fazer diferente. Às vezes, contra a opinião da maioria. E dava exemplo de Steve Jobs. Que dispensou placas de chefia, mesas com cabeceira, paletós e gravatas. E encheu as paredes de telas coloridas e estimulantes.

No caso da vacina da covid, a pesquisadora Katalin Karikó lutou durante vinte anos para se fazer acreditar. Ela queria inovar. Não conseguiu sequer publicar artigos científicos em revistas acadêmicas. Só avançou porque seu colega, também premiado, compartilhou da fé no caminho alternativo.

Por isso, como disse Baudelaire, poetize. Mesmo em prosa. Pode dar certo.