
Lula na ONU
Ao subir na tribuna da ONU, hoje, o presidente Lula tinha um tamanho. Ao sair, estava maior. Ao subir na tribuna da ONU, hoje, o presidente Trump tinha um tamanho. Ao sair, estava menor.
Por que ?
O presidente Trump dirige o país mais poderoso do mundo. Sua responsabilidade política é equivalente ao quilate de sua economia. De seus recursos militares. Seus avanços tecnológicos. E seus espaços comerciais. Seu discurso na ONU, portanto, deveria refletir essa latitude. Não foi o que ocorreu.
Ele falou sobre si. Sobre seu poder pessoal. Suas conquistas administrativas. Suas vitórias econômicas. E discorreu sobre o que, na sua opinião, acontece com os erros de países europeus. Na política de imigração. Na política ambiental. E na política digital.
Ou seja, ele não arriscou solução para nenhum dos grandes problemas que afetam a economia global. Não se desincumbiu da tarefa que lhe cabe. Ao concluir sua fala, o presidente Trump era uma formiga. Apequenou-se. No fundo, como disse um comentarista, ele fez um discurso antiamericano.
Por sua vez, o presidente Lula tinha um desafio protocolar: reagir ao ataque tarifário que os Estados Unidos fizeram ao Brasil. Sem razão. Porque o Brasil é deficitário no comércio com eles. Pois bem. Tratava-se de reagir na medida certa. Com régua e compasso. A régua da sensatez. E o compasso da firmeza. Foi o que o presidente Lula fez. Sem agredir, sem citar o nome de Trump, repeliu a agressão ao país. E acentuou que soberania nacional não se troca, não se vende, nem se dá.
O presidente Lula também destacou a necessidade de se alcançar as metas de equilíbrio climático; a urgência de se combater a fome na África; a oportunidade de se concertar uma solução para os conflitos na Europa e no Oriente; a conveniência de se fortalecer o multilateralismo. Fez o que o presidente norte-americano devia ter feito. O contraste produziu uma inversão de valores: o presidente Trump parecia dirigir um país médio. Sem escala no gênio da engenharia global. E o presidente Lula parecia presidir um país com alcance mundial. Focando questões essenciais ao futuro da humanidade.
Há um aspecto importante no discurso do presidente brasileiro: o profissionalismo do Itamaraty. A formulação do texto presidencial é de notável precisão conceitual. Porque vinculou a noção de diplomacia nacional com o valor da democracia. E, ao fazê-lo, os diplomatas, que elaboraram o discurso presidencial, deram uma aula. De rigor diplomático. E de lógica política.
Ao associar diplomacia e política, os autores do discurso reforçaram a relevância da diplomacia como instância de resolução dos problemas. E ao reunir lógica e democracia, os autores do discurso reforçaram o valor da democracia como forma de convivência. E de construção social.
Penso que os diplomatas brasileiros deram, hoje, uma grande contribuição à arquitetura das relações globais. Desenhando um painel no qual os valores da diplomacia e da democracia convergem. No vértice dessa convergência, peço para colocar a terceira peça: a soberania. Aí estará completo e íntegro o argumento do discurso presidencial.
Se o presidente Trump, saindo um pouco de si próprio, lesse o discurso do Itamaraty, enriqueceria sua tática política. Tão ousada. E tão pobre.
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